Menu

Pesquisar
Close this search box.

Valterlucio Bessa Campelo escreve: Para onde vai o Agro no Acre?

Passados os primeiros trinta dias do novo governo Gladson Cameli, cabe fazer algumas observações e, com isso, atendo a alguns leitores que sugerem uma avaliação de cenário. Vamos lá.


Em primeiro lugar, tome-se como ponto de partida as palavras do próprio governador: “Cada um mostrou o seu próprio tamanho nas eleições”. Isso, observados os resultados, praticamente o exonera de maiores obrigações ou negociações com partidos e políticos, afinal, ele ganhou no primeiro turno deixando na lona os demais concorrentes, portanto, está livre para fazer um governo com a sua marca exclusiva.


Nada como estar livre para fazer nomeações e cercar-se dos melhores quadros, não é mesmo? O status político do Governador Gladson Cameli é tão alto que lhe conferiu esta condição rara. Teremos então, um governo excepcionalmente marcado pela personalidade e ideário de um político ainda jovem, acreano, conhecedor de cada canto do estado, de grande carisma pessoal e herdeiro de si próprio no que tange ao legado administrativo.


Acompanhei sem surpresa, já que sou da área, a excelente performance do agronegócio nos últimos anos, ainda que a esquerda o considere fascista e, por vezes, gerador de “terroristas”. Indica o IBGE que a área plantada com soja no Acre foi multiplicada por oito de 2019 para o esperado em 2023, a produção, idem. O milho deverá alcançar 140 mil toneladas em 2023 contra cerca de 35 mil toneladas em 2019. Vale dizer, abriu-se um caminho altamente promissor para a produção de grãos que deverá obter um VBP muito significativo para a economia acreana. Outra cultura que vem adquirindo visibilidade é o café robusta que, espelhando Rondônia, pretende ser uma alternativa viável também para os pequenos e médios produtores. 


É claro que tal como aconteceu com a pecuária há algumas décadas, isso não seria possível sem alteração da fisiografia, do uso de máquinas e equipamentos, dos empregos gerados e, em certa medida, da própria cultura, causando espanto em alguns mucuins que adoram uma revoluçãozinha na agenda de costumes da sociedade, mas sentem calafrios quando veem a fivela prateada num cinturão ou chegam perto de uma colheitadeira.


A pergunta que se faz é se o itinerário do agronegócio será freado em vista da agenda ambientalista do Fórum Econômico Mundial, digo, da ONU, digo, do governo federal, que nos impõe sempre restrições ao desenvolvimento na Amazônia, ou se será impulsionado como forma de garantir alternativa econômica. Isso, enquanto o Acre não se transforma em um “vale do silício” biológico como acreditam alguns segmentos.


Para a SEPROD, saída fresquinha do forno da reforma administrativa mais recente, o governador nomeou o deputado estadual de quinto mandato José Luis Schafer, mais conhecido como Luis “Tchê”, líder do PDT, partido que tem a maior bancada na Assembleia Legislativa do Acre, o que lhe garante necessário apoio parlamentar e influência política. Considero isso muito bom. Explico.


Luis Tchê é um político experiente, de fácil trato, agregador e que tem objetivos muito claros. Quer vaga no camarote do espetáculo da democracia e tudo fará para que a SEPROD tenha o melhor desempenho possível. Uma gestão profícua em um setor de tal importância é plataforma substantiva para a consolidação de qualquer projeto e, junto ao palácio, poucos teriam igual força. Isso move expectativas e anima o setor. Ponto para ele.


O secretário conta ainda com um corpo técnico engajado e comprometido, servidores capazes e ávidos por uma sinalização eficiente de inserção ampla na área rural, cujos elementos são bastante conhecidos: regularização fundiária e ambiental, trafegabilidade, mecanização, correção e fertilização do solo, diversificação e defesa sanitária de produtos agrícolas e pecuários, ATER, beneficiamento (agroindustrialização), cooperativismo, transporte e armazenamento. 


Esse conjunto básico de ações que, obviamente, extrapola a competência da SEPROD, são em maior ou menor medida requeridos pela pequena produção, desde as aldeias indígenas no Alto Juruá aos polos em volta de Rio Branco, e configuram a área de atuação na qual se movimentam as instituições ligadas ao setor agropecuário. Urge integrá-las em um mesmo plano de desenvolvimento. O sistema público de apoio ao campo anda com muitas pernas, exige, portanto, o mesmo ritmo, vale dizer, unidade de ação.


Então, é o seguinte: Sabe-se o que fazer e há quem o faça, porém, estão disponíveis os meios de ação? Quanto custa? Um cálculo por alto estima em torno de 6.000 reais o preço médio para preparo de HUM hectare para plantio. Multiplique-se por 2 hectares por propriedade (existem umas 31.000 na agricultura familiar – IBGE) e temos estratosféricos 372 milhões de reais apenas para o preparo de área. Planejemos atingir anualmente 10% disto (3.100 pequenas propriedades), e lá se vão 37 milhões de reais apenas para que o sujeito plante. O resto, bem mais oneroso, vem depois.


Se os recursos estão previstos, ou se serão aportados por algum fundo internacional, ótimo. É, contudo, necessário, saber se a macropolítica permitirá que sejam executados em função da economia rural acreana, ou se estaremos subordinados a cabrestos ideológicos que de fora para dentro interferem na agenda agropecuária brasileira com sobras para o Acre. Acreditem, isso faz toda a diferença.


Enfim, podemos lidar com todas as variáveis e perspectivas, mas, no final das contas, importa mesmo é alterar o quadro abaixo, o que não pode ser realizado sem uma forte agenda de desenvolvimento. Fiz as contas: no Acre, para cada 10 recebendo Auxílio Brasil tem 8 empregados com carteira assinada. Aqui pertinho, em Rondônia, para cada 10 na doação do governo, tem 24 com carteira assinada. Em números absolutos, tem mais Auxílio Brasil aqui (109.254) do que no vizinho (103.566), que tem mais do dobro da população (IBGE – dados preliminares). Que tal?



Parece obvio que essa situação é dramática, insustentável, e, diga-se, não foi construída nos últimos quatro anos. Ela decorre de décadas de desvario econômico, de gestões equivocadas, de má interpretação da realidade e de projetos fracassados, ou seja, no mínimo sabemos como NÃO se faz. A questão é se sob Lula-Marina etc., teremos um dejavu florestanista ou continuaremos olhando para a frente. Aguardemos.


Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site de notícias ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Puggina, e em outros sites.