Aproveitando a estrondosa visita do ex-Presidente Jair Bolsonaro com sua família a Rio Branco nos últimos dias, em uma estada que teve como pontos mais significativos o recebimento do título de Cidadão Rio Branquense outorgado pela Câmara de Vereadores da capital, o Seminário sobre a Segurança Pública, o grande evento do PL Mulher comandado por Michelle Bolsonaro e, ao cabo, a filiação do prefeito Tião Bocalom em pré-campanha para reeleição, tentarei refletir brevemente, ao meu modo, sobre uma provocação recente do fraterno colega colunista, o grande jornalista, escritor e apresentador Astério Moreira, aqui no ac24horas.
É obvio que, falando para dentro do PL e aliados, Bolsonaro aperta o compromisso de seu eleitorado, ratifica posições, afaga corações fervorosos etc., mas, diferentemente do que argumenta o colega, data vênia, penso que isso é o de menos. Fosse apenas um reforço no cimento eleitoral, a viagem de três dias não valeria o esforço. A meu ver, a importância de Bolsonaro nas eleições de Rio Branco reside fundamentalmente na politização da campanha, o que é, aliás, da essência da disputa entre projetos divergentes. Vale dizer, Bolsonaro ajuda a trazer a campanha para a política, de onde não deve sair jamais.
Há uma lenda contada de acordo com a conveniência, de que as eleições para prefeito são o resultado de uma série de compromissos relativos a obras e serviços paroquiais, de compadrios majoritariamente urbanos, de asfaltamento de ruas, de limpeza da cidade, de tratamento de lixo, de transportes, de manutenção de atendimento médico e de uma educação acessível, de alíquotas de IPTU etc. Repito. Isso é lenda e, convenhamos, de péssima raiz à medida que despolitiza o debate, deseduca e reduz o cidadão a um aferidor de afinidades administrativas na maior parte rotineiras e rasas, afastando-o dos reais problemas nacionais, do déficit estratosférico, dos gastos desmesurados, da segurança perdida na caatinga, da política externa vergonhosa, do alinhamento a terroristas e ditaduras, da censura sendo implantada, da injustiça grassando, da marcha suprema contra a democracia. Tratar o eleitor municipal como um sujeito que não se incomodaria em viver sob uma ditadura, desde que sua rua estivesse asfaltada e limpinha, me parece bastante duvidoso.
Lembro que recentemente, num vislumbre dessa situação, alguém estranhou que uma eleitora declarasse que não votaria no candidato da esquerda para prefeito porque ele defende a liberação das drogas. Com um sentimento de lástima, o nosso amigo pensou “essa mulher ignorante está sendo manipulada e acha que prefeito manda nessa questão das drogas”. Sábia mulher, digo eu. Sábia porque seu olhar como cidadã vai além do próprio umbigo e enxerga ao seu redor, na sua cidade, em sua família e no seu trabalho, o drama da dependência, a crueza da violência e todo o infortúnio causado pelo uso e tráfico de drogas. Ela percebe que votar em um candidato pertencente a uma corrente política que advoga a descriminalização da maconha, significa ajudar a construir o alicerce do edifício nacional do vício e da morte que fatalmente a atingirá em cheio. O mesmo acontece quando se trata de aborto, de ideologia de gênero, de invasão de propriedade privada, de censura e tantos outros temas que imprensa, justiça, especialistas e intelectuais “dipromados” adoram envelopar com subjetividades, certos de que no andar de cima cabe a eles decidir como devem viver, amar e votar os “pobres ignorantes” em suas circunstâncias periféricas.
Então, no caso específico, tratando-se da visita de 3 dias de Bolsonaro ao Acre e da filiação de Tião Bocalom ao PL, eu diria que, além do número de votos objetivamente somados ou afirmados, a importância da vinda de Bolsonaro (quem esteve em algum dos eventos viu) é enorme, pois estabelece desde logo uma agenda de princípios e valores inegociáveis, sintetizados em defesa da vida, da liberdade, da propriedade, da família e da pátria.
Sim, o leitor pode chamar isso de divisão entre direita e esquerda, já que, antes, o próprio Lula afirmou que essa é uma pauta atrasada que ele combate há décadas. Que seja. Indubitavelmente, há uma agenda de direita e outra, de esquerda, no mundo todo. Apenas nos últimos dias, candidaturas de direita foram vencedoras em Portugal e, pasmem! Na Holanda, país líder da vanguarda esquerdista. Em toda a Europa se levantam setores ameaçados pelo globalismo. O tempo da agenda 2030 está indo pro saco, como já reconheceu seu representante máximo, o ultraprogressista Klaus Schwab, criador e presidente do Fórum Econômico Mundial. Nos EUA a volta de Donald Trump é dada como certa, enfim, aos poucos o mundo está tomando juízo.
É claro que neste momento, justificadamente de luto embora no poder, praticamente órfã de lideranças nacionais, já que seu demiurgo posto no planalto não põe a cara na rua sem ser chamado de ladrão, a esquerda brasileira, através de seus prepostos na grande imprensa, age para despolitizar as eleições municipais, fazendo-a mera opção administrativa, como se ao cidadão fosse dada a escolha rasa entre estilos de gestão, ou do líder mais carismático.
Os lamurientos metidos a intelectuais, que antes sentiam com gosto a lama da corrupção batendo nos glúteos, e davam de ombros porque “não se mexe no esgoto sem sujar as mãos”, hoje reconhecem com ar de tristeza e resignação que a sociedade brasileira é majoritariamente conservadora. Como afogados se agarram a uma inelegibilidade bizarra, fabricada por eles mesmos, como tábua de salvação contra a avalanche popular. Eu conto, ou vocês contam?
Engraçado que, por conveniência, os tais critérios administrativos não valem quando se trata de um Guilherme Boulos, por exemplo. “Temos que ideologizar a campanha municipal em São Paulo” dizem eles. Lá a esquerda precisa debater a questão do negro, da mulher, dos LGBTZ, da migração, das cotas, das armas, das drogas, do aborto, do meio ambiente, do aquecimento global, do capitalismo, da anistia, da religião, de Israel, da Rússia, da China, da Venezuela, de Cuba (desculpem, da Venezuela e de Cuba não porque lá a democracia e o desenvolvimento estão “bombando”). É dizer, como exibir a eficiência administrativa de Boulos, que nunca trabalhou na vida?
Concluo. Jair Bolsonaro deixa para os Senadores Marcio Bittar e Allan Rick, e para os deputados federais, estaduais e candidatos mais alinhados com sua agenda conservadora e liberal, além do seu endosso, a missão de levar adiante, com repercussões nas eleições de vereadores e de prefeitos, mas não apenas, um debate verdadeiramente político, amplo, inclusivo e edificante da cidadania. Aguardemos.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor Percival Puggina e outros sites. Quem desejar adquirir seu livro “Desaforos e Desaforismos (politicamente incorretos)” pode fazê-lo por este LINK.