Querido Papai Noel…
Eu sei que minha cartinha está chegando um pouco tarde, mas é que não tive tempo para escrevê-la antes. Estive ocupado resolvendo muitos problemas de ordem pessoal, que vão desde pegar uma fila para conseguir uma consulta médica na rede pública, até outra fila onde sou tratado como gente, que é a das eleições. Pois é, este ano fui paparicado duas vezes.
Fui tão importante Papai Noel!
Duas vezes esteve nas minhas mãos a decisão de escolher quem ia mandar em nós. Mas quem mandou bem foi Sebastião, que nos garantiu que teríamos mais saúde, mais educação, mais segurança, mais moradias, mais tudo… e em algum momento até achei que teria o melhor Papai Noel do Mundo.
Papai Noel ele prometeu que queria ser bonzinho. Garantiu que as crianças teriam mais atenção, que os idosos seriam mais respeitados e não ia deixar roubar no seu novo governo. Fiquei tão feliz que votei e ainda pedi votos pra ele, pois os outros dois não foram simpáticos e nem riram quando Sebastião disse que isso aqui ia virar a terra dos sonhos.
Hoje acho que estou triste, porque não está acontecendo o que ele prometeu. E até os professores, Papai Noel, que todo dia ensinam criancinhas e jovens, foram ameaçados de não receberem seus salários. Os deputados, Papai Noel, que deveriam garantir ordem no cumprimento das leis, calaram-se e restou a nós mostrar o lamento e dor desses homens e mulheres que também sonham com um Natal de alegria, fartura e paz.
Papai Noel, Sebastião tem sido duro. Tá mudando quase todos da sua equipe que fizeram parte do governo na primeira vez. Diz que quer cara nova e promete uma mudança da água para o vinho. O senhor acredita nisso?
Eu, sinceramente, não acredito mais não, Papai Noel. Até os panetones que foram instituídos nos governos do seu irmão, Jorge Viana, e depois seguidos no governo do Binho, ele se nega a distribuir aos servidores. Ele prefere fazer visitas e reunir a turma num mini comício institucional para reafirmar que ama a todos e que faz de tudo para ser melhor do que os outros que já sentaram naquela cadeira de governador. Depois da um beijinho em um cargo comissionado, um abraço em outro e vai saindo de mansinho com aquele cordão de puxa saco em fileirado.
Este ano ele mandou mudar a decoração de Natal dos prédios públicos. Agora tem mais luz, tem mais retreta, tem mais teatro… Mas daqui a pouco também vamos descobrir que ele gastou mais do que devia e que isso vai faltar para outras coisas, como para o Natal do educandário Santa Margarida e outras instituições que sempre são esquecidas.
Mas eu tenho fé que sendo ele devoto de São Sebastião, ainda vai fazer a sua oração, sem a interferência daquele desembargador embriagado, e vai pedir forças ao seu santo para cumprir tudo que prometeu na campanha eleitoral. Tomara que ele se confesse com o Padre Mássimo e que o Padre Asfury não esteja nem por perto para tomar o vinho da Santa da Missa e nem interfira na boa fé do nosso governador.
Se o padre Mássimo perguntar sobre os pecados dele, eu sei que ele vai se penitenciar de coisas erradas que alguns de seus subordinados fizeram. Até porque vai ser um momento entre ele, o padre e Deus e, ninguém mais precisa saber.
O que eu mais quero de presente neste Natal, Papai Noel, é que Deus ilumine Sebastião… Que ele, com o poder que tem, investido no manto da governança do Estado, garanta que seu esforço poderá diminuir o número de mortes nas filas do TFD; que nenhum paciente de doença crônica precisará ir à Justiça para garantir remédio para sua cura; que na maternidade, mães serão tratadas com carinho e terão direito a partos dignos e, que aqueles que não têm onde morar vão ter direito a um lugarzinho para abrigar a família.
O senhor acha que meu pedido é justo, Papai Noel? Se for, toque o coração do Sebastião e dê a ele sabedoria para realizar, pelo menos em parte, tudo que estou te pedindo.
Obrigado.
Ah, ia me esquecendo: não esqueça da minha Caloi. Ela não precisa ser elétrica não, daquelas da China que o Sebastião queria doar. Quero dessa nacional mesmo. É mais barata…
Um beijo Papai Noel
