Menu

Pesquisar
Close this search box.

Jornalista comenta “o triste fim da Frente Popular do Acre”

Receba notícias do Acre gratuitamente no WhatsApp do ac24horas.​

E se encerra a experiência política mais exitosa registrada no Acre: o governo da Frente Popular do Acre (FPA). Exitosa em parte, porque os últimos quatro anos foram decepcionantes, especialmente para os militantes do PT, principal partido dessa coligação. O governo de Tião Viana, em seu último mandato, foi desastroso e findou de forma vergonhosa, decepcionando aqueles que lutaram por esse projeto político. Tião foi incompetente como gestor do Estado e provou nos últimos dias de seu governo ao deixar os servidores sem o sagrado décimo terceiro.


Quem me acompanha sabe que sempre tive muito respeito e admiração por Tião Viana. Este ano, porém, com a condução desastrosa que culminou com vergonhosa derrota de Marcus Alexandre e do PT como um todo no Acre, minha opinião começou a mudar. Tião foi o principal responsável por essa derrota. Suas decisões e escolhas concorreram diretamente para isso. Entre elas, destaca-se a escolha do candidato a vice de Marcus Alexandre para o Governo do Estado: Emylson Farias. Conheço Emylson há muito tempo. É um cara bom. Mas, cá pra nós, diante da conjuntura política que se vivia naquele momento, principalmente na área da Segurança Pública, Emylson Farias não ganharia nem para porteiro de banheiro de rodoviária.

Anúncios


Tião também tem grande responsabilidade com a derrota de seu irmão, Jorge Viana, na tentativa de reeleição ao Senado da República. O governador não fez nada para impedir a candidatura de Ney Amorim. Deveria ele saber que seria difícil que o eleitor votasse em dois candidatos da FPA. Deu no que deu, nenhum dos dois foi eleito. Permitiu, ainda que a tendência Democracia Radical, a nefasta DR, se fortalecesse em baixo de suas barbas. A DR trabalhou mais para a derrota de Jorge Viana do que qualquer outro candidato de oposição.


Empoderada, essa tendência também fez do PT um partido de projetos pessoais daqueles que nunca desejaram o fortalecimento das forças populares, o empoderamento feminino, as políticas para os jovens e o verdadeiro pacto de gerações e de gêneros.


Cercado de assessores incompetentes, especializados em dizer ao governador o que ele queria ouvir, Tião Viana valorizou aqueles que pouco ou quase nada tinham a ver com a construção da FPA.


Desde os meus 16 anos que milito na esquerda. Também dei minha contribuição para o projeto da Frente Popular. Por isso tenho direito e legitimidade para grafar esse texto que agora leem. Quando foi preciso, fiz minhas críticas ao governo e ao PT publicamente e nos fóruns políticos que participei. Creio ter sido eu o único jornalista do Acre a processar o governo e o faria novamente caso necessitasse. Por isso repito: tenho direito e legitimidade para dizer tudo que digo aqui.


Tião Viana, nos últimos quatro anos, atuou como um “Midas” ao contrário. Destruiu o legado da Frente Popular. Entregou a Cameli um Acre bem parecido àquele que seu irmão, Jorge, recebeu de outro Cameli.


Queiram ou não queiram, o atraso no pagamento de parte do décimo terceiro se iguala aos salários que Orleir deixou de pagar aos funcionários públicos lá no final da década de 1990. Isso sem falar dos mais de dez mil terceirizados que não recebem há mais de três meses.


Aquele cuidado que se tinha com o patrimônio público na época de Jorge e Binho, foi deixado de lado. Um exemplo claro são os espaços de cultura como os museus. Está tudo feio, tudo acabado. Vi crescer ali nas laterais do Theatro Hélio Melo, pequenas árvores, os apuís, que mostravam claramente o abandono daquele belíssimo lugar. Depois de meses, alguém teve a coragem de ir lá e cortá-la. O mesmo aconteceu em muitos outros lugares.


Um dos projetos que mais me doeu ver abandonado foi o Floresta Digital, criado por Binho Marques. Esse foi um dos mais importantes programas de inclusão digital e social. Mas, para Tião Viana, o Floresta Digital não tinha a mesma importância quanto aquele programa que trazia bodes e cabras do Nordeste para Acre.
Cheguei a fazer uma crítica pública em relação a isso lá no início do primeiro mandato de Tião Viana.


A TV Aldeia, que deveria ter sido um polo de irradiação da cultura e educação acabou como sucata. Só funcionou por tanto tempo graças aos abnegados funcionários da emissora.


Não se pode creditar a Tião Viana, no entanto, todo o mal feito à área de comunicação no Acre. O mérito é mesmo de todos os três governadores da Frente Popular. Começou lá atrás com Jorge Viana. Jorge foi aquele que deu início ao fim da imprensa do Estado e fez isso tão bem que o seu sucessor, Binho Marques, não fez grande esforço para continuar esse trabalho. Tião, idem. Hoje, temos uma imprensa morta, subserviente e incapaz de sobreviver aos duros anos que virão pela frente. E, como jornalista, me incluo a esse marasmo jornalístico criado pela Frente Popular e seus governantes. É claro que existem exceções, mas, no geral, nos tornamos todos jornalistas de coisa nenhum.


A prioridade do governo Tião Viana foi para projetos que pouco ou nada renderam. Um levantamento recente divulgado em um site local, mostrou que menos de dez por cento de suas propostas de governo foram realmente cumpridos. Os lançamentos das obras e programas não contavam com participação popular. Também não foram pensados a partir de planejamentos e estudos que levassem em conta o público alvo. Por isso tanto insucesso.


Aí alguém me diz: “Por que só agora você diz tudo isso?”. Porque, para mim, o momento certo é esse. Na verdade, o momento certo seria o último dia do ano, o dia 31 de dezembro de 2018, mas acabei envolvido em uma porção de outras coisas, por isso não conclui esse texto em tempo. Então, vai agora.


Outro motivo é que sou primeiro militante político, depois jornalista. Como militante, a gente pensa sempre em proteger aquilo que defende e acaba se omitindo. Assumir isso não é fácil, mas é preciso dizer que eu e outros tantos que pensam igual, têm culpa, também, por toda esse quadro que pintei acima. Quem se omite tem igual responsabilidade do autor do dano. E, sendo assim, confesso estar envergonhado.

Anúncios


Sobre aquele respeito e admiração que disse ter por Tião Viana, confesso que se transformaram em aversão. Para mim, Tião nada mais é que um homem pequeno detentor de um ego enorme.


Quero deixar claro que ao escrever esse texto, ao fazer críticas a Tião Viana, à FPA e ao PT, não estou validando o Governo de Gladson Cameli, nem me vendendo aos que até outro dia eram oposição. De jeito nenhum! Continuo pensando a mesma coisa sobre esses.


E quanto ao PT? Ainda acredito no PT. Acho que esse é um partido capaz de se reerguer e voltar aquele partido verdadeiramente dos trabalhadores. Para tanto, é preciso que homens e mulheres de luta expulsem esses boçais que se apossaram dele.
Feito o meu desabafo, aproveito para desejar a todos um 2019 de muita luta, mas de sucesso e muitas conquistas.


Tião Vitor
Militante político e jornalista


INSCREVER-SE

Quero receber por e-mail as últimas notícias mais importantes do ac24horas.com.

* Campo requerido