Já se disse muitas vezes que nos tempos atuais o que menos importa é a verdade, a lógica foi passear. Lembro sempre como clímax deste processo, que cinco entre onze ministros do Supremo Tribunal Federal – STF, como se analfabetos fossem, interpretaram que o termo “vedado” quer dizer “permitido”, num contorcionismo hermenêutico assombroso para que o presidente do Senado fosse reeleito. Se o STF joga a verdade e a própria língua portuguesa no lixo com essa facilidade, por que raios os jornalistas precisariam seguir a cartilha de verificação dos fatos antes de emitirem seus lugares comuns ou repetirem o noticiário nacional?
É assim que termos como “genocida”, “negacionista” e outras mensagens são jogadas pela grande mídia ao público como milho linguístico, dispensando a verdade e o sentido das palavras. Que políticos e militantes partidários vomitem insultos e impropérios em suas manifestações ou mídias sociais, satisfazendo seus propósitos velados ou posando de politicamente corretos, OK, é do jogo, mas a imprensa transformá-los em verdade produz efeitos extremamente deletérios à informação que, ao cabo, é sua razão de existir.
Pelo menos dois malefícios se podem perceber de pronto. Em primeiro, identifica o veículo com determinada banda ideológica, o que afasta de imediato a parte contrária. Em segundo, termos como os citados anteriormente são muito graves para serem peremptórios e, portanto, pretendem encerrar o debate. Como resultado, temos um afastamento cada vez maior do público em geral em relação à imprensa, o que fatalmente leva à sua indigência.
Assim como o ativismo judicial mostra a exorbitância de um juiz, o ativismo jornalístico revela de que lado aquele jornal está. Isto porque a percepção da realidade saiu do domínio da imprensa, ela não é mais a única mediadora entre os fatos e o público. As plataformas e as redes sociais permitem que cada cidadão beba direto na fonte, daí, se o jornal vai contra os fatos, o leitor fica com os fatos e os confere com outras fontes.
Quando o ministro Barroso soltou aquela “barrosidade” de que estava no STF para empurrar a história no rumo certo, foi só pra inflar o próprio ego e sinalizar a que serviço se prestaria, não quer dizer que precisa ser seguido pelo procurador imberbe no interior da Amazônia. Quando a grande mídia, jornalões e TV’s encasquetaram contra o Presidente, foi para proteger seus negócios e promover a agenda progressista com a qual estão comprometidas, não obrigando que, sem crítica, sejam replicadas undique.
Como exemplos da manipulação descarada dos fatos pelos jornais, podemos apontar as manifestações de rua que se sucederam no Brasil, de parte a parte. Enquanto as manifestações de apoio ao governo, pacíficas e ordeiras, foram mostradas como fascistas e antidemocráticas ainda que defendesse a liberdade, as passeatas vermelhas, com apoio explícito às ditaduras socialistas e seus tiranos, foram divulgadas como democráticas. Há aí um inegável duplo padrão que a população identifica facilmente.
O paralelo entre a Justiça, mormente o STF, e a imprensa de um modo geral, vem de perceber que ao escolherem lado perdem credibilidade, o que parece fatal para ambas. Em qualquer democracia, do julgador presume-se isenção, ele precisa estar e ter-se como apartado de qualquer interesse além da justiça, afastado dos litigantes e centrado na Lei. Da imprensa, espera-se obediência à realidade dos acontecimentos, ela precisa informar com fidedignidade. Daí pra frente, é com o leitor, ouvinte ou telespectador. Se desconfio que a notícia foi conspurcada por outros interesses, jogo-a no lixo e buscar outras fontes.
Pesquisa publicada no ano passado indica que 81% dos brasileiros desconfiam da imprensa. Apenas 16% acham que é muito confiável. De onde teria surgido tal comportamento, senão da percepção de que ela tem lado e informa de modo viciado, ou seja, que transfere a informação com algum grau de contaminação por interesses diversos da verdade?
Não por acaso, os ganhadores do Nobel da Paz deste ano foram os jornalistas Maria Ressa e Dmitry Muratov. Segundo o próprio Instituto Nobel, por sua “luta corajosa” em defesa da liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia, respectivamente. Enquanto isso, no Brasil, mas não somente, a velha imprensa abusa do direito de mentir, omitir e desinformar. Jornalistas são, silenciados, desmonetizados, cancelados, presos e perseguidos por delitos de opinião, se a dita opinião for contrária aos interesses do andar de cima.
Em relação à peste chinesa, por exemplo (não se trata aqui de se posicionar em assuntos médicos, mas da liberdade de expressão), a imprensa não vai repercutir nem dar crédito ao depoimento do Dr. Diogo Viriato que, com base em dados oficiais, em audiência pública do último dia 06/10 na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, desaconselhou vivamente a picada em crianças e adolescentes (ver AQUI).
Outro caso, a saga da Sra. Arlene Graf, mãe do jovem Bruno Graf, para identificar a causa da morte de seu filho, também é silenciada fora das mídias sociais (veja AQUI entrevista completa com a jornalista Leda Nagle). Quantas Arlenes estão por aí? E as inúmeras manifestações em todo o mundo contra o passaporte sanitário que ninguém mostra? São inúmeros os exemplos concretos de como a grande mídia é enviesada e dorme feliz no lupanar da mentira.
Outro exemplo, este de ordem econômica, comprova mais uma vez a omissão. Onde estão as notícias sobre a Argentina e a Venezuela que costumavam frequentar os jornais? O recente governo esquerdista da Argentina produziu a toque de caixa um quadro de pobreza que já alcança 40% da população e uma inflação superior a 50%. O remédio encontrado pelos “hermanos” foi o “genial” congelamento de preços. Na ditadura socialista venezuelana, aquela que Lula chama de democracia “até demais” e Ciro Gomes garante que é uma democracia tão boa quanto a nossa, mais de 90% das pessoas caíram na pobreza. Os nossos vizinhos que puderam fugiram aos milhões para os países vizinhos, principalmente para a Colômbia. Eis o filtro ideológico em ação. O fracasso socialista sumiu das TV’s e jornais.
Independentemente dos profissionais laureados, o Nobel da Paz vai para a liberdade de expressão e, sendo assim, vai também para Camila Acosta, a cubana encarcerada apenas por cobrir as manifestações de protesto contra o regime em julho deste ano. Vai para qualquer um dos 79 jornalistas venezuelanos presos apenas em 2020. Aliás, podemos nos perguntar: Se era pra nomear um jornalista, por que não escolheram um venezuelano? Poderia ser qualquer um dos que estão ou foram presos, ou dos que fugiram para o Brasil (há dezenas por aqui). Por que não foi para Braulio Jatar Alonso, que ficou quase três anos nos cárceres de Maduro e só foi libertado em negociação com a ONU? Ganha um exemplar do Granma que responder.
Valterlucio Bessa Campelo escreve todas as sextas-feiras no ac24 horas e, eventualmente, em seu BLOG e no site CONSERVADORES E LIBERAIS PUGGINA.ORG