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Emoções, afeto e amor

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Todos os seres humanos têm, mais ou menos desenvolvido, o sistema emocional e social. No entanto, diferente do que se pode imaginar, a segurança de que o aprendizado tanto necessita para que possa ser edificado não é uma dádiva eterna em que alguém a outorga para outrem. Dito de outra forma, a segurança não é originária de outro indivíduo. Pelo contrário, apesar de, na primeira idade, o outro tenha um papel fundamental para tal, a segurança de que se necessita para a instauração e sedimentação de processos de aprendizados efetivos é uma conquista do próprio indivíduo em relação às suas emoções. O outro pode contribuir (e contribuir muito em várias situações), mas não é o ator predominante e essencial para que o processo de aprendizagem se efetive e isso precisa ser entendido em definitivo, uma vez que se tem difundido a ideia de que é o professor ou outra pessoa que deve garantir a segurança para a aprendizagem. Neste sentido, este ensaio tem como objetivo mostrar o amor como estágio de plenitude de domínio das emoções capaz de sustentar aprendizado definitivo.

Meu filho tem cinco anos de idade. Seu passatempo favorito é lidar com esquemas estratégicos, desde a montagem de quebra-cabeças a criar diferentes formas com peças de lego. Quando monta os quebra-cabeças, seu desafio é quase sempre terminar a montagem no espaço de tempo mais curto possível, diferentemente do que faz com as maquetes que elabora com os legos, cujo desafio é fazer uma forma diferente das outras que já tenha feito. Quando falta uma peça do quebra-cabeças ou quando ele percebe que a forma final que fez com o lego é muito parecida com outra que tenha feito, fica extremamente decepcionado e raivoso a ponto de destruir o que tenha feito até ali. Quando tentava retomar às atividades de montagem e criação, em pouco tempo se enfurecia novamente e terminava por deixar de lado a brincadeira, ficava um bom tempo emburrado.

Este é um exemplo formidável para mostrar o quanto as emoções negativas impedem que o processo de aprendizado tenha o seu curso normal. É muito difícil, quando alguém não domina os seus instintos inferiores, que o sistema cerebral responsável pelo aprendizado funcione a contento. No caso do meu filho, certamente ele já montou e remontou o mesmo quebra-cabeças dezenas de vezes, mas a cada vez é um retomar da trilha do aprendizado que foi esculpido no seu cérebro. E a habilidade que ele auferiu foi tamanha que em poucos minutos faz o que muitos adultos não fazem. Ainda assim, ainda erra. E a cada erro nova aprendizagem é adicionada, como nova camada que reconstrói a camada anterior.

Certa vez uma aluna adolescente me disse que era apaixonada por matemática. Gostava tanto que suas grandes diversões tinham como base a matemática, que iam desde a realização diária de dezenas de exercícios quanto a assistir filmes sobre esquemas e enigmas matemáticos. Na última vez que conversamos disse que estava indo a São Paulo para assistir a uma palestra de um grande matemático americanos. Para isso, vendeu todos os seus brinquedos, quase todos os seus pertences, o que incluía seu notebook e celular. Na volta, me falou que parecia adivinhar cada palavra que o palestrante ia pronunciar. Tanto amor, dizia ela, fazia com que ela aprendesse cálculos com tamanha facilidade que era capaz de fazer exercícios mentalmente. É isso mesmo: ela realizava, mentalmente, todas as etapas para realizar cálculos complexos.

Este caso mostra que a aluna conseguiu transformar as suas emoções em afeto, carinho, ou seja, manuseio emocional do entendimento que tem do mundo e das coisas. Não tem um professor a lhe dar segurança emocional e nem um pai (como no caso do meu filho) a lhe acalmar os ânimos e a lhe ensinar a lidar com as frustrações. Ela aprendeu, claro que muitas vezes com a ajuda dos outros, a lidar com os erros, equívocos, frustrações, aflições e toda sorte de adversidade que o aprendizado da matemática (e todo tipo de aprendizado) pode trazer. Ela compreendeu que o sucesso, o aprendizado desejado, enfim, o alcance do objetivo pretendido (assim como todo tipo de objetivo) tem um preço a ser pago. Nada é de graça. E quanto maior for o preço que o aprendizado requerer, maior terá que ser o domínio sobre as emoções, de maneira que há uma relação diretamente proporcional entre o tamanho do sucesso e o controle emocional, para que o sujeito não sucumba.

Parece que o afeto, o tratar as coisas com carinho, é a ponte que liga as emoções descontroladas, como é o caso das paixões, com a plenitude de convívio que o amor proporciona. Amar não é um sentimento, não é sinônimo de afeto, carinho. É uma etapa posterior. A etapa do afeto é que prepara o caminho para o estágio final do amor e se caracteriza pelos prenúncios de reconhecimento que ele, o indivíduo que quer aprender, é limitado. Essa limitação lhe faz sentir carinho por si mesmo, cuidando para que as dificuldades e imperfeições sejam amenizadas ou eliminadas com o preço da busca do entendimento e da aplicação do que foi entendido. No estágio final da etapa intermediária, a aplicação do entendimento passa a primeiro plano, uma vez que um único entendimento tem diversas possibilidades de aplicação. É aqui que o amor começa a se instaurar e a tomar conta das ações do indivíduo que aprendeu.

Mas entre o automatismo instintivo, em que o indivíduo responde sem pensar a qualquer agressão, ao início da implantação do amor na mente e no coração do indivíduo, um longo caminho terá que ser percorrido. E cada estágio em que se encontrar vai estar registrado no seu cérebro. Quando é feito com emoções negativas, como no caso de raiva, o registro é tênue, como os rabiscos feitos em areias finas de praias; quando é feito com afeto, diz-se que perdura por toda uma vida; mas quando é feito com amor, está-se registrando em vários pontos do cérebro. E se aquele entendimento é utilizado inúmeras vezes para o bem, muito provavelmente terá sido registrado no corpo espiritual, que a ciência começa a demonstrar que existe, e que explica as habilidades inatas dos gênios como Mozart, por exemplo.


 

Daniel Silva é Phd, professor e pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e escreve todas às sextas-feiras no ac24horas.

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