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Diário do Acre: Comunidade Mato Grosso e Epitaciolândia – Parte l

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O pão quente na sacola tinha acabado de sair do forno, quando busquei o Messias em sua casa. “Vamos encostar primeiro na casa da Dona Odiza. Não avisei que íamos, mas, sempre tem ovinho caipira pro café”, afirmou Messias, enquanto seguíamos para o quilômetro 32. Entramos no Porto Rico e seguimos até a Piçarreira, onde começamos nossas visitas.


Dona Odiza estava ajudando seu filho Júnior a arrumar a casa. Messias já foi perguntando pelo Davi. “Estamos morando na outra colônia”, afirmou dona Odiza. Junior se casou e, agora, ele é quem cuida daqui. Em uma sombra no terreiro foi servido o café, enquanto conversávamos sobre a comunidade. “Venha para um almoço”, me convidou dona Odiza, “vou matar uma galinha”, acrescentou. Eu, claro, já deixei marcado na agenda.


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Seu Bené amolava tranquilamente o motosserra para tirar lenha quando chegamos, reclamou que não tá dando mais de cozinhar no gás e o jeito é ir pra lenha. Professora Odaiza que tinha acabado de chegar do leite, nos ofereceu um café. Só uma água gelada está bom, o bucho ainda está cheio, comemos na Odizia.


De longe avistamos o Davi, messias já chegou alugando. Davi nos mandou subir e serviu um pretinho. “Tô me batendo com essa colônia aqui agora, mas não tá fácil”, nos contou Davi. O ramal sempre é pauta em qualquer conversa, pelo menos esse ano o negócio tava melhor. Messias viu uns ouriços de castanha e desceu pro terreiro para abrir no machado quase não dava conta, pra quebrar castanha tem que ter a manha.



Seguimos para o ramal laranjeira. Dona Raimunda nos serviu uma água trincando os dentes, enquanto nos falava que o Renis não estava em casa. Deixe um abraço e avise que depois voltávamos. Um corredor estreito com mato na altura do gogó é o caminho para a casa do Marcos, mas, em casa só estavam os cachorros, um deles, novinho, tava cheio de espinhos de um ataque de Cuandu, o chamei pra tentar tirar os espinhos, mas ele não me deixou aproximar.


Um pouquinho adiante, dentro de um lindo pomar se escondia a casa do seu Raimundo, contava histórias que fazia gosto ouvir, um homem positivo que só fala a verdade, contou-nos uma de quando morava na cidade, numa área que era só o gapó.



Raimundo nos contou que, certa vez, um político conhecido prometeu aterrar parte do bairro [que ele morava] caso a comunidade desse a mão de obra. Alegres, todos se comprometeram, mas, o material nunca chegou. Na eleição seguinte, o mesmo camarada procurou seu Raimundo, que não se fez de rogado. Antes da conversa começar, apontou pro cachorro no terreiro e disse: “nesse aqui eu até voto, já em você, nunca mais”, e botou o cabra pra correr do quintal.


“A palavra é a moral de um homem”, me disse olhando nos olhos. “Não se fazem mais homens como antigamente”. Guardei a lição no coração e, enquanto saiamos, ele nos ofereceu dois cupuaçus.



Um milharal marcava a fronteira do sítio do Aldenor, que orgulhoso de seu plantio, fez questão que visitássemos todo o sítio. Me fez provar a água cristalina do poço, arrancar um ananá pra levar, queria que fôssemos tirar macaxeira e que ficássemos por lá, mas ainda tínhamos muitas visitas. Agradecemos e seguimos na caminhada.


Dólar e dona Raimunda estavam chegando em casa quando encostamos, estavam no vizinho ajudando a matar um boi, traziam os mocotós para um caldo e alguns miúdos como pagamento pela ajuda. Raimunda pediu pra esperar que já ia colocar o almoço no fogo. Dólar nos mostrou feliz a casa que ainda estava passando por uma ampliação. Antes de nos despedir, passamos na casa de farinha onde o irmão do Dólar torrava uma farinha d’agua, não gosto de farinha d’água, mais tem quem goste!


Bem pertinho paramos na casa da Fran e do Cláudio, onde ainda estavam destrinchando o boi. Cláudio com um machado era o magarefe, separando a carne com osso. A novilha era pra despesa de casa, afirmou a Fran. Messias perguntou pelo Marcos, aproveitei e contei a história dos espinhos de Cuandu. “Hoje não apareceu. Mas, ontem ele passou e disse que estava tentando tirar os espinhos dos cachorros, pelo jeito só faltou de um”, disseram.

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Já era quase meio-dia quando seguimos para o ramal do Matogrosso, a barriga roncava e a cabeça só pensava nas boas histórias que ouvimos e nos novos amigos que fizemos. Agradeci a Deus por tudo, enquanto pensava que em meio às dificuldades da vida, devemos sempre seguir em frente trabalhando por dias melhores.



Cesário Braga escreve todas às sextas-feiras no ac24horas.com


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