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Moveleiro acreano aposta em peças decorativas para sobreviver à decadência das marcenarias

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Como uma das milenares atividades humanas, a marcenaria tradicional faz parte da vida de quase todas as pessoas. Até pouco tempo, de maneira especial nas pequenas cidades, tudo o que se consumia em móveis e afins saía de uma dessas pequenas oficinas – das mesas em que se comia, às camas nas quais se dormia, até aos rústicos caixões em que se ia para a chamada “última morada”.


 

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No Acre, não diferentemente de outros locais do Brasil e do mundo, as antigas marcenarias e seus artesãos – incluindo-se aí os carpinteiros – tiveram papel importantíssimo na formação das sociedades locais e na construção do patrimônio histórico-arquitetônico das cidades acreanas que, é importante lembrar, não tem sido preservado da forma devida.


 


Outro fato que merece destaque é que, apesar da enorme e indiscutível importância da marcenaria tradicional para e de seus artífices para a economia local, a atividade sempre foi subvalorizada nos municípios acreanos. Restrita aos fundos de quintal das residências de seus proprietários, poucos desses verdadeiros ateliês de pura arte criativa conseguiram se destacar.


 



 


Nos últimos anos, mesmo com os esforços do governo do estado, que fez investimentos para tirar os marceneiros da informalidade, com a criação dos espaços batizados de Polos Moveleiros, os profissionais seguiram, após um entusiasmo inicial, enfrentando dificuldades relacionadas às licenças de funcionamento e ao acesso à madeira de qualidade e de origem legal.


 


Com a chegada ao mercado local dos móveis industrializados e adoção cada vez maior das esquadrias de alumínio e portas e janelas de vidro, as marcenarias perderam ainda mais o espaço, considerando que poucas delas têm procurado se reinventar e aderir a novas alternativas de produção, como é o caso do uso  do MDF na confecção de móveis planejados.


 

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Em Xapuri, Aldenor Ferreira da Silva, de 63 anos, um dos empreendedores instalados no Polo Moveleiro está buscando uma alternativa para fugir do declínio da marcenaria tradicional na produção de peças decorativas, feitas a partir de sobras de madeira usada na produção de móveis ou derivadas de restos de árvores encontradas na própria floresta, em uma experiência ainda embrionária para ele.


 


Empregando 11 funcionários de maneira direta e mais 8 de maneira indireta, Aldenor Ferreira afirma que ainda não largou o trabalho tradicional da produção de móveis, mas não nega que vislumbra, em um futuro próximo, se dedicar apenas à produção de peças artísticas, com agregação de valor e direcionada para outros mercados, com a ajuda do Sebrae.


 


“Diante da perspectiva cada vez menor de acesso viável à madeira legal para a produção de móveis, a gente começou a pensar em inovar, mesmo com uma coisa que é tão nova assim, mas no sentido de mudar o foco principal da nossa produção para as peças decorativas. Um caminho para agregar valor ao resultado do trabalho, buscando novos mercados”, explica.


 


Ferreira não é um dos marceneiros tradicionais de Xapuri, mas passou a se dedicar à atividade de marcenaria a partir dos anos 1990. Depois de sair da cidade para estudar fora, se formando como Técnico Agrícola em São Paulo e como Administrador de Empresas em Rondônia, ele voltou à sua cidade natal, trabalhando na gestão do ex-prefeito Júlio Barbosa.


 


Foi nesta época que se envolveu em um projeto que criou a oficina Escola de Marcenaria Carlo Castiglioni – EMEC – de Xapuri, iniciativa que formou vários jovens da cidade na área de marcenaria por meio do Centro de Tecnologia da Madeira e do Mobiliário (Cetemm) em parceria com várias instituições, entre às quais a Igreja Católica e o Comitê Amazônia/Brianza, da Itália.


 



 


“Foi um momento importante aquele, em que todo esse projeto em torno da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentável estava em pleno debate, quando se sonhava muito em, realmente, se instalar em Xapuri um polo de indústrias de produtos madeireiros, com matéria-prima oriunda de projetos de manejo florestal”, afirma o empresário.


 


A partir dali, Aldenor se firmou na marcenaria, passando a ser um dos contemplados com um dos galpões construídos pelo governo do estado dentro da estrutura do Polo Moveleiro de Xapuri. No entanto, o projeto de juntar todas as marcenarias da cidade em um único local, como resultado da exigência de regulamentação da atividade pelo Ministério Público, não foi a redenção da atividade.


 


Com as dificuldades encontradas para manter a empresa apenas com base na produção de móveis, ele resolveu investir nas peças decorativas com base na experiência da empresa Aver Amazônia, da designer Etel Carmona, que junto com o ex-marido, Virgílio Viana, instalou uma fábrica de móveis e joias madeira de alto padrão em Xapuri, a partir de 1999.


 


 


O destino da produção da fábrica de Carmona, que se instalou na cidade a convite do governo Jorge Viana, era o alto mercado da decoração no Brasil e no exterior. Anos depois a iniciativa fechou as portas em Xapuri e, há alguns anos, Etel e alguns sócios foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) por extrair ilegalmente madeira na Amazônia.


 


Para Aldenor Ferreira, um dos principais objetivos do seu trabalho, além da consolidação de sua empresa no viés decorativo de produção, é abrir uma tendência de inovação e da abertura de novos caminhos para a atividade das empresas do ramo da marcenaria de Xapuri, que no curso dos anos têm enfrentado uma dura batalha para se manterem funcionando.


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