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Ex-cartola do RBFC revela como foi a construção da Galeria José de Melo

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Paraense de Belém, onde nasceu em 21 de janeiro de 1938, o hoje proprietário da Verágua Sebastião Melo de Alencar mudou-se para o Acre aos 29 anos, em 22 de janeiro de 1967, para exercer o cargo de gerente de uma empresa do ramo de transportes aéreos. Mudou-se e permanece até os dias que correm, não pretendendo jamais abandonar o Estado que, de acordo com ele, o recebeu “de braços abertos”.


Torcedor do Clube do Remo no seu Estado natal, Sebastião Alencar não podia deixar de lado o futebol só porque mudou de endereço. E assim, sem saber bem o porquê, logo se viu associado e torcendo pelo Rio Branco Futebol Clube. Tanto que, oito anos depois, em 1975, já estava atuando no posto de vice de um presidente chamado João Carlos Ferreira Costa.

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João Carlos Costa acabou deixando o cargo no meio do mandato, depois de ser suspenso pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), por conta de uma confusão na decisão do campeonato de 1975, contra o Juventus. Alencar, então, o substituiu e depois disso foi eleito para outros seis mandatos: 1979/1980, 1981/1982, 1989/1990, 1991/1992, 1997/1999 e 2000/2002. Mais quatorze anos como presidente!


Confira a entrevista:


. O seu início como dirigente de clube no futebol acreano… Como é que isso aconteceu?


Sebastião Alencar – O meu ingresso no Rio Branco se deu por conta de um convite que eu recebi do advogado Edmir Borges Gadelha e do jornalista José Chalub Leite, porque na época estava havendo uma dificuldade para encontrar pessoas que quisessem compor a direção do clube. Essas dificuldades remontavam há alguns anos, desde o surgimento do Juventus. Quando o Juventus nasceu, o Rio Branco ficou praticamente acabado. Então, era um sacrifício muito grande assumir o Rio Branco naquelas circunstâncias. Além disso, o Rio Branco era um clube muito fechado. E também, naquele momento, o clube praticamente não tinha receita nenhuma. Por conta de tudo isso, os dirigentes mais antigos do Rio Branco, aquela turma mais tradicional, se recusava a assumir a direção do clube. Fomos convidados, então, para encarar o desafio, o João Carlos, que era gerente da Sabenacre, e eu, que era gerente da Vasp. Ele como presidente e eu como vice.


. Você falou que o clube não tinha recursos… O que foi que você fez para minimizar esse problema?


Sebastião Alencar – Em 1976, quando eu assumi no lugar do João Carlos, uma das minhas maiores preocupações era justamente dotar o clube de uma fonte de receita. Foi aí então que eu tive a ideia de construir a galeria de lojas, na frente do Estádio José de Melo. Mandei fazer um projeto que, aliás, paguei com dinheiro do meu próprio bolso. Mandei fazer na empresa do nosso saudoso amigo Paraíba e, no fim das contas, saiu um projeto que, para a época, era algo praticamente impossível de realizar. Era um projeto bem ousado. Depois de algumas reuniões com o Conselho Deliberativo, os conselheiros me autorizaram a fazer, com a advertência de que o patrimônio do clube não ficasse comprometido. Neste ano construí as primeiras lojas. E deixei o projeto pronto para que os próximos dirigentes dessem sequência. Mas o presidente seguinte, o Alberto Felício, não deu sequência ao projeto nos seus dois anos de mandato. Voltou-se mais para a parte social. Fez melhorias na sede, mas deixou o projeto parado. Quando acabou o mandato, ele me procurou e disse que ia tentar a reeleição e que, então, iria terminar “aquelas casinhas” que eu havia começado. Só que ele queria alterar o projeto original, tirando a parte da laje e fazendo a cobertura com telha. Isso me motivou a concorrer novamente ao cargo. Concorri, ganhei por um voto, e terminei a construção da galeria.


. E os mandatos seguintes? Fale sobre eles.


Sebastião Alencar – Na minha segunda passagem eu fiquei por quatro anos na direção do Rio Branco. Dois mandatos, portanto. Aí fiquei de fora no período de 1983 a 1988. Voltei em 1989, atendendo a um pedido do presidente da federação, o doutor Antônio Aquino Lopes, que naquele momento fazia um grande esforço para profissionalizar o futebol acreano. É que havia uma reação terrível dos outros clubes, em sentido contrário à profissionalização. Dentro do Rio Branco, mesmo, ninguém queria. E eu e o presidente Aquino entendíamos que não havia outra saída para o nosso futebol que não fosse a profissionalização. Eu posso dizer que só voltei a dirigir o Rio Branco para ajudar no processo de profissionalização. Aí fiquei mais quatro anos, até 1992. Mas no ano da profissionalização, é bom que se diga, o Rio Branco participou de uma competição promovida pela CBF para tirar os vinte e quatro clubes que formariam a segunda divisão do futebol brasileiro, fazendo uma campanha memorável e se classificando em décimo sexto lugar. O Rio Branco disputou a segunda divisão de 1990, 1991 e 1992. Deixei o clube classificado na segunda divisão. Infelizmente, em 1993 ele caiu, porém não mais sob a minha direção. Voltei mais uma vez em 1997, para um mandato três anos, já que o estatuto do clube fora modificado. E, posteriormente, cumpri o meu último mandato, de 2000 a 2002.


. Agora eu gostaria que você falasse sobre o processo de formação das equipes no seu tempo de presidente, dado que você quase sempre formou times de muito bom nível.


Sebastião Alencar – Eu sempre fui ligado a futebol, acompanhando tudo que eu podia. E pelo fato de eu ser o gerente local da Vasp, eu tinha um relacionamento muito grande, em nível de Brasil. E eu tinha amizade com muita gente que também gostava de futebol. E através dessas pessoas eu costumava tomar informações a respeito de muitos atletas. E sempre que era possível eu saía para assistir jogos por aí. De forma que, com todo esse trânsito, eu só costumava contratar jogador que eu via jogar. Raramente, mas raramente mesmo, eu contratava apenas por indicação de terceiros. Quando a contratação se dava por terceiros, normalmente alguns erros eram cometidos. Na maioria das vezes, os jogadores contratados vinham e resolviam. As contratações obedeciam a esses critérios. Na formação da equipe de 1997, por exemplo, quando o Rio Branco foi campeão da Copa Norte, ganhando a decisão em pleno Mangueirão, eu havia passado, antes, quarenta e poucos dias em Goiânia… Fui fazer um tratamento, e naquela oportunidade eu dediquei grande parte do meu tempo vendo futebol e fui anotando o nome de vários jogadores. Foi de lá que vieram Ronaldo Paraíba, Romilton, Cícero, Marcelão, Biro-Biro, Bala… Eram jogadores que eu havia visto jogar.


. Sobre títulos, Alencar, quais os que você acha que foram mais expressivos da sua época de dirigente?


Sebastião Alencar – Eu acho que chegar as oitavas de final de uma Copa do Brasil, que foi aonde chegamos em 1997, isso se configura num feito extraordinário. Eliminamos dois times, um time de Roraima e o Goiás. Só perdemos para o Flamengo, no Maracanã. E depois ganhamos a Copa Norte, como eu já disse antes. Com esse título, naquela época o regulamento dizia que o campeão do Norte seria um dos representantes brasileiros na Copa Sul-Americana, que naquele tempo se chamava Comebol. E o Rio Branco foi o primeiro clube do Norte do Brasil a representar o país numa competição sul-americana. Isso também em 1997. Jogamos contra um time da Colômbia, ganhamos lá de dois a um, perdemos aqui de um a zero e aí fomos eliminados nos pênaltis. Uma participação muito boa. E note-se que no ano anterior esse mesmo time colombiano que o Rio Branco enfrentou, no caso o Deportivo Tolima, havia tirado o Vasco da mesma competição. Agora, fora esses dois, eu fui um dirigente que ganhou muitos títulos. No tempo do amadorismo, ganhei o Copão da Amazônia duas vezes. Dos três títulos de campeão da Amazônia que o Rio Branco tem, dois deles foram comigo: 1976 e 1979. O terceiro, em 1984, foi sob a direção do Wilson Barbosa.


. A respeito da manutenção dessas equipes vencedoras… A folha tinha um alto valor? Alguém ajudava a pagar?

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Sebastião Alencar – Isso aí é uma coisa que eu até nem gostaria de falar. Isso porque naquela época não se tinha ajuda de nada. Não se recebia apoio de ninguém. O comércio aqui é fraco, não se tinha patrocínio, nada disso… Governo, nem pensar em dar alguma coisa… Nunca… Até então, os governantes exerciam o seu ofício de costas para o futebol. Então, eu tive que bancar muita coisa do meu bolso. Sem retorno financeiro algum, somente pelo prazer. Mas tudo dentro das minhas possibilidades… Nunca sacrifiquei a minha família ou os meus negócios por conta do futebol. O meu excedente, aquilo que era possível, eu bancava. Mas ressalte-se que o Rio Branco também tinha a sua estrutura, a galeria de lojas, tinha a sua receita. Além disso, nessa época a gente também conseguia algum recurso movimentando a sede social, promovendo festas nos finais de semana. Não era muito dinheiro, mas dava alguma coisa. E o que faltava, eu completava… E o Rio Branco sempre pagou rigorosamente em dias os seus atletas, nunca atrasou nada. Se duvidar, o Rio Branco talvez seja o único clube profissional do Brasil que jamais sofreu algum tipo de ação na justiça do trabalho. Nunca!


. Jogadores problema, indisciplinados… Você conviveu com alguns?


Sebastião Alencar – Quando acontecia isso de ter um jogador indisciplinado, que tava contaminando o ambiente, eu simplesmente mandava embora. Pagava e mandava embora. Eu não vou citar nomes, mas que teve alguns, isso teve. Não tem jeito. Em grupamentos humanos sempre tem gente boa e gente ruim. Mas não é difícil de controlar. Tem que ter pulso. Não pode é passar a mão na cabeça e deixar fazendo parte do grupo.


. Técnicos… Cite os melhores com os quais você trabalhou.


Sebastião Alencar – Na época do amadorismo, o melhor técnico com o qual eu trabalhei foi o Antônio Leó. Foi com ele que eu ganhei os meus dois títulos de campeão da Amazônia. Mas teve muitos outros de excelente nível profissional… O Júlio D’Anzicourt, o Alício Santos… Com o Alício Santos tem até uma passagem engraçada. Nós estávamos decidindo um título com o Independência e a gente estava ganhando por um a zero… O jogo tava tranquilo. Lá pelas tantas, já no segundo tempo, o nosso lateral-esquerdo, o Tião, foi expulso e o Alício Santos não tomou nenhuma providência para recompor a defesa do Rio Branco. E por aquele setor aberto, em poucos minutos, o Independência foi lá e fez três gols. Virou o jogo para três a um. Terminado o jogo, os repórteres foram entrevistar o Alício Santos e questionaram por que ele não tinha recomposto a defesa depois da expulsão do Tião. Resposta do Alício Santos: – E o Tião foi expulso? Quando? Mas voltando à pergunta sobre os melhores técnicos, na fase profissional um treinador que eu gostei muito de trabalhar foi o Marcelo Altino, um carioca que eu conheci trabalhando em Goiás e que foi o nosso comandante nas campanhas da Copa Norte e que levou o time às oitavas de final da Copa do Brasil.


. Formação de jogadores… O Rio Branco, ultimamente, parece que não tem aproveitado muito os meninos das divisões de base...


Sebastião Alencar – No meu tempo de dirigente, eu dei muito apoio às categorias de base, na época sob a responsabilidade do ex-goleiro Illimani Suares. Ele tomava conta dos meninos desde a categoria infantil até ao time de juniores. Inclusive o mesmo material usado pelos profissionais era usado também pelos garotos. Formamos muitos bons jogadores. Cheguei até a dar material escolar para os meninos, com a marca do Rio Branco, que eu mandava fazer em São Paulo. Eu posso até citar, dentro de meninos das categorias de base que subiram para o time de cima, gente como o Roberto Ferraz, o Othon, o Testinha, o Paulo Henrique, o Ulisses Torres, o Mauricinho, o Jorge Jacaré… Teve um time cheio de meninos chamados de Menudos. Isso na gestão do José Macedo, que me sucedeu, sob o comando do cearense Coca-Cola, que tinha sido contratado ainda na minha gestão. Esses jogadores todos chegaram ao Rio Branco bem meninos. Agora, infelizmente, nos últimos anos eu lamento que essa política de formação tenha sido abandonada. E note que teve uma safra boa recentemente. Essa meninada que está no Atlético hoje, grande parte foi formada nas divisões de base do Rio Branco: Pretinho, Polaco, Jessé, Tragodara, Josy, todos eram do Rio Branco. Infelizmente, não foram aproveitados.


. E o time atual do Rio Branco, Alencar, por que não consegue subir para a série B, embora quase sempre chegue muito perto disso?


Sebastião Alencar – O futebol do Acre tomou um impulso muito grande com a inauguração da Arena da Floresta e com o apoio, inclusive financeiro, que o governo do Estado tem dado. É uma nova etapa, uma nova vida para o futebol do Acre. Esforço e dedicação, portanto, não tem faltado. A gente pode criticar o Natal [ex-presidente do Rio Branco], mas méritos ele tem, no sentido de que é um torcedor fanático do Estrelão e de uma dedicação muito grande. Tem os defeitos dele, por ser muito centralizador, não se aconselha, sequer, com alguém, e aí comete os erros sozinho, achando que está certo. Se ele fosse mais liberal com relação a isso, entendendo que as pessoas não querem simplesmente interferir no trabalho dele, provavelmente o Rio Branco teria se dado melhor nessa caminhada. No meu entender, com todo o apoio que o time tem hoje, não tem porque não fazer bons times, não tem porque não subir. O que faltou, no meu entender, nos últimos tempos, foi diálogo da parte do presidente com as pessoas ao redor dele igualmente interessadas no sucesso do clube. E acho também que muitas vezes alguns dirigentes se deixam impressionar com a conversa de empresários de jogadores. Empresário liga noite e dia para os dirigentes dos clubes. Isso acontecia comigo. E se você se impressionar com os currículos que chegam, há um risco grande de comprar gato por lebre. Penso que isso também pode ter acontecido em alguns momentos…


. Já que você tocou nesse assunto de dirigentes, eu gostaria que você me dissesse quais os maiores com os quais você conviveu no futebol acreano…


Sebastião Alencar – Eu convivi com grandes dirigentes. Mas o principal deles, sem dúvida, foi o Elias Mansour. Ele teve a capacidade de fundar um clube e, além disso, sabia como poucos destruir o adversário. O Juventus se tornou forte, desde o seu surgimento, pela inteligência do Elias. Ele tirou tudo o que tinha de bom no Rio Branco e levou para o Juventus. É uma coisa que magoa os riobranquinos, mas tem-se que reconhecer a sagacidade do líder juventino. Ele fez do nada, sem dinheiro, só com a sua inteligência, um clube forte, como é até hoje o Juventus. Eu tive muitas divergências, muitas discussões, com o Elias, mas ele era um adversário leal. Fora das lides esportivas, a gente se dava até bem. Esse, eu acho que foi um dirigente insuperável. Não sei como ele estaria hoje, na era do profissionalismo, se vivo fosse, porque ele era contra esse tipo de futebol no Acre. Mas o Elias, no meu entendimento, foi o expoente máximo como dirigente do futebol acreano.


. Por último, Alencar, o que você gostaria de ter feito pelo Rio Branco que não teve como fazer nos seus mandatos como presidente?


Sebastião Alencar – Dentro das possibilidades do meu tempo, é bom que fique claro, tudo o que foi feito no Rio Branco não teve apoio de ninguém, foi feito por mim. Modéstia à parte. Não tive ajuda financeira de ninguém. Aquela galeria, por exemplo, ali não tem uma banda de tijolo dada por ninguém, nem pelo Governo, nem por algum empresário, nem sócios do clube, ninguém… Então, eu acho que foi uma conquista extraordinária. O que me foi possível fazer foi feito. O que eu lamento é não ter mais energia e saúde para prosseguir por mais um ou dois mandatos. Eu gostaria de ter hoje meus cinquenta anos para ter mais um período dirigindo o Rio Branco, com o advento da Arena da Floresta e com todas as ajudas que tem. Com certeza, eu acredito que poderia fazer muito bem para o Rio Branco. O sonho que eu tive para realizar no clube que não consegui foi a construção do centro de treinamento, lá na estrada de Porto Velho. Essa é a grande obra que precisa ser feita pelo Rio Branco, a obra que alguém tem que ter a coragem de iniciar. Na hora que aparecer um dirigente com uma boa visão, de que o futuro do futebol do Brasil, como já é na Europa, passa pela estrutura de um centro de treinamento, capaz de dar as condições necessárias para formar atletas, aí nós teremos chegado ao que se pode chamar ponto de excelência. Que eu me lembre, não ter construído o centro de treinamento é a minha única frustração do tempo em que eu dirigi o Rio Branco. Mas tenho consciência que era, na época, uma missão impossível!


Fonte: http://www.amazonianoesporte.com.br/


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