Pela manhã não me dispus a pensar na posse do Governador Sebastião Vianna. Estava ocupado na compra de uma nova ração para as minhas debilitadas aves que, estranhamente, cuidam em morrer nesse início de inverno.
Vi pedaços de sua fala ao longo dos noticiários. Sua eloquência é inegável, usa com extrema clareza as palavras! Frente as câmeras, sabe articular, com extremo cálculo, preposições que tentam reunir para si as soluções dos problemas que ele apresenta ou cria.
Mas, apesar disso, não gosto de ouvi-lo! Sua forma de expor ideias, um pouco mais apelativa e duvidosamente açucarada, me faz lembrar as cansadas mensagens de seu irmão e de seus seguidores quando em campanha eleitoral. Com um fundo visual de cantor de cantina italiana, sempre que fala, dá-me a impressão que ao final quer chorar.
Mas com Dilma foi diferente! Assisti a sua fala atentamente. Estava muito curioso, quedei-me indistinto no sofá a espera do que “ela” tinha preparado na cerimônia de posse.
Foi um discurso triste, mais parecia uma festa fúnebre! Ranzinza, metódica, com carretas carregadas de razão, falou muito e, honestamente, a meu sentir, disse pouco.
Sobre a Petrobras, a velha manobra das esquerdas cegas de desviar nossa culpa, imputando aos terceiros os erros que cometemos. Ao falar de inimigos internos e externos a serem combatidos, faltou dizer que o responsável por esse episódio vergonhoso nada tem a ver com os de “fora”.
Foram os de dentro, Presidenta, os artífices dessa tentativa de governabilizar o crime. Se não colocarmos os dois olhos nestes, resultará uma visão totalmente deformada do processo histórico. Teoricamente atento ao Dólar, não enxergaremos que quem dança é nossa moeda.
Ao falar do governo do PT, a presidenta mostra como se reinventa a História. Tudo de bom começou em doze anos! O Plano Real, a organização da Máquina Pública, as medidas estruturais necessárias, outrora realizadas a contragosto da população, nada disso existia. O Brasil dos sonhos dela é fruto de uma geração espontânea que coincide com a chegada de Lula à presidência. Parece mais um Gêneses ao contrário, já que o mundo pecador que os tucanos criaram veio primeiro que o paraíso petista.
Foi mal também ao não ter a capacidade de mostrar-se mais política diante da frágil base que terá no Parlamento. Não tratou da oposição, como fez no discurso da vitória, na analogia das tais “pontes”.
Não que deveria usar o expediente de sair por aí esmolando desordenadamente Ministério como fez, mas deve se dizer que, no estilo “castresco”, abriu ainda mais o hiato discursivo com uma relevante cota política, imprescindível para aprovação das medidas que o país precisa.
Muito me sabe estranho imaginar que ela acredita ter os números certos para a fórmula do sucesso no Congresso. No quadro político que se configura, temos ilhas dissidentes dentro do próprio partido dela, inconformadas com seu aparente amadurecimento, ao indicar novos rumos econômicos; temos partidos de sustentação que, dependendo da hora e da vez, não conseguem nem se sustentar; e, por fim, um PMDB extremamente plural em interesses, cheios de gostos e tendências díspares aos pactos que firma com os ventos da ocasião.
Para muitos, essa face poliédrica do emblemático partido é a maior prova do bissexualismo político no Brasil, pois ideologia que é bom, parafraseando Sérgio Buarque de Holanda, sempre foi um mal-entendido no mundo parlamentar.
Sucesso Presidenta! Não votei na Senhora, mas não jogo no time do contra. Há mais coisas em questão que o fracasso do seu projeto político e de sua forma de pensar.