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Marcus Alexandre – o menino de pai vai deixar papai?

Segundo os entendidos dos bastidores da política acreana, a não ser por fatos extraordinários a ver, as candidaturas à prefeitura de Rio Branco estão postas: Pelo Partido Liberal, o atual prefeito Tião Bocalom; pelo Partido dos Trabalhadores, o ex-Prefeito Marcus Alexandre; pelo Partido Progressista, o atual Secretário de Estado Alysson Bestene; pelo NOVO, o Deputado Emerson Jarude.


Ooooopa! O Marcus Alexandre é do MDB, me corrigirão os antigos e os novos companheiros da base lulopetista. Será? Assim como milhares de eleitores que descamam o peixe com um olho no gato, não acredito. Explico. Somente alguém com a boa-fé de Mahatma Ghandi acreditaria que nascido, criado, recriado e cevado no PT, representante graduado dos valores e princípios abraçados pela esquerda progressista, Marcus Alexandre mudaria repentinamente de ideologia em direção ao centro e, sem sequer uma declaração de renúncia ao velho ideário, se apaixonaria pelo adversário histórico, para lá mudando-se de mala e cuia, largando no chão da cozinha a camisa e a bandeira vermelhas. Além disso, pasmem! Teria feito tal gesto sem provocar nem uma raivinha, um muxoxo, um beicinho virado no antigo berço, que aceitou a deserção inesperada assim “de boas”, como diria minha sobrinha de 17 anos. Logo o PT que só por ser contra o aborto, deu com o pé no traseiro do Henrique Afonso. Conta outra.


Somente uma Poliana (os mais velhos sabem do que se trata, os mais novos vão no Google) acreditaria que o ex-Prefeito, ex-Governador e ex-Senador Jorge Viana, atual “mega star” das exportações brasileiras, czar da esquerda acreana, pai político, padrinho, mentor, tutor e promotor do Marcus Alexandre de burocrata a candidato ao governo, não tem nada a ver com isso, foi pego de surpresa pelo pupilo, não se sentiu traído, e estreará docemente como coadjuvante no teatro montado pelos sábios anciãos emedebistas. É demais.


Somente um recém-chegado de Marte poderia supor que as lideranças do petismo e associados, com Lula de caneta fácil na presidência, cederiam graciosamente ao MDB generosos espaços de poder, a não ser que na coxia mantivessem nas mãos os cordões e os manobrassem com toda força a que estão acostumados há mais de 30 anos. Sinal da extravagância do desprendimento petista é que nem o posto de vice-prefeito na chapa a esquerda exige. Ora, ora. Se tem a candidatura principal, por que raios o PT brigaria também pela Vice, não é mesmo?
Por dedução lógica, pode-se afirmar que Marcus Alexandre é candidato do PT, embora temporariamente acolhido no útero emedebista que lhe emprestou a barriga. O processo é bem semelhante ao humano, ou seja, quando um casal, cuja mulher não pode ter filhos, resolve contratar uma que se comprometa a receber e desenvolver na barriga por nove meses o embrião gerado a partir do casal original. É claro que o filho gestado possui carga genética, traços, etc, dos pais biológicos, sendo por eles retomado logo após o nascimento. Em muitos casos (é ilegal), a mulher barriga de aluguel recebe uma grana pelo serviço prestado, em outros, o faz por altruísmo e generosidade.


No presente caso, se a gestação for bem sucedida, o que duvido muito, ou seja, se Marcus Alexandre for eleito (nascido) no MDB, certamente os pais (PT) aparecerão para buscar o bebê-prefeito. Levarão? Na vida real, há muitíssimos casos, inclusive relatados em filmes e livros, de mães de aluguel que se negaram a entregar os filhos aos pais biológicos, ainda que estes cumpram o prometido. É o amor materno se pronunciando. Como fato político, entretanto, as coisas são diferentes porque entra em cena o próprio filho que já nasce adulto e, em tese, tem livre arbítrio. Marcus Alexandre permanecerá ao lado da recém-conhecida mãe de barriga (MDB), ou retornará glorioso para os poderosos, afetuosos e saudosos braços dos pais (PT), dos quais herdou toda a carga genética, sendo escarrado e cuspido a cara da família?


Um amigo emedebista das antigas me garantiu que, sabendo de tudo isso, o partido está esperto e exigirá, pelo menos, a guarda compartilhada do filho. Há tempos em jejum de poder na capital e ao nível estadual, muita gente na sigla anda ansiosa por voltar aos corredores palacianos e instâncias de mando. Não tem sido fácil sobreviver com escassa representação e lideranças políticas extenuadas. Neste sentido, o Marcus Alexandre, devidamente ensaboado e despido da camisa vermelha que usou desde a nascença, eleito prefeito, seria na prática um bilhete para o retorno do MDB ao camarote da política estadual. De todo modo, o Conselho Jedi, se é que me entendem, corre um risco bem elevado de logo na partida ser abandonado pelo Skywalker nascituro.


Não possuindo nenhuma vocação para Pítia, me dispenso do adivinhatório e fico apenas no que está evidente, obvio, ululante, escrachado mesmo na cara dos eleitores de Rio Branco. Embora os envolvidos, declarados ou enrustidos no partido e na mídia, por estratégia camuflem, neguem e garantam que Marcus Alexandre apareceu com a foto de Ulysses Guimarães batendo à porta, e agora reza a cartilha do MDB, a lógica, o histórico, a personalidade política, a conjuntura, os apoios, a carga genética e até certos maneirismos gritam: MARCUS ALEXANDRE é PETISTA! Cai na lorota quem quiser.



Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor Percival Puggina e outros sites. Quem desejar adquirir seu livro “Desaforos e Desaforismos (politicamente incorretos)” pode fazê-lo por este LINK