Josiane Furtado enfatizou que a saúde mental não pode ser tratada de forma pontual. “A saúde mental não pode ser trabalhada somente em um mês. Ela deve ser trabalhada o ano todo junto com as outras campanhas que são feitas”, destacou a profissional durante sua exposição. Segundo ela, integrar a prevenção ao suicídio às rotinas anuais de saúde pública é essencial para uma abordagem mais efetiva e sustentável.
Um dos pontos mais preocupantes levantados pela psicóloga foi o aumento de entradas no Pronto-Socorro de crianças com ideação suicida ou tentativas de suicídio. “Outra coisa importante também é do aumento de entrada de crianças no Pronto Socorro, com a ideação de suicídio, ou até mesmo com tentativas de suicídio. A importância do Centro de Atenção Psicossocial [CAPS] e que ele funcione o mais rápido possível”, afirmou. Josiane detalhou que essa faixa etária tem se tornado cada vez mais jovem, com casos atendidos envolvendo crianças de 8, 9 e 12 anos. “Temos uma faixa de pacientes com 12, 9, já atendemos até 8 anos”, exemplificou.
Embora o quantitativo mensal não seja expressivo – com relatos de cerca de 3 a 4 casos por ano em uma região que atende todo o Acre e até partes do Amazonas –, a gravidade de cada ocorrência foi sublinhada. “Quando a gente tem uma criança de 8 anos que tenta suicídio, é grave”, disse.
A psicóloga reforçou que o atendimento vai além da criança em si, abrangendo toda a família. “E quando a gente fala de uma criança, a gente não fala só de uma criança, a gente fala também da família. E aí a gente tem, em média, às vezes por ano, 3, 4 crianças. […] O quantitativo pode não ser grande, mas uma criança pensar em suicídio é um trabalho grande, que a rede tem que saber como agir com essa criança.”
Durante a discussão, foi abordado o fluxo de encaminhamentos para esses casos. Após a alta hospitalar, as crianças recebem notificação ao Conselho Tutelar e Serviço Social, além de direcionamento para redes de apoio. “Semana passada a gente teve uma entrada e a gente já tem quando essa criança tiver alta, além da notificação com conselho tutelar, serviço social, a gente tem que fazer um encaminhamento para essa criança e aí ela vai ser atendida onde? Em qual rede? Então, apesar de termos o Tucumã, que é um serviço de especialização do Estado, mas nós precisamos da rede do município”, detalhou a profissional. O Hospital das Crianças em Tucumã, serviço estadual especializado, pode ser uma opção para casos graves, mas a rede municipal é vista como fundamental para o acompanhamento contínuo.
Para quem precisa de apoio emocional, além de acionar a rede de apoio, o acolhimento inicial pode ser feito através do número 188, o número do Centro de Valorização da Vida (CVV), que é válido em todo território nacional e é gratuito. Além disso, o site Mapa da Saúde Mental pode ser utilizado para encontrar um serviço mais próximo, trazendo informações sobre acolhimentos gratuitos ou de baixo custo.