No programa Médico 24 Horas, exibido nesta segunda-feira (29) no jornal ac24horas.com e nas redes sociais do jornal, o médico e apresentador Dr. Fabrício Lemos entrevistou a oftalmologista Dra. Ariele Fernanda, referência em doenças inflamatórias e oncológicas oculares no Acre e no Brasil. O episódio abordou as principais patologias atendidas em consultórios no estado e uma novidade medicamentosa capaz de melhorar a visão de perto por até 10 horas.
Durante a entrevista, Dra. Ariele explicou que sua pesquisa de doutorado é voltada para a toxoplasmose ocular, uma inflamação intraocular causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Segundo a especialista, a doença é uma das principais causas de uveíte – inflamação intraocular – e de cegueira evitável no Brasil, com incidência particularmente elevada no Acre. “Aqui na região Norte, acreditamos que a principal via de contaminação seja a água, por conta da contaminação do lençol freático”, explicou.
Ela detalhou que a maioria das pessoas infectadas apresenta apenas sintomas leves, semelhantes aos de uma gripe, mas parte dos pacientes pode desenvolver inflamação ocular tardia, com risco de perda visual definitiva. “Independente da área da retina acometida, a toxoplasmose ocular pode levar à cegueira”, alertou. Em sua prática clínica, a médica relata atender de oito a dez casos por semana, número superior ao observado em grandes centros como São Paulo.
Outro ponto de destaque foi o impacto da toxoplasmose na gestação. A médica ressaltou que a infecção durante a gravidez pode resultar em toxoplasmose congênita, condição grave que pode causar cegueira bilateral, surdez e alterações neurológicas no recém-nascido.
A entrevista também abordou a oftalmologia pediátrica, área em que Dra. Ariele atua desde o período neonatal. Ela enfatizou a importância do teste do reflexo vermelho logo após o nascimento, exame fundamental para rastrear doenças graves como retinoblastoma, catarata congênita e glaucoma congênito. Segundo a especialista, crianças prematuras ou com baixo peso necessitam de acompanhamento específico da retina para evitar sequelas visuais permanentes.
No campo das doenças mais prevalentes no Acre, a oftalmologista destacou três grandes grupos: os erros refrativos (miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia), as doenças inflamatórias, com ênfase na toxoplasmose ocular, e a oncologia ocular. Nesse último grupo, chamou atenção para a elevada incidência do carcinoma espinocelular da conjuntiva, um tumor maligno que se manifesta como uma “carne crescida” no olho e está associado à intensa exposição solar. “O Acre está próximo à linha do Equador, o que aumenta a exposição aos raios ultravioleta”, explicou.
A médica relatou já ter realizado cirurgias em dezenas de pacientes com esse tipo de câncer ocular e alertou que o diagnóstico precoce é determinante para preservar o globo ocular e evitar complicações mais graves. Em casos avançados, o tumor pode invadir estruturas profundas, como o nervo óptico e até o cérebro.
Outro tema recorrente foi a retinopatia diabética, apontada como uma das principais causas de atendimento na rede pública. Dra. Ariele ressaltou que o tratamento exige abordagem multidisciplinar, envolvendo endocrinologistas, nutricionistas e outros especialistas. “O oftalmologista precisa enxergar o paciente como um todo”, afirmou, destacando que sua experiência prévia em UTI e no SAMU contribuiu para uma visão clínica mais ampla.
A entrevista também abordou doenças sistêmicas com manifestações oculares, como glaucoma, doenças reumatológicas, infecções como sífilis e tuberculose, além de neoplasias sistêmicas com metástases oculares. A médica alertou que o glaucoma é uma das principais causas silenciosas e irreversíveis de cegueira no mundo, reforçando a importância de consultas oftalmológicas regulares, mesmo em pacientes assintomáticos.
Entre as novidades da oftalmologia, Dra. Ariele comentou sobre um colírio aprovado pelo FDA para correção temporária da presbiopia, capaz de melhorar a visão de perto por até 10 horas. O medicamento ainda não está disponível no Brasil, mas promete revolucionar o tratamento da “vista cansada”, com ressalvas para pacientes com glaucoma de ângulo fechado.
Veja a entrevista completa:


















