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Conheça a história da Dona Mazé, a mãe do bairro Montanhês

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Retratar a história de vida de uma mãe não é uma tarefa fácil, mas dentre tantos exemplos de força, amor e dedicação, a reportagem do ac24horas foi conhecer de perto a trajetória da professora Maria José Lopes da Silva, 62 anos, mais conhecida por Mazé.


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“Me emociona muito ouvir de algumas dessas mães, que tem seus filhos matriculados com a gente, afirmarem que foi aqui que elas souberam o que era o amor de mãe. Isso não tem preço, faz tudo valer a pena”

Mãe de nove filhos, seis biológicos e três do coração, ambos formados, 14 netos e cinco bisnetos, ela ainda encontra disposição para cuidar de dezenas de crianças, entre 2 a 12 anos, da comunidade que reside, no entorno do bairro Montanhês, periferia de Rio Branco.


Sua história de amor com as crianças vem de um legado de 45 anos dedicados ao ensino especial infantil, que se mistura com a história de fundação do bairro. Inconformada com a dura realidade de muitas mães, a professora Mazé decidiu acolher crianças que viviam em situação de vulnerabilidade.

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Ela conta que já são 16 anos dedicados às crianças. Muitas delas, que hoje são mães, fazem questão de matricular seus filhos na creche da professora Mazé. O motivo, ela explica:


“Me emociona muito ouvir de algumas dessas mães, que tem seus filhos matriculados com a gente, afirmarem que foi aqui que elas souberam o que era o amor de mãe. Isso não tem preço, faz tudo valer a pena”, relembra emocionada ao exibir, orgulhosa, cartazes feitos pelos pequenos.


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Muitas mães, sem perceber, fogem das suas responsabilidades por não conseguirem lidar com determinadas situações. Muitas delas possuem passagem pela polícia, uso de drogas ou tráfico e ninguém quer dar emprego pra elas e, com isso, sofrem elas e as crianças.

Segundo dona Mazé, a maioria das crianças atendidas são classificadas em situação de risco ou de vulnerabilidade. A maioria das mães tiveram ou possuem passagem pela polícia.


“O que buscamos aqui não é somente acolher essas crianças, mas também desenvolvermos uma relação de diálogo com essas mães para que haja uma transformação dentro do ambiente familiar. Muitas mães, sem perceber, fogem das suas responsabilidades por não conseguirem lidar com determinadas situações. Muitas delas possuem passagem pela polícia, uso de drogas ou tráfico e ninguém quer dar emprego pra elas e, com isso, sofrem elas e as crianças. Recentemente conseguimos fechar um Convênio com o Instituto Dom Moacir para oferecer a essas mães cursos profissionalizantes. Acreditamos que oferecendo a oportunidade delas se capacitarem para o mercado de trabalho, elas vão conseguir sair de uma realidade de desigualdade social para a de oportunidades”.


Gratidão

Ao falar das dificuldades de realizar um trabalho de acolhimento com crianças em situação de vulnerabilidade, dona Mazé destaca que enxerga na educação, um importante aliando para transformar o futuro dos pequenos.


“Essas crianças vivem uma realidade onde a única diversão delas é presenciar a polícia correr atrás de prender pessoas que, em muitos casos, são os pais delas. Essas crianças são o futuro do nosso país, do nosso Estado. É duro ver que elas não têm sequer um espaço público para brincar. É de cortar o coração não termos, em nosso bairro, sequer um espaço onde levar essas crianças para brincar, para realizar uma atividade recreativa ou cultural. O que resta para elas, me diga?”, indaga.


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O local tem poucos livros para auxiliar as crianças no aprendizado

“Não posso acolher todas por falta de recursos, mas muitas das que estão aqui chegam com fome porque não tem nada que comer em casa. Aqui elas fazem três refeições por dia, tomam café, almoçam e merendam. Além de se alimentarem, elas aprendem algo importantíssimo: Elas saem daqui lendo e, essa, é minha maior alegria! Se você me perguntar o que mais precisamos aqui hoje, eu diria: precisamos de livros, precisamos contar histórias para essas crianças, precisamos inspirá-las. Elas podem, sim, ter um futuro diferente de tudo isso que elas são expostas todos os dias, mas infelizmente falta muito. O que eu mais gostaria de fazer era incentivar a leitura porque eu sei que se eles tiverem gosto pelo livro, pela leitura, isso mudará tudo na vida delas”, explica dona Mazé ao mostrar a estante com menos de 20 livros infantis e as atividades lúdicas feitas pelas crianças da creche.


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“Essas crianças vivem uma realidade onde a única diversão delas é presenciar a polícia correr atrás de prender pessoas que, em muitos casos, são os pais delas”

Recompensa

“Quando deito minha cabeça no travesseiro, lembro do rostinho e do nome de cada uma delas. Peço a Deus em minhas orações que Ele abençoe elas, suas mães, pais. Que essas famílias possam vencer as dificuldades da vida”.


A creche

O nome do Centro de Educação Infantil e Alternativo (C.E.I.A) pequena Thaysla Jairine Lopes e Silva esconde uma triste história: a de falecimento de umas das netas de dona Mazé, a pequena Thaysla faleceu aos 2 anos e 6 meses, vítima de câncer.


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Dona Mazé conta que no parto, a criança sofreu um trauma (perfuração) no olho. O ferimento se agravou e após muitas idas e vindas em consultórios médicos, dona Mazé conta que decidiu embarcar com a neta para Minas Gerais. Lá, ela obteve o diagnóstico: câncer, em estágio avançado.


“Já não havia muito o que fazer, então voltei pro Acre para que ela pudesse morrer aqui e, assim, eu poderia realizar todas as vontades dela. Foi uma morte muito triste, dura e sofrida. Cuidei dela até o último suspiro e seu nome foi dado a creche porque foi uma forma de homenageá-la”.

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Quem contempla hoje, o Centro de Educação não imagina que há 16 anos funcionava debaixo de uma cobertura de lona, pano e jornal. Dona Mazé relembra que “quando chovia, as crianças eram cobertas com um tapete”. Segundo ela, o tapete tornou-se “patrimônio histórico” da creche.


“Não o jogamos fora porque ele representa momentos de luta, tempos difíceis. Ele representa o começo de tudo que já vivemos aqui”.


Os anos passaram, o telhado de lona e o chão de terra coberto com jornal velho deu lugar ao que hoje é o Centro Educacional, que tem consigo outra história, dessa vez a de um milagre.


“Alguns anos depois da morte da minha neta, o meu esposo sofreu um derrame e ficou em estado grave. Eu não me conformava com aquela situação, pois ele teve os movimentos comprometidos, dependia de cuidados pra tudo. Eu precisava de um milagre. A família reuniu recursos financeiros e fui para fora do Estado com ele, mas antes de embarcar eu fiz um voto com Deus. Pedi que ele fosse curado e se me fosse concedido esse milagre, eu usaria todo dinheiro da cirurgia para construir a creche. E, quando eu estava diante do médico, ele me perguntou: dona Mazé, o que a senhora espera que seja feito com seu esposo¿ Eu disse: Ah, doutor! Eu quero voltar com meu marido curado. Ele respondeu: a senhora pode voltar porque, segundo os últimos exames, não tem nada de errado com ele. Ele está curado! E foi assim que eu voltei, feliz da vida. Hoje meu esposo tem boa saúde e ao regressarmos demos início a construção desse espaço. Nem preciso dizer que Deus abençoou e multiplicou o dinheiro e muitas pessoas também contribuíram para erguer isso aqui!”.


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Atualmente, o espaço conta com quatro salas amplas, mas está longe do mínimo necessário. Há dois anos, dona Mazé luta para dar continuidade a obra de ampliação, que incluí uma cozinha, dois banheiros e um vestiário. A obra caminha a passos lentos, pois falta recursos para custear a mão de obra e os acabamentos.


A creche conta com a dedicação de uma equipe composta por professoras e funcionárias cedidas e também voluntárias. Cada sala de aula comporta 25 crianças no período da manhã e tarde, totalizando 100 crianças. A metade delas permanecem em tempo integral. A maioria das crianças matriculadas são oriundas dos bairros Montanhês, Tancredo Neves, Caladinho, Alto Alegre, Jacarandá, Irineu Serra e Calafate. Não é cobrado nenhum valor para permanência das crianças na creche desde sua fundação. Dona Mazé conta com uma pequena parcela de doações realizada por terceiros e parcerias com entidades e instituições públicas. A maior parte das despesas é assumida pela dona Mazé, que utiliza seu salário de professora para suprir com as despesas básicas.


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Quem desejar contribuir com a doação de livros infantis ou até mesmo com a conclusão da obra de ampliação da creche, podem entrar em contato com a filha de dona Mazé, no telefone (68) 9972-8116 ou realizar uma visita, no endereço: Rua Raimundo Melo, Nº 253. Bairro Montanhês (Tancredo Neves). Após o Box da PM, nas imediações do Mercantil Reis.


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