Familiares e amigos do agricultor Margarido Pereira da Silva, 41 anos, estão desde o início da manhã desta segunda-feira (16) no prédio do Instituto Médico Legal (IML) em busca de informações sobre a morte do trabalhador, que foi encontrado em avançado estado de decomposição na ultima sexta-feira (13) em um matagal no Ramal do Cacau.
Margarido da Silva estava desaparecido desde o dia 8 de dezembro, quando saiu de casa para comprar alimentos e não mais voltou.
O agricultor era um dos mais de 280 posseiros que ocupam uma área de terra em conflito há mais de um ano. O corpo de Margarido da Silva foi encontrado cinco dias após seu sumiço em a área de matagal as margens do ramal, próximo à entrada da fazenda Canary, cujo o proprietário disputa na Justiça a posse das terras com os invasores.
Apesar do corpo ter sido encontrado na sexta-feira, somente na manhã de hoje (segunda-feira) é que foi liberado para o sepultamento, mas como o laudo cadavérico não apontava a causa da morte os posseiros se revoltaram.
“É desumano o que estão fazendo com essas famílias, meu marido morreu e tenho a certeza que foi por pura maldade, pois estamos sendo vítimas de ameaças e perseguições, desde o seu sumiço que estou na casa de amigos, pois tenho medo de morrer também. Agora eles vem dizer que nãos sabem de que meu marido morreu, isso é achar que somos burros”, disse Neuza Aparecida Correia Lopes, mãe de oito filhos e viúva de Margarido Silva.
Neuza Aparecida, disse também que vem sofrendo constantes ameaças e afirmou que dias após o sumiço do seu marido, um grupo de homens não identificado foi até a casa onde ela estava hospedada com os filhos, nas proximidades da Ponte do Rio Antimary, e chamaram pelo nome de sua filha, de apenas 10 anos, fato em que ela acredita que queriam sequestrar sua filha.
“Estavamos na casa de um conhecido quando tarde da noite alguns homens pararam com um carro na frente da casa e começaram a chamar pela minha filha de 10 anos, ela estava dormindo e foi os donos da casa que abriram a porta, ai o grupo entrou rapidamente no carro e saíram em disparada, tenho a certeza que eles queriam fazer algum mal a minha filha”, afirmou a viúva.
Discursão e troca de acusações
Quando a reportagem de ac24horas chegou ao IML foi recebida por representantes dos posseiros do Ramal do Cacau e pelo vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), José Janes, que afirmaram que o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Nilson Mourão estava no local tentando convencer os familiares a sepultar o corpo de Margarido Silva que já estava liberado.
De acordo com os denunciantes, Mourão não queria que os familiares soubesse qual a causa da morte do agricultor e que aceitassem o laudo que aponta para causa indeterminada.
A reportagem procurou o secretário para saber qual seu posicionamento diante as denuncias que estavam sendo feitas pelo sindicalista e pelos posseiros, bastante nervoso, Nilson Mourão falou em tom alterado com o jornalista e chamou José Janes de mentiroso, afirmando que não daria declarações para uma matéria mentirosa baseada em declarações infundadas.
“Esse rapaz é um mentiroso e não vou me pronunciar para uma matéria que será escrita de forma mentirosa e com base em informações falsas e infundadas”, esbravejou o secretário.
Logo depois, um pouco mais calmo o secretário de Direitos Humanos disse que foi ao IML para saber o que estava acontecendo e que aguardava a chegada do diretor do Instituto para saber quais seriam os procedimentos adotados.
Minutos depois o secretário mandou que sua secretária chamassem a viúva de Margarido Silva e alguns assessores, além do vereador Marcelo Jucá para se reunirem com o diretor do IML Thiago Martins e Silva, mas mandou barrar a entrada do presidente do movimento dos trabalhadores rurais do Ramal do Cacau, Jânio Mesquita da Silva.
A decisão do secretário causou novo descontentamento entre os posseiros que ficaram esperando o termino da reunião na porta do gabinete do diretor do IML e o acusavam de praticar Direitos Humanos para ricos e poderosos lembrando o episódio da Operação G7, onde Mourão deu plantão na sede da Polícia Federal para falar com os acusados presos durante a ação.