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Com peças únicas, empresa de artesanato indígena cria rede de clientes no Acre

Uma empresa que sempre existiu no imaginário da proprietária e que há cerca de quatro anos saiu do mundo das ideias e passou a ocupar espaço físico em Rio Branco. A Tai (https://www.instagram.com/tai.br?igsh=dzllcmgyMDl0cmQw) é uma marca acreana que incentiva o empreendedorismo feminino com a venda de uma diversidade em artesanatos indígenas. Mais que isso: vem furando a bolha da arte indígena e se consolidando na preferência de clientes locais no próprio estado, muito além dos gringos.


A marca surgiu quando Júlia Tainá Maia, de 36 anos, percebeu que seu instinto inovador e seus testes de customizações poderiam fazer algum sentido para outras pessoas em forma de vendas. Júlia sempre criou esses produtos, mas até então apenas para uso pessoal. Formada em Direito, trabalhou durante 8 anos no Tribunal de Justiça, até que um dia decidiu mudar de vida totalmente. “Larguei tudo e fui morar no Rio de Janeiro, cidade natal do meu pai. Lá no RJ eu fiz escola de teatro no Tablado, trabalhei com produção e atuação em curtas-metragens, produção de fotos e de eventos. Sete anos depois voltei ao Acre, viajei para uma aldeia indígena de amigos com a minha mãe e “refiz” as pazes com meu Estado. Engravidei dos meus filhos e cá estou, trabalhando na minha empresa Tai, e por incrível que pareça dividindo meu dia trabalhando novamente no TJAC como Assessora Jurídica. Costumo brincar dizendo que a Júlia trabalha no Tribunal e a Tainá nas aldeias”.



Para ela, foi com o nascimento da filha, em 2020, no resgate de sua ancestralidade, na reconstrução da história de sua família, que a Tai Reluz saiu da esfera intimista e foi para o mundo.


Além de favorecer o empreendedorismo feminino, a Tai também recria e customiza bolsas, roupas, acessórios e tudo o que a imaginação permitir. Por exemplo: se você tem uma peça e quer a customizar, a Júlia Tainá conversa com o cliente e juntos criam uma exclusiva.


De acordo com a proprietária, tudo teve início no dia em que ela olhou


ao redor e em tudo via arte. “Em tudo eu via a possibilidade de agregar a minha cultura indígena. Certo dia, subindo o Rio Gregório, eu comecei a ler um livro que comprei no aeroporto, que se chama “A Moda Imita a Vida” de André Carvalhal, e a partir daquele momento tudo fez sentido, percebi que tudo o que eu imaginava era real e alguém poderia se identificar com o meu tipo de arte”.


Nascida em Rio Branco (AC), no dia 6 de agosto, Dia da Revolução Acreana, Júlia se orgulha em ser descendente das etnias indígenas Manchineri, Pataxó e Tupinambá. Segundo ela, com o nascimento de seus filhos Esther Yawanawa e Ravi Yawanawa, tudo se conectou, voltou às suas raízes e o ciclo de criações se concretizou.


“A Tai é uma empresa que não se molda entre paredes, pois as criações são feitas nas aldeias, nas vivências indígenas, nos encontros de mulheres, no ateliê na capital da CEO Júlia Tainá”, relata.


A recepção dos clientes para com os produtos da Tai tem sido além do que a proprietária imaginou que seria um dia. Segundo ela, a cada peça criada, ao postar nas redes, vem a validação do produto. “A cada comentário positivo, a cada venda imediata após a publicação dos stories, tudo isso é o impulso necessário para continuar. A receptividade dos produtos tem sido muito positiva, e o que me alegra é que anteriormente as vendas eram 90% para fora do Estado e agora a sociedade acreana está conhecendo minha marca e a adquirindo”.



O processo de criação das peças não é algo solitário, tampouco pensado por uma só pessoa. A empreendedora garante que todas as peças têm mãos de várias mulheres. “As artes indígenas são produzidas por um coletivo de mulheres que a Tai se conectou ao longo das andanças pelas aldeias. São mulheres Yawanawa, Shanenawa, Huni Kuin, Apyãwa (Tapirapé) e Embera (Colômbia)”.


Após as artes prontas, elas são aplicadas e customizadas em diversos produtos no ateliê Tai.


São peças únicas, exclusivas, baseadas no consumo consciente e cada peça tem uma história, pois a cada mão que teceu o produto, deixa ali um pouco de si.


“Quero ter condições de criar tudo o que tem dentro da minha cabeça, e não é pouca coisa. Quero nesse ano de 2024 lançar novos produtos, novas linhas e quebrar a bolha que admira o artesanato indígena”, destaca Júlia.