O oficialato das forças militares de segurança do Acre tem um problema grave: a fila não anda. Ao menos, não com a velocidade que deveria. E ela precisa andar para o bem das duas corporações, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros.
A semana que passou trouxe a palavra “interstício” para o vocabulário da crônica política. Falando de um modo mais simples, “interstício” é um período de tempo. Um período que o oficial permanece em uma determinada patente. Mas a carreira do agente precisa progredir. E em uma estrutura hierarquizada essa progressão ganha mais importância para evitar que não ocorram desvios de funções nas áreas de administração, assessoramento, chefia e até mesmo no comando.
De 2º Tenente a Coronel, passando antes pelas patentes de 1º Tenente, Capitão, Major e Tenente-coronel, o oficial exerce diversas funções na corporação. Funções técnicas, táticas, estratégicas e de comando. Se a “fila não anda”, a gestão dessa parte de cima da pirâmide pode travar o sistema dessas duas corporações. E isso não seria bom para ninguém.
Esse problema diz respeito à parte de cima da estrutura das duas corporações. A base da pirâmide (os Praças: cabo, 1º sargento, 2º sargentoº, 3º sargento) tem outras demandas. Mas por que a questão do interstício ganhou tanta relevância? Em uma palavra: dinheiro. E, claro, ganhou importância também porque, em qualquer estrutura hierarquizada, mexer com a ponta da pirâmide sempre requer maior cuidado porque trata-se da elite. No caso concreto: da elite das forças militares de segurança do Estado. E isso repercute na gestão pública e também na política.
A questão toda tem relação com os custos de fazer “a fila andar”. O ritmo da “fila” era de três a quatro anos em uma patente. Com a assinatura do decreto 11.453, de 10 de abril de 2024, esse tempo pode cair para dois anos, aproximadamente, contabilizam alguns oficiais, informalmente.
O Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado reagiram ao decreto do Governo do Acre que tratou da redução do período de tempo para promoção de oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Acre.
Tanto o MP quanto a corte de contas têm uma preocupação: gastos com pessoal. O fundamento que, tecnicamente, motiva as duas instituições é o respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. Mas o Governo do Acre rebateu e acionou a Procuradoria Geral do Estado do Acre. A PGE produziu um documento que dá sustentação administrativa à decisão do Gabinete Civil.
A linha de argumentação básica do Governo do Acre é de que “as promoções a serem realizadas com redução automática de interstício não representam necessariamente impacto financeiro, haja vista, a legislação determinar que os cargos se encontram vagos desde sua criação”, assegura o documento enviado pelo Corpo de Bombeiros ao Gabinete Civil. Nesse ponto, a PGE discorda, como se verá.
As direções das duas corporações fizeram simulações preenchendo parte dos cargos e fez cálculos com todos os custos envolvidos, incluindo férias anuais e valor de décimo terceiro proporcional.
O estudo (relatório técnico) feito pelo Corpo de Bombeiros e pela Polícia Militar do Acre que defende a redução do interstício tem como referência alterações de um decreto estadual dos anos 70, o decreto Nº 114, de 10/04/1975, ainda na administração do governador Geraldo Mesquita, o Barão.
“Destaca-se que o Corpo de Bombeiros Militar do Acre não terá impacto financeiro com o banco de interstício nos próximos três anos. Deste modo, foi apresentado o impacto financeiro até a promoção de dezembro de 2026”, calculou o comandante da corporação Charles da Silva Santos.