Francisco Dandão
Nas peladas de rua da infância, na pequenina cidade paulista de Santo Expedito, a mais de 600 Km de São Paulo, na primeira metade da década de 1960, o menino José Aparecido Pereira dos Santos era sempre o primeiro a ser escolhido, uma vez estabelecido o “par ou ímpar”. E logo, talvez pela mirrada compleição física, ele passou a ser chamado simplesmente de Nino.
A extrema habilidade da jovem promessa de craque lhe rendeu um convite para jogar nos profissionais do Corinthians, de Presidente Prudente, cerca de 40 Km. distante da sua cidade natal. Corria o ano de 1969 e ele, que nasceu no dia 19 de abril de 1955, mal havia completado 14 anos. A oportunidade para voos mais altos estava nas mãos. Era só ele aproveitá-la.
Dois anos depois, em 1971, a fama do menino se espalhou pela região e o Guarani, por intervenção dos técnicos Ladeira e Zé Duarte, levou-o para Campinas, onde ele passou a alternar exibições pelo time juvenil e estadas no banco de reservas na equipe principal. Nessa situação ele permaneceu até 1973, quando assinou contrato para fazer parte do elenco titular do Bugre.
A estréia na ponta direita do time de profissionais do Guarani, num domingo de lotação esgotada no Estádio Brinco de Ouro da Princesa, foi justamente contra o poderoso Santos, da Vila Belmiro. Do outro lado do campo, Nino via ninguém menos do que Pelé, Clodoaldo, Cejas, Marinho Peres, Jair da Costa… Uma constelação. O Guarani perdeu por um a zero.
Reserva e ciranda de empréstimos
Nino não jogou o que os diretores esperavam dele na estréia contra o Santos. E, então, depois de passar uns dias na reserva, ele acabou sendo emprestado para o Velo Clube, de Rio Claro. Ficou alguns meses, mas no mesmo ano voltou para o Guarani, onde permaneceu apenas treinando. Jamais recebeu outra chance de atuar entre os titulares bugrinos.
Em 1974 começou o que Nino chama de virada na sua trajetória de vida. Ele foi emprestado para disputar o campeonato da segunda divisão de São Paulo pelo Fernandopolense, da cidade de Fernandópolis. A tal virada aconteceu porque ele resolveu que deveria obter uma formação superior. E aí ele foi cursar educação física, em Santa Fé do Sul, vizinha a Fernandópolis.
Ao terminar o empréstimo para o Fernandópolis, Nino nem chegou a esquentar o banco do Guarani. Ele passou direto para o paranaense Londrina, onde jogou as temporadas de 1975 e 1976 e aproveitou para concluir a sua licenciatura em educação física. “Foi uma época boa, no Londrina. Foi formado um timaço e eu era titularíssimo”, disse o ex-craque.
Nova volta ao Guarani em 1977. Ao chegar, porém, ganhou passe livre. Nino foi jogar no Pinheiros-PR. Ao fim do campeonato paranaense, ele ficou sem clube. Chegou a disputar dois amistosos pelo América-RN, mas acabou voltando para sua cidade natal, onde ficou por todo o ano de 1978, dando aulas e cursando especializações na sua área.
Um caminhoneiro indicou-lhe o rumo do Acre
Um senhor de nome Sílvio Ferreira, que fazia transportes num caminhão de São Paulo para o Acre, indicou-o para o Rio Branco, que se preparava para a disputa do Copão da Amazônia de 1979. Edmir Gadelha, dirigente do Estrelão, comprou a ideia. Nino formou um ataque arrasador com Eli e Irineu e o time acreano sagrou-se campeão, em Porto Velho-RO.
A experiência com a camisa do Rio Branco durou somente uma temporada. Nino não queria apenas ser jogador de futebol. Ele queria também exercitar o objeto da sua formação acadêmica. Foi aí que surgiu uma proposta irrecusável do Juventus: um salário para jogar e dois empregos públicos, sendo um no Governo do Estado e outro na Funbesa.
O ponteiro ainda desfilou seu talento por três anos nos gramados acreanos. No final de 1982 parou de vez. Aí virou técnico. Comandou três times do futebol acreano: Internacional, Independência e Rio Branco. Neste último se sagrou campeão de 1994. E ainda levou o estrelão à segunda fase da Copa do Brasil de 1995. Foi a sua última participação como treinador.
Depois de parar com o futebol profissional, Nino fez um concurso para a docência na Universidade Federal do Acre (Ufac), onde permanece até os dias atuais. Prestes a requerer sua aposentadoria do serviço público, ele confessou que gostaria de voltar a ser treinador. “O futebol sempre me fascinou. Se aparecer um convite, eu topo na hora”, garantiu o ex-craque.
Fonte: Associação dos Cronistas Esportivos do Acre