Como explicar que mesmo com a crise pandêmica, que afetou importantes variáveis macroeconômicas, com o desemprego e a inflação, o volume de crédito na economia acreana cresceu? Sabemos que o isolamento necessário para conter a propagação do vírus fechou escolas, comércios e empresas. A perda de renda do trabalhador tem dificultado a quitação de compromissos pessoais, como contas básicas e financiamentos, e as empresas lutam para não declarar falência. A injeção de capital é uma saída para enfrentar a crise sem fechar as portas. No artigo de hoje vamos analisar o comportamento de indicadores de crédito no Acre durante o período da pandemia. Os períodos de análises serão semestrais: de janeiro a junho de 2020; de junho a dezembro de 2020 e de janeiro a junho 2021. Os dados foram obtidos no site do Banco Central do Brasil (https://www.bcb.gov.br/). Os valores foram todos corrigidos pelo IPCA, para preços de junho de 2021.
Nas economias capitalistas, o fornecimento de crédito é uma saída para a sobrevivência e a manutenção imediata das atividades em momentos de crise. Para salvar empresas, a disponibilização de linhas de crédito ajuda com custos essenciais do empreendimento, como aluguel, salários de colaboradores, ou até mesmo investimento em um novo modelo de trabalho, como delivery e vendas virtuais. Para pessoas físicas, o crédito ajuda na ampliação de prazos de pagamentos para itens de consumo de bens e/ou serviços.
Crédito para Pessoa Física (PF) cresceu mais que para Pessoa Jurídica (PJ)
Mesmo com a pandemia, o saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu no Acre. Conforme pode ser observado no gráfico abaixo, de janeiro a junho de 2020 (início da pandemia), o crescimento real do saldo foi de 1,3%. No período de junho a dezembro (auge da pandemia) o crescimento foi de 8,7% e no período de dezembro de 2020 a junho de 2021 (início do processo de vacinação) o crescimento foi de 1,6%. Ou seja, no período de janeiro de 2020 até junho de 2021 o saldo total foi de 11,9%. O crescimento do saldo de crédito do Acre acompanhou a variação do saldo no Brasil que no mesmo período cresceu 11,7%.
O crescimento da carteira PF em 18 meses foi maior que o crescimento da carteira de PJ, o que se deve à redução nos estímulos públicos direcionados a este último mercado e também à redução em algumas modalidades de crédito específicas para PJ. O crédito concedido às famílias (pessoas físicas) cresceu no período 14,4%, enquanto o crédito concedido às empresas (pessoas jurídicas) cresceu somente 6,6% no mesmo período.
A inadimplência de PFs é maior que de PJs
Depois de manter-se no patamar de 3% em janeiro e junho de 2020, a inadimplência total caiu para 2,17% em junho de 2021. A mesma trajetória aconteceu tanto para PFs como para as PJs, que caíram no segundo semestre de 2020. Porém a queda da inadimplência das PJs foi maior que o das PFs que apresentou uma pequena elevação em junho de 2021, em relação a dezembro de 2020.
O saldo total de empréstimos no Sistema Financeiro Nacional (SFN) como porcentagem do produto interno bruto (PIB)
É importante medir o saldo de empréstimo do SFN em relação ao PIB. O último dado do PIB dos estados disponibilizado pelo IBGE foi o ano de 2018. Para tanto utilizamos as mesmas taxas de variação do PIB do Brasil, desde dezembro de 2018 até junto de 2021 para atualizar o PIB do Acre que, em dezembro de 2018 foi de R$ 15,33 bilhões. Após uma pequena alta em 2019 (1,41%), uma queda em 2020 (-4,06%) e um pequeno aumento no primeiro semestre de 2021 (1,81%), estimamos o PIB do Acre, em junho de 2021 em R$ 15,18 bilhões.
Enquanto no Brasil, o saldo total de empréstimos no Sistema Financeiro Nacional (SFN) como porcentagem do produto interno bruto (PIB) atingiu 52,6% em junho de 2021, no Acre o percentual foi de 61,35%, o que representa um aumento de 4,7 ponto percentual (p.p.) em relação a junho de 2020.
A CENTRALIZAÇÃO DE SERVIÇOS DOS BANCOS (SERASA) realizou no período de 22/06/2021 a 02/07/2021 uma pesquisa cujo objetivo era entender os hábitos dos consumidores em relação ao crédito durante a pandemia. Foram ouvidos, em entrevistas online, 2.068 pessoas, em todo o Brasil (https://www.serasa.com.br/assets/cms/2021/Pesquisa-de-cre%CC%81dito-para-retomada-2021.pdf). Alguns achados:
– Muitos têm buscado crédito como solução para problemas financeiros, sendo que 79% utilizou alguma fonte durante a pandemia e o principal crédito utilizado foi o do CARTÃO DE CRÉDITO.
– Mesmo concordando que as taxas de juros estão mais altas nesse momento, 63% das pessoas ainda assim entendem que o crédito será importante para a recuperação financeira.
– A procura por empréstimo no período de retomada terá como principal intenção o pagamento de dívidas.
Vimos que a inadimplência caiu e o saldo da carteira continuou a crescer. Estas variações podem ser explicadas pelo impulso do Auxílio Emergencial e por programas de incentivo ao crédito, lançados no primeiro semestre de 2020. Vamos esperar o comportamento do crédito até o final do ano, com o fim da carência dos programas do governo. Já observamos uma queda no ritmo de crescimento no primeiro semestre de 2021, onde o saldo total cresceu, em valores reais, somente 1,0% no Brasil e 1,6% no Acre.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas