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No Acre, empresa de telemensagem resiste ao tempo com mais de 100 mil homenagens e pedidos de perdão

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Quem nunca recebeu uma telemensagem ou presenciou um vizinho ser surpreendido com um carro de mensagem ao vivo pelos bairros de Rio Branco, que atire a primeira pedra. O clássico serviço é antigo, mas engana-se quem pensa que está extinto ou perto de acabar. Apesar de ser menos habitual atualmente, continua sendo procurado por dezenas de clientes na empresa Flor do Oriente, que atua há 22 anos nesse ramo na capital acreana.


 

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Quem atesta o sucesso e tradição do serviço é o proprietário da empresa, o cantor Antônio Francisco Bezerra da Silva, mais conhecido como Toninho Silva, de 61 anos. Ele é amazonense, mas vive no Acre há muitas décadas. Lidar com o público é sua vocação e o trabalho com telemensagem surgiu num momento de necessidade, no início dos anos 2000.


 


Depois de gravar dois LP’s em São Paulo, voltou ao estado com uma considerável quantia em dinheiro e resolveu ajudar um amigo que iria disputar uma candidatura política. “O trato era o seguinte: se ele ganhasse, nós dois ganharíamos. Se ele perdesse, nós dois perdíamos tudo. E ele perdeu”, conta. Um tempo depois, esse amigo lhe ofereceu um presente. “Ele me disse: Toninho, comprei uma telemensagem. Só que eu nunca tinha mexido com isso, mas tinha que tentar de tudo na vida, não é?”.


 


E assim nasceu a empresa de telemensagem acreana Flor do oriente. “Compramos a linha telefone e esse meu amigo me trouxe uma caixinha com cinco CD’s com 300 mensagens, sendo 250 em voz masculina e 250 na voz feminina”. Toninho passou a entregar cartões com as informações da telemensagem para divulgar o serviço pela cidade de Rio Branco e quando agendou a primeira mensagem teve de pedir ajuda para uma empresa concorrente.


 


“Existia a Toque de Amor, que era mais antiga e eu resolvi ligar para pegar uma ajuda, umas informações iniciais, pois não fazia ideia nem de preços”. O tempo foi passando e Toninho começou a pegar o jeito do negócio e até incrementar com algumas novidades na época.


 


Serviço com diferencial

 


Para competir no mercado mais de 20 anos atrás, Toninho buscou se diferenciar das demais empresas que já atuavam no mesmo segmento. “Comecei a fazer mensagens ao vivo com violão. Eu chegava na casa da pessoa, batia palma e entrava tocando. A primeira cliente já foi um sucesso e não parou mais”, relembra.

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Três anos depois de iniciar com a telemensagem e mensagem ao vivo, comprou o primeiro carro da Flor do Oriente. No entanto, o empresário afirma que perdeu alguns clientes por isso, porque o que a maioria das pessoas queriam e gostavam era da voz e violão com músicas românticas, que com o carro, ele não fazia.


 


Mesmo assim continuou com o veículo e adquiriu um segundo automóvel para a empresa e seguiu na conquista de novos clientes. “Na telemensagem você tem que ter voz, ser bom intérprete e ser bom redator. Nós da Flor do Oriente trabalhamos diferente. Nós ouvimos a história das pessoas que nos procuram. Se é um filho que quer homenagear a mãe, procuramos saber como é a relação desse filho com a mãe. Fazemos um serviço personalizado”, explica Toninho.


 


Baixa procura

 


O auge da telemensagem no estado do Acre ocorreu entre os anos 2000 até meados de 2014, segundo dados da empresa Flor do Oriente. Esse foi o período em que houve alta procura de clientes mensalmente e que se manteve rotativo no mercado. “Tinha dias que eu chegava a fazer até 20 mensagens por dia. Até contratamos mais pessoas para dar conta da demanda”, diz Toninho.


 


Ocorre que de alguns anos até 2022 a procura por mensagens ao vivo e fonadas caiu significativamente. A mensagem por telefone foi a que mais perdeu espaço, mesmo assim ainda existe e recebe pedidos. “Hoje chegamos a atender no máximo 70 pessoas por mês”, conta o empresário.


 


O Dia das Mães é a data que mais recebe pedidos de clientes atualmente e a Flor do Oriente atende no lugar que o cliente pedir, menos em delegacias e hospitais, por ser proibido. O estilo romântico suave é quem comanda o ritmo das homenagens no carro de mensagem.


 


“A gente trabalha muito parecido com aqueles botecos antigos, onde a pessoa vai beber e só quer beber ali. Cada um tem o seu estilo. O nosso é mensagem personalizada, variação de brindes, canecas, buquês diversificados, de dois em dois anos trocamos o carro e assim não perdemos mais clientes”.


 


Para redigir uma mensagem personalizada, Toninho faz uma espécie de entrevista com o cliente. “Eu pergunto o que a pessoa quer dizer na telemensagem. Toco a música, depois a mensagem e falo tudo aquilo como se fosse a pessoa”. Segundo ele, a presença do carro de mensagens ao vivo ainda atrai muitos curiosos na rua. “Os vizinhos saem todos de casa, vão para janela, batem palma. É uma coisa muito legal”.


 


Curiosidades da telemensagem

 


Em mais de duas décadas trabalhando com a telemensagem, Toninho garante já ter vivenciado um pouco de tudo em meio ao trabalho. Já aconteceu de pessoas desmaiarem ao receberem o carro de mensagem em casa, outros rejeitarem pedido de perdão etc.


 


 


A Flor do Oriente contabiliza mais de 4 mil reconciliações de casais e familiares feitas por meio de mensagens. “O homem é mais flexível. A mulher não. Quando ela estoura, ela não perdoa mais de jeito nenhum”, diz o empresário. Para solicitar a mensagem, o cliente deve ser sincero. “Se mentir na telemensagem, o cliente joga dinheiro no mato. Geralmente na entrevista com o cliente, eu já sinto se a mulher vai perdoar ou não, e aviso”.


 


Nesse tempo todo, três mensagens marcaram muito Toninho. “Uma foi de um filho que estava intrigado com a mãe e quis pedir desculpas. A outra de uma filha que pediu perdão para a mãe e a terceira de uma filha que pediu perdão para o pai, que era da Paraíba”.


 


Toninho afirma que o cliente precisa contar a história com sinceridade. Se não me contar, não tenho como ajudar. Às vezes eu observo a situação e digo que a gente vai tentar, mas que é muito difícil. Mas penso que a mágoa gera muita coisa ruim na vida da gente e o perdão é a essência da vida humana. Quem de nós nunca errou, que atire a primeira pedra”.


Milhares de homenagens

 


O proprietário que também empresta sua voz nas mensagens ao vivo e por telefone da Flor do Oriente lembra dos detalhes de boa parte das mensagens. Em 22 anos de empresa, foram mais de 100 mil homenagens feitas. Destas, mais de 4 mil só de pedidos de reconciliação.


 


“Às vezes até eu choro. Tem coisas que a gente não esquece. A telemensgem rende muitas páginas de um livro só com os bastidores. Somos uma empresa evangélica, e por vezes misturamos um pouco as coisas, levando também uma palavra bíblica aos clientes”, diz Toninho.


Trabalho que sustenta a família

 


Para o empresário, o que mais dificulta o trabalho hoje é a questão da insegurança pública. A Flor do Oriente, que já chegou a celebrar aniversários em plena 3h da madrugada em bairros periféricos da cidade, hoje teme a violência e criminalidade. Uma lei que impede a soltura de fogos de artifícios na rua também tem tirado o sono das empresas de telemensagem.


 



 


“A pandemia também foi outro fato que nos fez sofrer muito. Temos muitas pessoas para alimentar e ficar sem trabalhar foi terrível. Sem contar os buracos de nossa cidade que atrapalham bastante o nosso trabalho”. A Flor do Oriente atua em Rio Branco e também no interior do estado, levando os serviços para Brasileia, Sena Madureira, Capixaba, Porto Acre, Plácido de Castro e Xapuri.


 


Com a telemensagem, Toninho conseguiu sustentar a família. “Formei minha esposa e minha filha em nível superior. Hoje as duas trabalham e a Flor do Oriente é minha, sou meu funcionário. Nós vamos envelhecendo e ficando mais seletivos, até mesmo no trabalho. Hoje não preciso mais me matar de trabalhar como antes”, comenta.


 


Para ele, só três segmentos não ‘quebram’ no país. “A primeira é o motel. Segundo, restaurante. E a terceira é a telemensagem. Atualmente, chega a escrever mensagens frequentemente para pessoas de mais de 90 anos. “Essas pessoas amam e querem estar perto umas das outras. A telemensagem não quebra porque o amor não acaba e nunca vai acabar. O amor é a melhor coisa que existe e descobri isso trabalhando”, conclui.


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