O caso vinha sendo mantido em sigilo absoluto. Servidores interrogados no início da tarde pela reportagem do ac24horas disseram que receberam ordens expressas de não falar nada, nem para familiares, sobre a agressão sofrida por um vigilante e a invasão da sede da SEHAB na Cidade do Povo no último domingo (3). A secretária de habitação e interesse social, Janaina Dourado, se negou a falar com nossa reportagem. O que a Policia Civil vem chamando de depredação do patrimônio público, aconteceu a menos de 100 metros de um posto da Policia Militar.
O caso aconteceu no último domingo. Embora a sede pública invadida seja do órgão envolvido em um dos maiores escândalos do atual governo, a venda e compra de casas populares do Programa Minha Casa, Minha Vida, investigado pela Polícia Civil e o Ministério Público Estadual, os operadores da Segurança Pública, estranhamente, não deram publicidade sobre os fatos.
Na tarde de hoje (5), uma denúncia anônima feita à redação do ac24horas deu pistas sobre o acontecimento. Procurada, a assessoria do governo, por meio de informações da Secretaria de Segurança Pública (SESP), informou que ocorreu uma depredação do escritório da SEHAB na Cidade do Povo. Depois disse que um vigia (de nome não revelado pela SEJUSP) que estava escalado no plantão de domingo, foi agredido e forçado a abrir a sala onde ficam os documentos da secretaria de habitação.
A reportagem do ac24horas foi até o escritório, localizado na Praça I da Cidade do Povo. A coordenadora, identificada como Maria, não estava no local. Segundo servidores, ela tinha ido para a sede da SEHAB, localizada no Distrito Industrial de Rio Branco.
No ambiente de duas salas amplas, com poucos funcionários e mesas vazias, prevalece a lei do silêncio. Ninguém estava autorizado a falar uma linha sobre o ocorrido, “nem para familiares” , disseram os presentes que não permitiram fotos, nem gravação e muito menos a divulgação de seus nomes.
Não há sinais de arrombamento. O vigia, segundo versão de testemunhas, foi agredido e obrigado a abrir a porta de vidro que é o principal acesso ao escritório. Nem a Policia Civil e nem a SEHAB disseram o que foi levado da sede.
A policia Civil disse que a primeira linha de investigação “aponta que foram no intuito de roubar a arma do vigilante”, cujo nome é mantido em segredo. “Mas só o desfecho do inquérito policial vai dizer”, acrescentou a assessoria.
Com relação a falta de publicidade para o fato de interesse público, a assessoria disse que “não houve divulgação porque não fomos demandados. Você [se referindo ao repórter] foi o primeiro a nos procurar sobre o assunto”, concluiu.
FATO ESTRANHO
O que a Polícia chama de depredação do escritório da SEHAB, ocorre 120 dias após a deflagração da Operação Lares, que investiga com apoio do Ministério Público Estadual, o que o “monstruoso esquema” de vendas e compra de casas populares, uma verdadeira “imobiliária” implantada dentro da SEHAB.
Na segunda fase da Operação, quando foram presos quatro agentes, três deles servidores públicos, o delegado Roberth Alencar e o secretário Ermilson Farias, deixaram claro a tentativa de destruição de provas por parte dos acusados.
A Cidade do Povo é apontada por uma das principais indiciadas no processo, Rossandra Melo, como um dos locais para onde foi distribuído pelo esquema, casas populares negociadas irregularmente. A Policia Civil disse que não vai se intimidar com a tentativa de vândalos criminosos e vai colocar todo o seu esforço na elucidação de mais esse fato.
Embora os operadores de segurança pública tenham afirmado reforço na segurança do local, hoje por volta das 15 horas, nenhuma viatura, vigilante ou militar estavam na guarita que fica a menos de 100 metros do escritório da SEHAB.