Um dos momentos mais aguardados de Três Graças, o roubo da estátua que dá nome à trama, idealizado por Gerluce (Sophie Charlotte), não é apenas um ponto de virada na história. Será também um “corte” definitivo na trajetória da (até então) mocinha honesta da novela das nove da Globo.
A atriz Sophie Charlotte detalhou o impacto profundo que o ato criminoso terá em sua protagonista. Segundo ela, o assalto (ou a “expropriação”) planejado por Gerluce –e executado por Joaquim (Marcos Palmeira), Misael (Belo), Júnior (Guthierry Sotero) e Viviane (Gabriela Loran)–, visando justiça e amparo à comunidade, será um “antes e depois” para toda a narrativa.
“Esse fato, que ela planejou, que ela arquitetou com esse bando que se uniu em volta disso, é um corte na novela. Vai ser muito definitivo. O que vai acontecer vai transformar essa personagem. Vai transformar todos os personagens da trama. Então é um antes e depois para todos eles”, adiantou Sophie em conversa com a imprensa nos bastidores de Três Graças.
A grande questão que moverá Gerluce a partir de agora será “processar” suas escolhas controversas. A personagem, que busca justiça para a Chacrinha e, desesperadamente, remédios caríssimos para a mãe, age em um momento de desamparo –mas terá que arcar com as consequências de seus atos.
“Porque uma coisa é você planejar, outra coisa é você agir. É você concretizar algo que está muito distante dos seus próprios valores. Eu acho que talvez a história da Gerluce seja como processar isso que ela mesmo fez. Mesmo com a melhor das intenções, para onde você vai depois que tem que lidar com isso?”, explicou a atriz.
A atriz ressaltou que a jornada de Gerluce começa com a frustração com as vias legais. Segundo Sophie, a personagem tentou buscar a justiça pelas vias normais. “Ela tenta ir na delegacia, mas é recebida por um delegado que realmente não recebe a denúncia dela”, relembrou.
Ao perceber que ela e a comunidade estão desamparados, e com a vida de sua mãe em jogo por causa de um remédio de custo elevadíssimo, Gerluce se vê forçada a agir fora da lei.
“A gente não revela, não é um remédio real, é fictício, é um remédio muito caro; ou seja, ela não consegue, com o que ela ganha, com o que ela tem, comprar esses remédios. E ela vê que é um problema geral da comunidade dela, que está sendo enganada. Então, assim, é muito pessoal. Até onde você vai por quem você ama? Se você está desesperado”, defendeu a atriz.
O peso desse crime será intensificado pelo envolvimento romântico de Gerluce com o policial Paulinho (Rômulo Estrela). Mesmo apaixonada, ela decide carregar esse fardo sozinha –até porque entende que essa decisão também pode ameaçar o novo relacionamento.
“Ainda mais se envolvendo com um detetive, que está representando justamente essa ética da lei, essa moral que vai para um outro caminho. Ela não divide nenhum desses acontecimentos com o Paulinho. Então, assim, eu acho que é uma personagem que vai viver esse impacto de ter realizado isso”, pontuou Sophie na conversa com o Notícias da TV.
Apesar da motivação nobre –o amor pela mãe e a indignação pela ganância dos vilões que desvalorizam a vida na Chacrinha–, a atriz fez questão de reconhecer os erros da personagem.
“Lá no começo, era muito difícil falar sobre isso, como é que a gente deve defender essa personagem? Só que eu acho importante personagens errarem também. A gente não aprende nada com mocinhas que só acertam, porque na vida a gente passa, a gente cai no erro. Não precisa ser nesse lugar assim tão extremo, criminoso, eu espero que não, mas em outros sentidos”, disse.
Sophie ressaltou que não se preocupa em defender completamente cada ato da personagem. O foco, segundo ela, é viver o que é real para Gerluce naquele instante, com o conhecimento e os recursos que ela tem. “Eu não assino embaixo de tudo que os personagens fazem, claro que não. A gente está ali para mostrar os erros e acertos e, principalmente, as consequências. Como é que a pessoa vai botar a cabeça no travesseiro depois?”, refletiu.
A atriz explicou que enxerga Gerluce como uma personagem impulsiva, marcada pela necessidade de se virar sozinha. Segundo Sophie, quando essa decisão passa a envolver outras pessoas, a personagem perde a possibilidade de voltar atrás, mas segue se questionando até o último momento. “Tem várias cenas em que ela pensa: ‘Será que é isso? Como é que a gente vai fazer?’. Aí depois: ‘Não, vamos'”, revelou.
Ao falar sobre o conflito central da história, ela comentou que Gerluce presencia de perto a ganância dos vilões –como Arminda (Grazi Massafera) e Ferette (Murilo Benício)–, que vivem no luxo enquanto riem do sofrimento alheio. Ou seja, não se trata apenas de maldade motivada por dinheiro, mas da desvalorização da vida das pessoas que ela ama e com quem convive.
Sophie destacou que a novela cria um espaço de reflexão sobre a vida real. “Infelizmente, para algumas pessoas, a vida de outras pessoas não importa. Não é um tema tão deslocado da realidade. A nossa novela, ela consegue com muita delicadeza falar de questões sociais muito profundas. E sem ser panfletária”, sentenciou a protagonista.


















