Como se diz no Acre estou passando uma chuva em Portugal. Desde 1987, que faço parte do grupo de amigos que celebra a Festa de São José, com o escritor Paulo Coelho. E mais uma vez acompanhei o meu amigo, que por conta de uma promessa, escolheu esse dia para comemorar o seu aniversário que, na realidade, é no dia 24 de agosto. A festa reúne gente do mundo inteiro. Mas este ano, em Cascais, na Costa Atlântica de Portugal, no Hotel Fortaleza do Guincho, entre os convidados brasileiros, o assunto principal foi política. Vou reproduzir nesta coluna a visão sobre o momento brasileiro de alguns personagens que participaram da celebração e atuam nas mais diversas áreas profissionais. Aproveito para pedir desculpas aos leitores da coluna pela pouca atualização nesses dias de trabalho e também de descanso. Mas a partir de abril volto a escrever a coluna seis vezes na semana.
“O mar é sempre o mesmo, mas as ondas mudam a cada momento”
Tive dificuldade para tirar alguma declaração sobre o momento político brasileiro do escritor Paulo Coelho. Ele me disse que qualquer manifestação dele poderia repercutir. Como tem amigos relacionados à política das mais diferentes tendências prefere aguardar para ver como as coisas vão acontecer. Ele resumiu como sente o momento brasileiro: “O Brasil é um país em transformação. O mar é sempre o mesmo, mas as ondas são sempre diferentes,” disse ele.
Nepotismo
Mas durante a entrevista coletiva à imprensa portuguesa, Paulo Coelho referiu-se a um momento que o deixou perplexo. Ele seria homenageado na Feira Internacional do Livro de Frankfurt, do ano passado, a mais importante do planeta. Mas por conta daquilo que considerou “convites indevidos” a escritores sem expressão ligados ao Governo brasileiro, resolveu não participar. Veja a declaração do autor brasileiro que já vendeu 160 milhões de livros e foi traduzido para 80 diferentes idiomas:
“Eu vou a Frankfurt este ano. Não fui no ano passado porque o Brasil vive um momento de nepotismo. Já não são os escritores de sucesso que estão sendo valorizados. Mas escritores patrocinados pelo Governo que acaba sustentando uma coisa que não está relacionado ao esforço de cada um. Havia um grupinho, que é sempre o mesmo, que conhece o pessoal do poder. Eles se julgam as pessoas mais importantes do mundo e acabam monopolizando os recursos governamentais e não deixam os novos aparecerem. No ano passado, a Feira era dedicada ao Brasil e, quando vejo a lista de escritores, na qual eu estava incluído, conhecia no máximo 10. E os outros 60? Quem são essas pessoas? Achei injusto porque existe uma literatura nova e vibrante no Brasil, mas que não acha espaço para ser exibida. Em cima da hora eu decidi não ir à Feira para não apoiar esse tipo de nepotismo dos amigos do governo. Quem é amigo do governo tem tudo e quem não é amigo não tem nada. Por isso não fui,” declarou.
Uma vida sem censura
Paulo Coelho, que estará lançando no próximos dias no Brasil o seu novo livro Adultério e terá um filme, “Não Pare na Pista”, sobre a sua vida que chegará às telas em agosto, falou também sobre censura.
“A partir de um determinado momento você não é mais dono da sua própria historia. Algumas pessoas tentam controlar o quê se escreve sobre elas. Isso é uma bobagem, é censura. Eu gosto de saber o que as pessoas pensam sobre mim, mesmo aquelas que me criticam. Quando o Fernando Moraes escreveu a minha biografia O Mago entreguei tudo a ele sem nenhum tipo de censura,” afirmou.
Além da espiritualidade
Quanto a visão que algumas pessoas têm da sua obra relacionada a questões espirituais, Paulo Coelho salientou:
“Eu sou um escritor que vivo do meu trabalho. Eu não estou vendendo salvação, mas os meus livros estão dando exemplos de que o sonho é possível. O que espero é ser um exemplo para outros escritores mais jovens feito o Jorge Amado foi para mim. Se eu vivo de literatura outros viverão. Eu coloco o melhor de mim nos meus livros, mas sem me preocupar em passar mensagens.”
Data simbólica à democracia
Estive também em Cascais com Antônio Campos, irmão do governador de Pernambuco e presidenciável, Eduardo Campos (PSB). Ele me contou que o governador deixará o cargo no dia 4 de abril. Uma data simbólica para a sua família porque lembra a volta do exílio durante a Ditadura Militar, do avô Miguel Arraes.
O Acre em pauta
O advogado e poeta Antônio Campos também me indagou sobre a situação do PSB acreano. Como a ex-senadora Marina Silva (PSB) deverá ser candidata a vice-presidente qualquer coisa que aconteça na Terra de Galvez pode ter repercussão nacional. Alguns membros do PSB nacional estão atentos, segundo ele me disse, a esse apoio do partido ao PT no Acre. Ainda muita coisa poderá acontecer…
Certeza do segundo turno
Antônio Campos tem a certeza que o seu irmão chegará ao segundo turno da disputa presidencial brasileira. Eu estava com ele quando chegaram os números do Ibope que mostram uma pequena queda nas intenções de votos de Dilma Rousseff (PT). Ele acha que essa tendência de queda deverá se acentuar nos próximos meses.
Amizade com Lula
Apesar da candidatura própria de Eduardo Campos (PSB), o seu irmão deixou claro a ligação de amizade da família com o ex-presidente Lula (PT). Não me respondeu se no caso de Eduardo não ir ao segundo turno eles apoiariam Dilma (PT). “Nós vamos ao segundo turno,” afirmou.
Direita ou esquerda?
Tive uma conversa agradável sobre política com um dos melhores publicitários do Brasil, Celso Loducca. Ele me passou uma visão interessante sobre a sua visão das tendências ideológicas de direita ou esquerda. “De direita é quem só pensa nos próprios interesses e, de esquerda, quem está preocupado com a justiça social,” afirmou. Loducca foi o marqueteiro da bem sucedida administração da deputada federal Luiza Erundina (PSB), nos anos 90, na prefeitura de São Paulo.
