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O Centro de Rio Branco exige novo pacto de reurbanização

Nem o “Sorriso”, nem o “Zé do Rádio”, nem o “Empina, Jó!”. A rotina do comércio varejista do Centro de Rio Branco precisa construir novos referenciais. As diabruras, injustiças, crimes e amores cometidos na velha Praça da Bandeira compuseram a pujança da economia da Capital durante muito tempo. Junto com a extensão suja e viva do Mercado dos Colonos, formava uma cena cheia de contradições. É preciso repensar esse referencial afetivo tão caro para muitos. Mas parece que nem a Prefeitura de Rio Branco, nem o Governo do Estado, nem os representantes da iniciativa privada querem virar essa página. Sob este aspecto, uma lembrança se faz necessária.


A política higienista efetivada pelo então governador Jorge Viana, na metade da primeira década dos anos 2000, foi, em certa medida, radical: varreu da região central todo aquele cenário pleno de cheiros e cores; alegrias e crimes.
Sim, porque a Praça da Bandeira era essa mistura. Era o que lhe caracterizava. Pensões de muitos sabores, mesas de bilhar, bares com cheiros azedos de cachaça e vômito, boêmios dedilhando Nelson Cavaquinho, óticas, bicicletarias, loja de calçados, bancas com jeans de gostos variados, relojoarias. Essa Babel do varejo acreano era a mesma que escondia violências de toda ordem: prostituição, trabalho análogo à escravidão, dependência química, alcoolismo, abuso sexual contra crianças, trabalho infantil, miséria.


Era preciso virar essa chave que envergonhava quem atravessava a “Ponte Nova” e via a cena de longe. Não era possível nem mesmo “virar a cara” porque do outro lado da referida ponte estava o “Mercado Novo” que não tinha cenário muito diferente. Era seguir em frente e fingir que nada era visto.


Pois eis que, agora, o poder público parece querer não ver o que se passa por ali. Com uma diferença: onde antes havia uma balbúrdia que refletia a qualidade do comércio da Capital concentrada na Praça da Bandeira, agora se ampliou para quase toda a região central.


Imagine o leitor um grande retângulo no centro da cidade. O Quadrilátero da Exclusão inicia no cruzamento da Avenida Ceará com a Floriano Peixoto (onde tem um posto de gasolina e uma igreja protestante dos Adventistas do 7º Dia). Segue até as imediações do Mercado Elias Mansour/Terminal Urbano, passando pela Rua Manoel Cesário (onde antes havia a Sorveteria do Fabiano/Colégio Acreano), entrando na avenida Epaminondas Jácome, pelo maltratado e ameaçado Calçadão da Benjamin Constant, estendendo-se pela Ponte Cel. Sebastião Dantas (Ponte de Concreto). O problema vai até a Gameleira, atravessa o rio novamente para o bairro da Base e volta ao ponto de início pelo agora bairro D. Giocondo (antes chamado Papoco).


Essa região inteira é a nova Praça da Bandeira. O caos, com muito menos charme e afeto, está nesse grande quadrilátero excludente e gigante. É preciso que um grande pacto seja novamente construído. Os atores principais dessa mudança, Governo do Estado, Prefeitura de Rio Branco e Associação Comercial e Industrial do Acre, precisam selar esse compromisso com a cidade. Tudo o que está dentro desse quadrilátero está sob ameaça.


Dependência química severa, assaltos, roubos, brigas, exclusão, miséria. Rio Branco se esfacela ali dentro desse quadrilátero aos olhos de todos. As ameaças não têm hora para acontecer. Não têm pudor. A violência incomoda quem se aventura a comer uma saltenha ou tomar tacacá; quem para em um sinal; quem sai de uma agência bancária ou quem comete o desatino de sentar em um banco de praça.


Em um ambiente assim, como pode uma micro-empresa conseguir alguma sustentabilidade? Que segurança um micro-empresário pode ter em um cenário que peleja para afastar clientes? Comprar no centro de Rio Branco está muito perigoso. É urgente que esse pacto entre Acisa, Governo do Acre e Prefeitura de Rio Branco se efetive. É preciso ampliar a reurbanização apenas iniciada há aproximadamente 20 anos.


Isso tudo em nome do respeito à história da cidade e em respeito ao comércio varejista, tão importante para quem vive por aqui. Atento a estes detalhes, o mercado imobiliário apresentou a proposta: está pulverizando galerias comerciais, em regiões estratégicas. Isso já tem movimentado alguns milhões nos últimos anos. Caso o comércio varejista siga essa tendência, tudo bem. Mas, ainda assim, permanece a pergunta: o que fazer com a região central? O que fazer com o comércio central, que teima em existir? A resposta da Acisa, do Governo e da prefeitura será a indiferença e o silêncio?


É preciso repensar o modelo de comércio central? Tudo bem. Então, qual seria o perfil ideal? Empreendimentos que dialoguem com o setor de serviços e que respeitem a nossa história, nos moldes do que se fez no Mercado dos Colonos? Aquela experiência foi muito exitosa. O espaço de bom gosto acolheu restaurantes e bares refinados. Não se consolidou por falta de traquejo da própria iniciativa privada. O Governo fez o que tinha que fazer ali: reconstruiu o lugar respeitando a Estética e a História do Acre. Faltou empresário com capacidade de investir e acreditar.


Neste pacto que o ac24horas sugere, governos e empresários têm oportunidade de repensarem os próprios espaços. Cada um no seu cada qual, um respeitando o lugar do outro. No Quadrilátero da Exclusão todos estão se xingando; todos estão se agredindo. Ali dentro todos têm perdido.


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