Na edição desta sexta-feira (13) do programa Boa Conversa, os jornalistas Marcos Vinícius, Astério Moreira e Luiz Carlos Moreira Jorge comentaram os principais assuntos da semana na política do Acre como o acirramento da disputa entre o Tribunal de Contas do Estado (TCE-AC) e o governo do Acre.
Um dos principais tópicos discutidos foi a repercussão da reportagem exibida no último domingo (08) pelo programa Fantástico, da TV Globo. Com cerca de oito minutos de duração, a matéria escancarou as condições precárias da Escola Limoeiro, localizada no município do Bujari, e questionou a efetividade das políticas públicas de educação rural no estado.
A reportagem provocou forte reação do TCE-AC, que chegou a recomendar o afastamento do secretário estadual de Educação, Aberson Carvalho. A recomendação foi contestada judicialmente e posteriormente negada pelo Tribunal de Justiça do Acre (TJAC).
Durante o programa, o colunista político Luiz Carlos Moreira Jorge criticou a atuação do TCE ao sugerir o afastamento de Aberson Carvalho. Segundo ele, a Corte de Contas ultrapassou os limites constitucionais de sua competência. “Até aquele advogado que não é formado, que fazia faculdade na porta da delegacia, sabe que o Tribunal de Contas do Estado não tem competência para afastar ninguém. Eles se basearam em um pré-julgado do Supremo que trata de uma cautelar para evitar desvio de recursos, mas é uma situação totalmente diferente. A decisão do Luiz Camolês não causou surpresa a ninguém da área jurídica. Conversei com advogados, desembargadores e juízes — todos disseram a mesma coisa: o TCE não tem competência para afastar autoridades”, afirmou Luiz Carlos.
O jornalista Marcos Vinícius comentou declarações do secretário de Educação, Aberson Carvalho, sobre o volume de projetos prontos e a busca por apoio institucional. “O Aberson falou que existem mais de R$ 180 milhões em projetos e pediu ajuda da bancada federal. São R$ 180 milhões em projetos, mas está faltando dinheiro. Aí é que está a questão. Ele pediu apoio das instituições, dos poderes, em parceria com as prefeituras também”, relatou Marcos.
O jornalista destacou ainda que há resistência da bancada federal em liberar recursos diretamente para a Secretaria de Educação, uma vez que há preferência por destinar os repasses diretamente aos municípios. “Já percebi uma resistência da bancada em liberar verba para a Educação estadual. Eles querem que os recursos vão direto para os municípios. Na cabeça dos deputados, os municípios já têm poucos recursos e, claro, tem a questão dos votos. Eles enxergam os votos nos municípios e querem fortalecer essas bases. Estamos apenas tentando lançar uma luz sobre essa disputa, porque há claramente um confronto de narrativas em andamento”, afirmou.
No programa Boa Conversa, os jornalistas discutiram a atual crise dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) no Acre. O principal foco da tensão seria a resistência do ex-senador Jorge Viana à candidatura de Cesário Braga à presidência estadual da legenda. Segundo o jornalista Astério Moreira, há mágoas antigas entre os dois líderes.“Uma matéria de 2017 mostra que o Cesário estava pronto para assumir a presidência do PT, mas houve um complô e colocaram o Daniel Zen no lugar”, relembrou Crica ao se referir a um conteúdo publicado por Marcos Vinícius.
O episódio não seria isolado. Em outro momento, Cesário teria sido cotado para assumir a superintendência do Incra, mas, novamente, Jorge Viana teria barrado a indicação, o que ampliou o racha interno. Segundo os jornalistas, o motivo do rompimento seria a disputa pela candidatura ao Senado em 2022. Jorge Viana queria ser o único nome do PT na corrida, mas a ala da chamada “democracia radical” — liderada por militantes como Carioca e Cesário — lançou outra proposta de composição que contrariou o ex-senador, contribuindo para sua derrota.
“Agora o Jorge não quer mais saber do Cesário. Chegou a dizer que não participará do processo se ele for candidato. E tudo indica que será”, afirmou Astério.
A eleição para a presidência estadual do PT está prevista para a primeira quinzena de julho, e o impasse se acirra. Questionado sobre o desfecho, o ex-deputado Daniel Zen teria dito apenas que são “duas cabeças quentes”, indicando que o clima é de tensão permanente.
Os jornalistas também revelaram que Jorge Viana estaria apoiando o nome do vereador Kamai para a presidência do diretório estadual. Segundo fontes internas do partido, o ex-senador estaria buscando um nome de confiança para liderar o PT no Acre — e Kamai seria sua escolha pessoal. “Na última postagem dele, Jorge escreveu que está procurando um nome para trabalhar. Está claro que ele não quer o Cesário”.
Durante o programa Boa Conversa, os jornalistas discutiram os desdobramentos de uma grande operação de fiscalização conduzida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri. A ação expôs supostas irregularidades cometidas por produtores rurais, que estariam desmatando e ocupando áreas protegidas ilegalmente.
O jornalista Astério Moreira comentou a complexidade da situação, lembrando que muitas das propriedades hoje consideradas irregulares foram formadas ao longo de décadas:
“Ninguém forma pasto da noite para o dia. Leva 10, 15, 20 anos ou mais para construir uma propriedade. Nós conhecemos a área, aquilo era floresta. Então, é equivocado colocar tudo na conta do governo Bolsonaro. Essas propriedades começaram a se formar durante os governos anteriores — Dilma, Temer — e foram sendo consolidadas ao longo do tempo.”
Astério apontou que a ação de lacrar e interditar propriedades consolidadas há décadas pode ser vista como uma forma de violência para os que vivem ali:
“Você chega em um local onde o produtor já está estabelecido há 50, 60, 70 anos, e toma tudo? É uma medida muito dura. Não estou dizendo que pode desmatar dentro de reserva, mas isso tem que ser analisado com cautela. É uma situação difícil.”
O jornalista também criticou a atuação tardia dos órgãos ambientais, especialmente do Ibama, sugerindo que houve omissão por parte das autoridades ao longo dos anos: “O Ibama só agora aparece com força, mas onde estava antes, quando essas propriedades se formavam? Foi omisso. E agora chega e quebra tudo. Isso gera insegurança. Não se trata de defender o desmatamento, mas de entender a origem do problema.”
Durante a edição do programa Boa Conversa, o jornalista Luiz Carlos Moreira Jorge avaliou o cenário político para as eleições do próximo ano e afirmou que ainda não há definições claras sobre a possível disputa entre a governadora Mailza Assis e o senador Alan Rick. “Não temos nada definido. Há um projeto de fusão entre o MDB e o Republicanos, outro envolvendo PSDB e Podemos, e também a federação entre PP e União Brasil, mas nada disso foi aprovado pela Justiça Eleitoral. Então, como diz o ditado, ainda vai passar muita água por baixo — e por cima — da ponte”, declarou o colunista.
Outro tema abordado no programa Boa Conversa foi a caravana realizada na BR-364 na última semana. Segundo o jornalista Marcos Venícius, o superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) no Acre, Ricardo Araújo, estaria politicamente isolado. “O fato é que eu, pelo menos, não vejo uma união séria em torno da pauta da BR-364, como acontece em Rondônia ou no Amazonas. Volto a repetir: o Ricardo Araújo é um estranho no ninho. Ele não tem culpa disso, mas é como se a classe política não gostasse dele. Existe uma espécie de rejeição”, afirmou Marcos Venícius.
Os apresentadores também debateram o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes. Durante a discussão, o jornalista Marcos Vinícius destacou a postura de Bolsonaro ao se referir aos próprios apoiadores.
“Ele chamou os patriotas acampados de malucos. Ou seja, criou monstros que agora vai ter que engolir”, afirmou Vinícius, em referência aos atos antidemocráticos e às consequências políticas que o ex-presidente enfrenta.
VEJA O VÍDEO:
