*Narciso Mendes
O pouco apreço, diria até, o desapreço dos nossos partidos políticos em benefício da nossa própria democracia, certamente, acabaria nos levando, como de fato já nos levou, a termos uma das piores, senão a pior estrutura partidária do mundo, até porque, nem nas mais atrasadas republiquetas existentes mundo afora, encontramos nada pior. Trata-se de mais uma das nossas indesejáveis jabuticabas.
. Parece piada, mas não é. Nosso Congresso Nacional é constituído, por enquanto, haja vista o viés de alta, de parlamentares provenientes de 30 partidos políticos distintos, diga-se de passagem, algo impensável nos EUA, na Inglaterra, na Alemanha, na França ou quaisquer das respeitáveis democracias do planeta.
Fosse da quantidade dos seus partidos que dependesse a qualidade de uma democracia, sem dúvidas, a nossa seria uma das mais saudáveis do planeta, ocorre que, não é da quantidade, é sim, da qualidade dos seus partidos políticos que depende a saúde de toda e qualquer democracia, da nossa, particularmente.
A primeira conseqüência derivada do elevado números dos nossos partidos políticos diz respeito à imprescindível e improrrogável necessidade que tem todos os governantes, seja ele quem for e a que partido pertencer, para compor sua maioria parlamentar, posto que, sem a referida maioria, simplesmente, o governante não consegue governar. Não só na esfera federal, também nos Estados e municípios, tais maiorias são conquistas à base de negociatas. Com ou sem choro.
. Ocorre que, para conquistar a tal maioria, o governante terá que esquartejar a sua correspondente máquina pública, e sair entregando os pedaços aos partidos que se predispuserem a fazer parte da sua chamada base de sustentação política. Os escândalos do mensalão e o do petrolão decorreram, essencialmente, de tal esquartejamento. E outros certamente hão de vir, caso não se feita uma ampla e radical reforma na nossa estrutura partidária.
Se o que está ruim ainda pode piorar, a despeito das crises que o nosso país está enfrentando, as mais graves de toda a nossa história, o chamado fundo partidário, a menina dos olhos dos nossos partidos políticos, este ano, teve um aumentozinho de quase 200%.
Enquanto a nossa tão esperada reforma política não vem, a seu jeito e modo, nossos congressistas vão procedendo de acordo com os seus próprios interesses. A provar que sim, decidiam abrir uma janela na nossa legislação a fim de permitir, e de forma escancarada, que eles mesmos possam trocar de partido sem prejuízos dos seus mandatos.
Por fim: um país que tem uma estrutura partidária que chega a legalizar a infidelidade partidária, não pode se surpreender com os escândalos dos seus representantes políticos, afinal de contas, como bem diz o ditado popular: todo pé aleijado procura uma bota torta.
Narciso Mendes é proprietário do Complexo de comunicação O Rio Branco.
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