Menu

Pesquisar
Close this search box.

OPINIÃO – Aos desavisados, um aviso: vai ter carnaval no Acre

Receba notícias do Acre gratuitamente no WhatsApp do ac24horas.​

O cancelamento do carnaval na Arena da Floresta acabou por promover e incentivar o carnaval de bairros, de rua e as festas alternativas. A cultura do Acre agradece, pois a festa, como acontece em diversas partes do Brasil, ao entrar no esquema abadá-trio elétrico, sufoca as manifestações tradicionais, intimidam a expressão cultural e torna-se, simplesmente, entretenimento de qualidade duvidosa.


O abadá – que uniformiza, ocupa o lugar das fantasias, que diversificam em seu universo lúdico político, criativo e estético. O samba, as marchinhas, a música popular brasileira é substituída pela música mercantilizada, planejada por uma grande indústria de entretenimento de massa. Pior ainda, as expressões musicais regionais e toda a sua potencialidade perdem a voz sob o barulho dos trios.

Anúncios


Neste tipo de festa, as ruas são substituídas por estacionamentos, por mega-espaços de shows. Perde-se a característica de cultura popular, de fato. O coletivo não é mais valorizado, pois o carnaval, até então, sempre promoveu a socialização nos blocos, no fazer a fantasia, no discutir o tema, no decorar a rua.  Incentivava, assim, a descoberta de diferentes talentos nas comunidades: artistas, cantores, compositores, músicos, dançarinos, artesãos, produtores, lideranças.


Aos pastores que vieram a público manifestar sua alegria com o cancelamento do carnaval no Arena informa-se: vai ter carnaval no Acre.  Aos que celebraram o fim do carnaval, aos mais exaltados que declararam que a festa deveria definitivamente terminar no Acre, no Brasil, no mundo, fica o aviso: se um dia o carnaval, de fato, acabar, podem ter certeza, parte, grande parte, da alma brasileira morre junto.


Ao contrário do que muitos afirmam, só dar uma olhada nas redes sociais nas quais pipocam as mais variadas bobagens, o carnaval, enquanto expressão cultural, não é uma festa alienante, mas um momento, ousa-se dizer, político também. Um momento estético. Por que não, uma catarse coletiva?


Pode-se observar nos blocos carnavalescos denúncias, descontentamentos, revoltas e reflexões são manifestadas nas fantasias. O que não pode dizer-se é dito. Políticos e opressores são satirizados, trabalhadores tornam-se reis e rainhas. O oprimido tem a chance de explodir sua indignação e sua majestade. Vem ver de perto uma cidade a cantar a evolução da liberdade que se chamava carnaval, já cantou Chico.


O carnaval é político. Não vou entrar aqui no seu valor estético e cultural, precisa-se de páginas para fazer um pequeno recorte de toda a sua dimensão.


O Carnaval e o Acre


 Teria sido um grande equívoco se o Governo do Acre tivesse cancelado o carnaval e não ter oferecido alternativa. Não foi assim. Ao cancelar o evento, nos moldes descritos no inicio desde texto, ele ofereceu apoio ao carnaval de bairros e manifestações populares. Um acerto. Cumpre uma política cultural que tende a se solidificar, ao promover atividades legítimas por toda cidade. Não é mais o carnaval do não lugar, da não música, da não fantasia.


Porém, ao anunciar um carnaval fora de época, acaba por não perceber o grande passo que está dando e nega sua própria iniciativa. A Fundação Garibaldi Brasil, em conjunto com a Fundação de Cultura Elias Mansour, estão se esforçando para garantir um verdadeiro carnaval popular, respeitando as manifestações de cada bairro.  Não precisa da festa espetáculo, esta sim, alienante.


Aos gestores de cultura sugere-se que o recurso investido nos carnavais trio-elétrico abadá possam potencializar ainda mais as ruas e eventos alternativos, reforçando a participação popular e artistas locais. Que tal editais com este recurso para este fim?


Por fim, aos desavisados, vamos ter carnaval no Acre. Do melhor tipo. O calendário está muito mais diverso e rico que nos anos do Arena, Pachaval, no sábado de carnaval, promovido pelo grupo do Festival Pachamama, que resgata a tradição dos bailes ao som de marchinha na Tentamen; cortejo Banzeiros, no domingo, com o melhor da cultura popular: Seo Antônio Pedro, Zé Jarina, Tambor de Fulô, realizado por um grupo de artistas que tem a promoção da cultura acreana  como foco. Até mesmo festas de música eletrônica, como a In Gov Carnival Edition, trazendo ainda mais diversidade e ritmos para esta grande festa brasileira.


Aos que não entenderam nada e praguejam contra o carnaval, tudo bem, vai passar por esta avenida um samba popular e cada velho paralelepípedo da velha cidade vai se rebelar…


Sergio de Carvalho é cineasta.


INSCREVER-SE

Quero receber por e-mail as últimas notícias mais importantes do ac24horas.com.

* Campo requerido