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Diretora da escola Armando Nogueira oferece comida a terceirizados com salário atrasado e é afastada por furto de alimentos

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A ex-diretora da escola estadual Jornalista Armando Nogueira, em Rio Branco, Ada Cristina, foi afastada da função de gestora após oferecer a servidores terceirizados da escola alimentação da merenda escolar e divulgar na última sexta-feira (12) um vídeo em que mostra a situação precária de um carregamento de carne entregue pela Secretaria de Estado de Educação para preparo da merenda escolar.


No vídeo que circula em redes sociais, Ada Cristina mostra a triagem de uma carne em que parte considerável é composta por peles, nervos e gorduras. O vídeo foi postado em um grupo de pais de alunos e gerou grande revolta.

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De acordo com Ada Cristina, a gestão da escola fez reclamações sobre a qualidade e quantidade de alimentos entregues pela SEE, fato que resultou em suposta perseguição. “Há tempos eu venho fazendo reclamações. Ano passado mandei voltar uma charque que chegou com sangue, a secretaria mandou lavar e cozinhar. Toda vez que damos ciência de algum problema, a SEE, ao invés de resolver, fica chateada conosco. Ontem, algumas horas depois de divulgar o vídeo em um grupo de pais, dois funcionários me entregaram o resultado de uma sindicância com o meu aviso de afastamento”, disse.


O secretário de Estado de Educação, Aberson Carvalho, disse que o afastamento de Ada foi lançado em portaria na segunda-feira (8), mas ocorreu em razão de furtos de merenda escolar que estariam ocorrendo com a ciência e participação da gestão da escola (veja o contraponto abaixo). Por isso, segundo Aberson, Ada e funcionários da cozinha foram substituídos. “Existem vídeos dentro do processo, que está inclusive no Ministério Público, de furto de merenda escolar”, conta Aberson.


Sobre a qualidade da carne mostrada no vídeo, Aberson Carvalho diz que há um protocolo que dá margem técnica para até 20% de gordura na carne. “Qualquer coisa fora dessa margem, a escola pode informar diretamente à empresa para fazer a troca, porque eu não tenho como fiscalizar todo alimento de toda escola. Ela errou em não notificar diretamente a empresa, porque é ela quem assina quando o material é entregue. Ela só trouxe essa denúncia por causa do afastamento dela, resultando de um processo administrativo. Aí quer ganhar pauta”, afirmou o secretário.


O ac24horas teve acesso, com exclusividade, aos documentos da sindicância.


De acordo com um relatório técnico, no dia 20 de julho de 2023, duas nutricionistas na Divisão de Nutrição Escolar, Lorena Lima e Noraya Lima, estiveram na escola Jornalista Armando Nogueira para verificar o motivo de sucessivas solicitações de complementação escolar.


Na vistoria do espaço físico, as nutricionistas verificaram higiene insatisfatória, a utilização de papelão que pode atrair pragas e falta de etiquetas de identificação em alimentos. Mas chamou a atenção a alimentação de funcionários da escola: “Durante o acompanhamento do almoço, observou-se que, além de alunos, alguns funcionários do colégio também realizavam refeição do almoço juntamente com os alunos. Foi informado que diariamente uma média de 60 funcionários, sendo esses 27 professores, 20 [pessoas de] apoio, 9 terceirizados e 1 VIP [possivelmente um segurança] também se alimentam da merenda escolar”, diz o relatório.


No dia 28 de julho, as nutricionistas retornaram à escola para retomar o acompanhamento da merenda da escolar, na qual identificaram uma oferta “superestimada” de refeições no local. “Foi exposta uma preocupação por parte da gestora (Ada Cristina) com servidores que não conseguem ir em casa se alimentar e com terceirizados com situações de atraso salarial, sendo a justificativa para a atual oferta da alimentação escolar aos mesmos”, diz o relatório. Naquele mesmo dia, a equipe de nutrição anotou que houve falta de comida para alunos que chegaram à fila da merenda atrasados.


Mais tarde, naquele mesmo 28 de julho, uma das nutricionistas alega ter recebido denúncia anônima dando conta de que a gestão da escola escondia em um depósito na biblioteca alguns alimentos que deveriam estar na despensa. “Ao retornar para a escola a informação pôde ser confirmada e a presença da gestora foi solicitada para explicar tal situação”, narra o relatório.


Foram encontrados no “depósito da biblioteca”: 1 caixa de abacaxi, 2 caixas de maçã, 2 caixas de laranja, 1 caixa de aveia, 2 caixas de alho, 1 caixa de óleo e 2 caixas de ovos que, segundo a diretora, aguardavam espaço para armazenamento da geladeira particular de professores para um melhor condicionamento. As nutricionistas apontam como inconsistência uma solicitação informal para a providência de mais alho e aveia, sendo que a existência desse segundo “depósito” jamais havia sido mencionada. O relatório aponta ainda que na geladeira dos professores haviam 4 unidades de manteiga, 8 quilos de queijo mussarela, e numa mesa próxima havia pão, queijo e mamão abertos e prontos para consumo.


Em defesa ao processo de sindicância, Ada respondeu que a visita da SEE à escola aconteceu um dia após uma denúncia feita em redes sociais sobre as condições alimentares dos alunos por meio do deputado estadual Emerson Jarude (NOVO). A gestora ainda defendeu que os apontamentos de armazenamento impróprio de alimentos apenas reforça a necessidade de maiores investimentos da SEE na escola Jornalista Armando Nogueira e disse que caso os funcionários não façam o almoço nas dependências da instituição os alunos ficarão desassistidos: “… os profissionais da Escola em Tempo Integral auxiliam a cuidar dos estudantes durante o lanche e o almoço, pois a escola conta com poucas inspetoras e estas são idosas e muitas possuem doenças, impossibilitando que seis senhoras consigam dar conta de mais de 300 alunos num espaço físico enorme como o da Escola Armando Nogueira. Se cada professor e funcionário resolver usar seu horário de almoço para ir comer onde quiser, a escola ficará desassistida durante esse horário”, diz trecho da defesa.


Sobre o condicionamento de frutas em um local improvisado na biblioteca da escola, Ada Cristina explica que o local é o posto do vigilante da escola e é refrigerado, ao contrário da despensa da cozinha, e que, por isso, lá estavam guardados alimentos perecíveis.


Ada Cristina procurou o Ministério Público e pretende acionar na Justiça o secretário de Educação pela acusação de furto da alimentação escolar.


O secretário Aberson Carvalho, por sua vez, também mencionou que há uma investigação do Ministério Público sobre o caso e disse não poder dar mais detalhes.

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Veja o vídeo:


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