O Acre é um dos principais alvos de investigação da Comissão de Combate a Exploração sexual de Crianças e Adolescentes da Câmara Federal. Uma denúncia de abuso sexual de menores na base do 61º Batalhão de Infantaria de Selva (61º BIS), no município de Marechal Thaumaturgo suscitou o pedido de investigação de exploração sexual nas fronteiras do Estado com o Peru e Bolívia.
A presidente da Comissão, Erika Kokay (PT/DF) anunciou em sua última visita ao Estado, que teria recebido denúncias do envolvimento de militares do exército na prática de pedofilia e abuso sexual de menores. A reportagem de ac24horas teve acesso ao material da denúncia, com um relato do denunciante, além de fotos da presença de meninas na base do 61º BIS.
Segundo a denúncia apresentada à Comissão, no dia 28 de setembro por volta das 23h, aconteceu uma festa na base do 61º BIS, no município de Marechal Thaumaturgo, “onde havia mulheres maiores e menores de idade, ingerindo bebida alcoólica”. O denunciante disse que o fato chegou ao conhecimento do Tenente-coronel Alexandre Guerra, comandante do 61º BIS.
A festa foi interrompida e os militares teriam questionado as meninas que participavam, sobre quem seria o autor da denúncia, que estaria hospedado em um hotel da pequena cidade do interior. O bancário que formalizou a reclamação ao comandante do 61º BIS foi procurado no dia seguinte por mulheres que mantinham relação com os militares envolvidos nas festas sexuais.
O denunciante revela ainda o abuso de autoridade dos militares. “Durante os quatros dias que fiquei ali, todos os dias, as mulheres iam ao hotel a minha procura. No dia 2 de outubro, ao retornar para Cruzeiro do Sul, chegaram quatro militares armados com fuzil e pistola, no aeroporto de Marechal Thaumaturgo e diante de todos os passageiros a única pessoa a ser revistada fui eu”.
Revoltados com o fato de terem sido delatados da presença de menores em festas regadas a bebidas alcoólicas na base do Exército, os militares tentaram intimidar o bancário. “Perguntei ao tenente Farias porque a revista estava sendo feita apenas comigo? Foi ai que ele se alterou e disse com palavrões que quem mandava ali eram eles. Dai começou uma tortura Psicológica”.
O bancário afirma que os militares diziam: “agora vai lá e faz fofoquinha para o coronel, seu Vagabundo, fofoqueiro, seu moleque, mulherzinha. Bastante nervoso, o tenente Farias dizia: tu tem inveja de nós? Quando é que tu vem de novo aqui? Agente te convida. Então está com inveja porque nenhuma mulher ficou na cidade e tu não consegue pegar nenhuma mulher?”.
O autor da denúncia revela que a truculência foi presenciada por várias pessoas que estavam no local. Os militares apreenderiam um jaleco camuflado e reviraram os documentos da instituição bancária onde ele presta serviço. No material apresentado aos deputados federais, o bancário revela o nome de testemunhas que estariam dispostas a prestar depoimento.
No documento entregue à Comissão, a mãe de uma menor de idade, revela que sua filha participou da festa que aconteceu num sábado na base militar. A menor deixou os pais adormecer e fugiu para o local da festa. A mulher acrescenta que havia feito uma denúncia telefônica ao coronel Guerra, da situação que era fato recorrente. Um outro militar teria se passado pelo comandante e o fato não chegou ao conhecimento de Guerra.
O relatório entregue aos membros da Comissão de Combate a Exploração sexual de Crianças e Adolescentes da Câmara Federal esta recheado de material fotográfico de menores nos alojamento dos militares e nas dependências da base do 61º BIS. O material fará parte de um documento que coloca o Acre como um dos principais pontos na rota da pedofilia e da exploração sexual de mulheres.
O bancário que apresentou a denúncia à Comissão registrou um Boletim de Ocorrência na Delegacia Geral de Polícia de Cruzeiro do Sul, relatando o abuso de autoridade e a truculência dos militares na abordagem e revista que o submeteram no aeroporto de Marechal Thaumaturgo.
O QUE DISSE A PRESIDENTE DA COMISSÃO SOBRE A DENÚNCIA
“Aqueles que deveriam proteger nossas fronteiras possivelmente estão tendo envolvimentos nessas práticas. Meninas e meninos estão sendo vendidos como mercadorias. Devemos voltar para fazer inspeções nas aldeias indígenas e nos órgãos que prestam segurança nas fronteiras desse Estado”, disse Kokay.
De acordo com a presidente, o Acre está na rota da exploração sexual sendo que pelo levantamento do disque 100 o estado ficou em segundo lugar com maior incidente de denuncias. “Vamos fazer o diagnósticos para ver esse fenômeno da exploração e não podemos permitir tais envolvimentos”, afirmou.