Conversei por telefone com o ex-governador Binho Marques (PT), que estava a serviço do Ministério da Educação, do qual é secretario executivo, em Recife (PE). Diante das polêmicas sobre as diferenças entre o seu governo, de Jorge Viana (PT) e Tião Viana (PT), Binho deu a sua explicação.
“Eu e Jorge Viana estamos juntos há muito mais tempos e temos grandes afinidades de pensamento principalmente pelo fato se sermos adeptos do planejamento estratégico. Nós fizemos cursos com o Carlos Matus, ex-ministro da Fazenda do governo chileno de Salvador Allende derrubado pelo golpe militar. Esse pensador avaliou os erros cometidos do governo chileno para se chegar ao golpe e criou uma teoria de planejamento. Inclusive, foi o ex-presidente Lula (PT) quem incentivou o Jorge Viana a fazer o curso de planejamento estratégico com Carlos Matus,” afirmou.
Afinidades naturais
Segundo Binho, o atual governador Tião Viana teve uma outra trajetória de vida que o levou à política. “Até mesmo pela necessidade do Tião seguir a sua carreira de médico demorou mais para voltar ao Acre. O contato entre a gente estava mais relacionado com o movimento estudantil e os encontros na UNE (União Nacional dos Estudantes). O Jorge voltou bem antes e trabalhamos nos mesmos lugares, o CTA e posteriormente na FUNTAC, “ explicou.
A maestria de Chico Mendes e a questão da sustentabilidade
Outro fator que Binho atribui à diferença de DNA político com Tião Viana é o fato dele e Jorge Viana terem tido uma convivência mais próxima ao líder sindicalista seringueiro, Chico Mendes, assassinado em 1988. “Eu e Jorge trouxemos no nosso DNA a Florestânia e o mesmo estilo de gestão fincada no planejamento estratégico. Embora o Tião seja também do PT cada um tem o seu estilo de governar. Isso não quer dizer que esteja criticando o Tião, mas a minha escola de vida pública e a do Jorge foram realmente diferentes. Nós tínhamos essa ligação mais próxima com o Chico Mendes, que foi um mestre pra mim, com a Marina Silva (Rede), com o Toinho Alves (Rede) e com o Élson Martins. Não estou dizendo que o Tião não defenda os ideais de sustentabilidade, mas ele é diferente de nós politicamente e na maneira de conduzir a sua gestão,” salientou Binho.
Julgamento histórico
Indaguei ao ex-governador como ele acha que os acreanos irão julgar o seu governo. “Pra te falar a verdade nunca tinha pensado nisso. Eu procurei fazer as coisas certas enquanto era governador do Acre. Acho que acertei em muitas delas e, por isso, tenho muita alegria no legado do trabalho que deixei no Estado. Mas sinceramente nunca trabalhei pensando em como seria julgado posteriormente, “ finalizou Binho.
Questão de DNA político do atual Governo sugere “filho bastardo” e causa revolta
Mais uma vez a questão do DNA político do atual Governo do Acre causa turbulência interna nas hostes governistas. Então para entender o motivo de tanta revolta vejamos o que significa biologicamente o DNA. A célula armazena informações que serão transmitidas hereditariamente para outro corpo. Simplificando, quando há dúvida se um bebê é ou não filho de alguém se faz a análise se essas informações celulares foram transmitidas. Se não foram é porque o filho é bastardo, ou filho de outro pai. No caso da sequência das gestões do PT no Acre, teoricamente, deveria haver uma transmissão de DNA de uma para outra, por serem do mesmo projeto político. Mas há pouco mais de um ano, numa entrevista ao AC24horas, o ex-governador Binho Marques afirmou que o DNA do governo de Tião Viana era diferente da sua gestão e do seu antecessor Jorge Viana. Agora, durante uma conversa com a imprensa o atual senador Jorge Viana voltou a repetir que o governo do seu irmão tem uma outra configuração genética, politicamente falando.
DNA da Discórdia
A afirmação gerou uma reação por parte da tropa de comunicação social do atual Governo. A secretária de comunicação, Andrea Zilio e, o porta-voz Leonildo Rosas, assinaram uma nota e publicaram nas redes sociais ironizando os dois ex-governadores. Numa interpretação óbvia, os assessores ao dizerem que a história irá julgar as três gestões, Jorge, Binho e Tião, querem dizer que o atual governador sairá melhor perante a opinião pública. E reafirmam que realmente o DNA da atual gestão é distinta das demais.
Autonomia até que ponto?
Custo a crer que uma nota como essa tenha sido publicada sem a consulta da liderança maior do governo. Não acredito que os dois assessores tenham autonomia para emitirem publicamente e em tom oficial uma opinião política tão delicada.
Ninho de caba
A repercussão da entrevista de Jorge Viana deixou muita gente chateada dentro do Governo. Uma fonte palaciana me afirmou que os ânimos ficaram exarcebados por dois dias. As críticas ao PT nacional e local não caíram bem.
Uma leitura simples dos fatos
A verdade é que o senador Jorge Viana (PT) realmente não tem participado diretamente da atual gestão do Acre. Isso fica claro através da mais simples observação dos recentes fatos políticos. O próprio Jorge costuma dizer que não tem sido ouvido sobre questões importantes. Mesmo com a experiência de prefeito de Rio Branco, duas vezes governador e, agora, senador, os pontos de vistas de Jorge parecem não serem importante para o atual Governo. Se Jorge ajudou, e muito, na eleição e depois na reeleição do governador Tião Viana (PT), o fato, deve ser interpretado internamente pela atual equipe que governa o Acre como obrigação ou uma simples fidelidade partidária. A reação com força desproporcional a uma entrevista absolutamente normal sem nenhuma bomba é estranha.
