Aos 101 anos de idade, dona Mauria Batista de Almeida sonha em ter seu nome verdadeiro no registro de nascimento. “Nossa casa
pegou fogo quando vivíamos no Seringal São Pedro do Icó, no Amazonas, ficamos com a roupa do corpo”, contou a anciã. Ela voltou a ser registrada em Rio Branco, mas disse que precisou contar com a intervenção de um delegado e que seu nome acabou sendo registrado como Maria e não Mauria.
– Ela chora toda vez que se fala nesse assunto, tem semanas que entra em depressão – conta Maria Antônia, a filha de 56 anos com quem dona Mauria vive há dez.
Nascida em outubro de 1910, Mauria disse que os momentos mais felizes de sua vida foram no seringal onde criou os três filhos depois que se separou do marido. “Não quis arrumar mais um companheiro, minha educação é muito diferente, não tenho maldade, não gosto de violência”, acrescentou.
A filha conta que a mãe juntou muito dinheiro e que recentemente chegou a jogar várias notas inválidas no esgoto. “A gente não viu ela juntar, depois é que foi descoberto, mas não tinha mais serventia”, contou Antônia. Mas a anciã lembrou de momentos difíceis em que teve de se alimentar com água para sobrar boia para os pequenos.
– Enchi a barriga de água para sobrar banana com peixe frito para as crianças. Mas nem por isso gostei de vir para a cidade, preferia a vida calma de lá – lembrou dona Mauria.
Quando perguntamos se a vida na floresta era o segredo para viver tanto, dona Mauria completou afirmando: “é preciso não ter maldade no coração. É o poder de Deus que me trouxe até aqui”. A família de dona Mauria é centenária, o irmão, seu Raimundo Batista, tem 103 anos.
– Ela cozinha, costura, limpa o quintal, tem uma vida normal – disse a filha.
Jairo Carioca – da redação de ac24horas
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