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Opinião: no tempo em que a Aleac participava do festival de besteiras

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O colunista Sérgio Porto, eternizado a partir dos anos 40 sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, e que chegou a afirmar existir no Brasil o que ele chamou de FBAP (Festival de Bobagens que Assola o País), morreu no final da década de 60 sem saber que sua brincadeira foi levada muito a sério Brasil afora. A partir do início dos anos 80, a Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) ficou caracterizada por sua contribuição ao tal festival proposto por Ponte Preta.


Basicamente, dois são os motivos fazem esse fenômeno acontecer. Primeiro, porque a maioria dos deputados é ingênua e tosca; segundo porque, por serem fisiologistas e não exercerem mandatos consequentes, acabam por apresentar projetos apenas para ‘jogar para a plateia’. Suas propostas visam exclusivamente justificar as suas permanências no parlamento.

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A seguir, um quadro desses projetos que, se aprovados e aplicados, fariam a festa do cronista ou transformaria o Acre numa verdadeira “Sucupira”, a cidade imaginária de Dias Gomes para dá vida aos personagens de “O Bem Amado”, exibido na Rede Globo na década de 80, tendo à frente o imortal Paulo Gracindo no papel do prefeito Odorico Paraguaçu. Vejam do que nos livramos:


aleac_03“Projeto Marrosa”


O projeto de autoria de então deputado Romildo Magalhães, do PDS, propunha a liberação da maconha. A proposta logo foi batizada pela imprensa, a partir da criação do jornalista político Luiz Carlos Moreira Jorge, com o apelido do traficante José Afonso cândido da Silva, o “Marrosa”, que morava a atuava no morro que ficou conhecido por seu apelido.


Os deputados, em sua maioria, derrotaram a ideia partindo do princípio de que o parlamento estadual não tinha prerrogativas para legislar na área do Direito Penal. Romildo Magalhães, eleito vice-governador e que assumiu o Governo Estadual com o assassinato do governador Edmundo Pinto, retirou-se da vida pública certo de que, se seu projeto fosse aprovado, o Acre teria diminuído o tráfico e uso de drogas, principalmente a maconha.

Aleac_04“Rabo Preso”


Seringalista nascido nas barrancas do rio Muru, em Tarauacá, Francisco Lopes Pessoa, o “Chico Sombra”, nunca foi de frequentar escola. Pelo contrário, orgulhava-se de ser analfabeto e, no entanto, ser um dos homens mais ricos do interior do Acre. Chegou à Aleac, também pela bancada do PDS, em 1986. Foi deputado por três mandatos. No segundo, para fugir da inexpressividade que lhe era peculiar ou para atacar o então líder do governo Romildo Magalhães, com quem divergia para saber qual dos dois melhor bajularia o governado, além de haver informações de que o concorrente era bissexual, Chico sombra apresentou um projeto de lei propondo que gays e lésbicas, travestis e outros de orientação não hetero, fossem proibidos de assumir cargos públicos. A proposta foi apelidada de “Rabo Preso”.


aleac_02“Cumpadim”


Comovido com o que constatou ser um dos grandes problemas do povo acreano, a quase completa falta do que fazer, o então deputado Isnad Leite (PDS), membro de uma das famílias mais tradicionais do Segundo Distrito e filho de um dos combatentes da Revolução Acreana, era conhecido pelo ardor com que defendia o direitos dos desvalidos. Na falta de alternativas para o exercício daquilo que um pensador chamou de ócio criativo, ele propôs o uso da cachaça como fuga da realidade mais que cruel.


Para mostrar que não estava de brincadeira e muito menos de porre, quando teve a ideia, enviou à Mesa Diretora da Aleac uma proposta de lei proibindo a Secretaria de Fazenda do Estado (Sefaz) de cobrar o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), de 27% sobre o valor da mercadoria, na comercialização da cachaça de qualquer que marca fosse. A intenção, justificou o deputado, era diminuir o preço do produto e incluí-lo, acreditem, na cesta básica como item de “primeira necessidade”. A impressa na época não perdoou e batizou a proposta de “Projeto Cumpadim”, apelido de um bêbado que viveu e morreu no bairro Estação Experimental.



aleac_01“Me dá um dinheiro aí…”


Conhecido pelas roupas extravagantes e joias exageradas que usava, o então deputado Manoel Machado (PMDB) fazia a festa das galerias cada vez que ia à tribuna da Aleac. Num dos seus discursos mais homéricos ou machadianos, ele propôs que, em face das dificuldades e isolamento do povo acreano, cada habitante do Estado deveria receber, do poder público, um salário mínimo vigente no país a guisa de indenização por morar no Acre.


A proposta não foi aprovada e hoje quem vive a mendigar lá na Alaec, ao menos por um salário mínimo, é o próprio Manoel Machado, sem mandato, sem pudor e sem dinheiro.


Aleac_05“Mangangá”


A descoberta foi da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária): um dos principais fatores de morte de castanheiras sobreviventes à devastação nos campos de pastagens era a ausência de mata secundária, através da qual o besouro mangangá (Porichthys Porosissimus), sem autonomia de voo do chão ao topo das árvores, tinha que fazer pequenas paradas, para descaso, a fim de retornar a viagem até as flores das castanheiras e assim poder polinizá-las. Mas uma vez a imprensa não perdoou e chamou a proposta de “Projeto Mangangá”. De autoria do então deputado Ariosto Pires Migueis (PMDB), o projeto, mesmo consequente, nunca saiu do papel.


ALEAC_07“Projeto TPM”


Feminista e sindicalista desde a mais tenra idade (esse termo é usado como designar crianças de poucos anos, que não têm o espírito amadurecido,  ingênuos, geralmente menores de 10 anos), a deputada Naluh Gouveia (PT) chegou à Aleac como a mais legítima defensora desses dois segmentos. Depois de dois mandatos sem dizer a que viera, ela resolve então mostrar serviço: apresenta projeto de lei estabelecendo que as funcionárias públicas “naqueles dias” tivessem o direito de permanecer em casa. A proposta foi apelidada de TPM. Numa Assembleia em que poucos eram os votos femininos, a proposta não foi avante.


 


O povo não é bobo, deputados!


Com exceção da folclórica e polêmica Naluh Gouveia, que foi aquinhoada com um vitalício cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado (órgão ao qual ela se referia como “Faz de Conta”), e que não precisa mais ir à caça de votos, os demais parlamentares, autores dessas propostas mirabolantes, inconstitucionais ou inexequíveis, mesmo sendo candidatos aos mais diversos pleitos, foram derrotados. Sinal de que, ao que tudo indica, o povo não suporta quem tenta fazê-lo de bobo. Por isso, atuais deputados, (quase todos ávido por benesses do cargo ou do Palácio), fiquem com as barbas de molho.


Câmara Municipal também já fez as suas


O festival de bobagens que assola a Aleac também passou pela Câmara Municipal. Recentemente, uma vereadora propôs a ridícula proposta do “Dia do Fusca”, projeto que foi sancionado pelo também ridículo prefeito em exercício, Marcio Batista, do PC do B.

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Além do folclórico Edvaldo Guedes, natural da Paraíba, então do MDB e que chegou a propor que o Município se encarregasse de comprar e distribuir buchadas de bois para a população mais pobres, em 1983 o então vereador Paulo Pinheiro, natural do Ceará, propôs que a população da Capital fosse beneficiada com a distribuição, pelo poder público, de rapaduras.


O vereador justificou sua doce proposta partindo do princípio de que, descendente de nordestinos, o acreano não poderia ter o produto fora de sua dieta alimentar. Como a proposta não foi aceita entre seus pares, entre os quais estavam Edmundo Pinto, Helder Paiva, Francisco Marinheiro, José Augusto de Farias, Adalto Biraba, Omar Marques e Manuel Lira, Paulo Pinheiro passou, ele próprio, a distribuir o produto nos bairros mais pobres de Rio Branco. Perdeu a reeleição, mas ganhou um apelido que o acompanha até hoje: Paulo Rapadura.


 


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