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Diário do Acre – Ramal do Manoel do Rádio, Baixo Acurauá/Tarauacá

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A cidade estava acordando, enquanto pegávamos a estrada rumo ao ramal do Manoel do Rádio. Célio, presidente da associação da comunidade nos conduziu pelos 12 quilômetros de ramal até à beira do Rio Acurauá.


O verão seco permitia o trajeto, mesmo diante das péssimas condições do ramal e das pontes, a cada metro superávamos o desafio do abandono, expresso de forma mais veemente em cada conversa com os moradores que assistem o sol secar a terra e a produção empalhar no campo e no paiol.

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Dona Liberdade chamou pra subir e pediu pra não reparar na bagunça, passou a semana no roçado. Serviu um café quente e lamentou os dias difíceis. Porém, antes de nos despedirmos mandou que trouxesse um recado de esperança para o velho barbudo: “mande um abraço meu e diga que rezei pra ele sair, rezo pra Deus lhe proteger e para ele voltar a cuidar do país.”


Seu Zeca estava em casa e se animou ao ver o Célio. “Na segunda vou na rua”, disse seu Zeca que marcou de levar uma banana até a ponte na BR e pediu pro Célio buscar no caminhão. Dona Maria, esposa do Zeca, pediu que depois fosse buscar a família que ia de pés até a primeira ponte do ramal já que não dá de entrar mais.


Conforme vamos chegando às margens do Acurauá a mata vai se fechando sobre o ramal estreito, até que se abre de uma vez diante do rio. Cruzamos de varejão para a outra margem e no porto conhecemos dona Nazaré, uma senhorinha de idade que estava indo receber uma ‘empeleita’ da limpeza do roçado de macaxeira.


Paramos para almoçar na casa do Branco, irmão do Célio, que construiu uma casinha alta na beira do Acurauá, de onde o vento parece nunca parar de soprar. Célio pediu pra pegar a galinha mais velha para o almoço: “gosto de galinha dura”, afirmou.


Os meninos pularam no terreiro. “Pega a arrupiada” disse dona Francisquinha, enquanto as galinhas corriam pra lá e pra cá em fuga. O mais novo, de 8 anos, pegou a galinha e entregou à mãe que em menos de uma hora já servia na mesa com pirão e arroz para todos que por ali se encontravam.


No domingo as margens do Acurauá às horas devem passar mais devagar, cadenciadas no barulho dos motores dos barcos que cruzam o rio, carregados de bananas. Uma tranquilidade que se rompe quando se percebe que toda a beleza que se escreve em aventura, para o povo é a vida cotidiana de dificuldades.


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