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Moedas descentralizadas tornam mais regiões competitivas globalmente

Às margens do rio Acre, distantes mais de 3.000 km dos grandes centros financeiros do Sudeste, agricultores, guias de ecoturismo e pequenos exportadores de castanha já começam a descobrir que podem receber pagamentos de Lima ou de Tóquio sem depender de uma agência bancária sequer. A chave técnica que destrava essa porta global atende pelo nome de criptomoedas.


Um déficit bancário que vira oportunidade


Embora ofereça muitas oportunidades, a dúvida sobre o que são criptomoedas permanece em pauta para muitos pequenos negócios. Esses ativos digitais que circulam numa rede distribuída, fora do controle de governos ou bancos centrais, está permitindo que empresas de todo o mundo se conectem. Um detalhe muito importante em um estado como o Acre que tem a menor densidade bancária do país.


Há 4 anos o Instituto Locomotiva estimava 16,3 milhões de brasileiros sem conta. Em 2023, o contingente caiu para 4,6 milhões, mas a maioria continua no Norte e Nordeste. Essa brecha de inclusão explica por que 90% dos adultos brasileiros já enviaram ou receberam um Pix entre julho de 2023 e julho de 2024.


Isso é o que registra estudo do BIS, a mesma pesquisa que aponta o país como caso-modelo de pagamento instantâneo. Ao criar um “caminho curto” entre carteira digital e exchange, o Pix reduziu o atrito de entrada dos criptoativos, pois basta escanear um QR-Code para trocar reais por stablecoins lastreadas em dólar, sem fila de banco nem papelada de câmbio.


O Global Crypto Adoption Index 2024 coloca o Brasil no 9º lugar mundial, à frente de economias como Turquia e Reino Unido. Quando o produtor de açaí de Xapuri recebe USDT por um lote exportado via Iñapari, ele não só elimina a comissão do banco peruano como passa a competir em igualdade de condições com fornecedores asiáticos, que hoje cotam mercadorias em dólar digital de forma corriqueira.


Capital global, escala local: Entre a floresta e o datacenter


Ao oferecer tarifas de rede inferiores a US$0,01, blockchains de segunda camada como Lightning e Polygon permitem que um micro-empreendedor acreano, com apenas um smartphone na mão, aceite pagamentos internacionais menores que o preço de um café. Quando se olha o mapa do Banco Central, o Acre dispõe de apenas 49 agências bancárias para 880,6 mil habitantes.


O que gera uma média de quase 18 mil pessoas por ponto de atendimento. Na prática, a combinação de longas distâncias terrestres e custos bancários fixos empurra parte da população para alternativas digitais. O que antes se resolvia com um envelope de dinheiro que cruzava a fronteira com o Peru, hoje cabe num QR-Code enviado por WhatsApp em cripto.


Relatório da Chainalysis sobre a adoção latino-americana mostra que pagamentos estáveis já respondem por 70% do volume on-chain no Brasil, tendência puxada por fronteiras comerciais como a acreana. A portabilidade desses dólares tokenizados atrai comerciantes de Rio Branco que importam eletrônicos de Iñapari e, ao receberem em stablecoin, reduzem o spread cambial de 5,5% para menos de 1%.


Regulação deixa de ser lenda urbana e a competitividade aumenta


Num ambiente conhecido pela aversão a incertezas jurídicas, duas peças mudaram o jogo. A primeira foi a Lei 14.478/2022, que fixou diretrizes para provedores de “ativos virtuais” e delegou ao Banco Central a sua supervisão direta, afastando de vez o fantasma de proibições repentinas. A segunda é o piloto do Drex, a versão programável do real, cuja fase 2 já testa contratos inteligentes com participantes privados.


Isso abre caminho para liquidações instantâneas entre moeda oficial e tokens ancorados em commodities regionais. Quando o produtor de castanha converte parte da receita de exportação em Bitcoin e a guarda numa carteira multi-assinatura, ele não está apenas fazendo hedge contra a variação do real, está ganhando tempo de liquidação que, no sistema tradicional, consumiria até três dias úteis.


Tempo, em logística amazônica, é custo dobrado de frete. Quando a infraestrutura financeira deixa de ser barreira física e vira algoritmo, periferias se transformam em polos de experimentação econômica. No Acre, não é exagero dizer que a competitividade global já cabe no bolso, ainda que o bolso seja feito de borracha extraída da mesma selva que agora se tokeniza em carbono de primeira linha.


 


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