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Diário do Acre: Transacreana, km 80 e Rio Branco

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Lisiane mandou mensagem cedinho avisando que estava pronta, disse que iríamos dar carona para a Luana, filha do professor Walter, que estava voltando de um encontro da CONTAG. Na correria, ela não havia comprado uma lembrancinha para seu filho e nos fez parar no caminho para não deixar passar em branco. Na Baixada, encontramos Paulo Brasil e juntos começamos nosso trajeto pela Transacreana.


Entramos na vila Manoel Marcos para buscar o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Extrativistas e Assemelhados (SIMPASA) nosso companheiro Josa, que ainda estava terminando de se arrumar, a chuvinha da noite anterior deixou o ramal um pouco melado, problemas cotidianos para quem vive na zona rural, no Acre.


Paulo Brasil estava animado, já presidiu a associação Itamaraty I anos atrás, lembrou quando o Incra ainda estava cortando a terra. Há alguns anos vendeu sua propriedade, disse não se arrepender, mantém contato sempre com todos, mas a vontade de rever os amigos parece sempre contrariar as afirmações.

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Uma equipe mexia no asfalto da Transacreana, castigado pelo tempo e pela falta de manutenção. Nossa viagem era até o km 80, combinamos de tomar café com professor Walter. Chegamos e o café já estava posto a mesa. Corri no pão de milho e completei com leite de castanha, o casamento perfeito para um quebra jejum de respeito.


Professor Walter estava animado com nossa chegada, o dia era de eleição na comunidade da associação Itamaraty I e mais uma vez ele recebeu da comunidade a responsabilidade de cuidar dela. Antes de irmos, contou um pouquinho de como foi sua despedida da escola, depois de muitos anos de trabalho e dedicação, o professor se aposentou.



Chegamos e a associação ainda estava fechada, a chuva do dia anterior não dava muitas esperanças do povo todo vir. O ramal estava bem castigado, fomos esperar ao lado em uma cobertura. Devagarzinho o povo começou a chegar, a maior parte na carroceria de uma bandeirante, a bruta encara qualquer desafio. Uma bandeirante com pneus bons é capaz de subir até em árvore.



Enquanto o povo ia chegando, jogávamos conversa fora. O clima era tão bom que vou lembrar em verso e prosa.


Na roda que eu estava uns já diziam: quem tiver com a conversa irregular, é melhor ir colocando em dia.


Paulo Brasil e professor Walter eram só nostalgia, dos tempos que a associação era tudo que eles tinham.


Aqui juntava muita gente era tudo no mutirão, sobrava companheirismo e nunca faltava o pão.


Observava atento aquela discussão, me peguei imaginado como era linda a comunhão.


Um companheiro falou alto, já fez logo uma proposta. A próxima tem que ser festa todo mundo vem, todo mundo gosta.

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Se é pra ter reunião, nada melhor que churrasco e um forró. Quando falaram de doar um bicho, olhei pros lados e já estava quase só.


Era um olhando para a cara do outro, atrás da novilha. Fui saindo de fininho, vai sobrar para a visita.



Já era quase hora da boia e o professor chamou para começar. O Sindicato e a Federação juntos para ajudar.


Depoimentos e falas fortes falavam da importância, uma associação organizada é símbolo de bonança.


Depois da foto oficial e do presidente eleito discursar, refrigerantes e bolachas pra todos que estavam por lá.


Botei umas bolachas no bolso, ninguém sabia se iríamos almoçar. Melhor sempre prevenir do que remediar.


O salão foi ficando vazio, conforme o povo já ia. A chama da esperança com todos seguia.



Já estávamos de saída, Walter avisou pra parar em sua casa. Um feijão com calabresa na mesa já nos esperava.


Na estrada, no rumo de casa com sentimento de dever cumprido. Sabíamos que esse era só um pequeno passo para o grande desafio.


Organizar os trabalhadores e promover consciência de classe. É a missão de todo dia desde a hora em que o sol nasce.


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