Exmo. Sr. Senador e demais:
Venho, respeitosamente, arguir e, ao final, pedir conforme abaixo, que avalie com critérios mais serenos e objetivos o voto, ou, se for o caso, o não-voto, no próximo dia 30 de outubro, quando o povo brasileiro elegerá seu presidente da república.
Inicio com uma frase atribuída ao escritor e dramaturgo francês do século XVII, Philippe Destouches: “Os ausentes nunca têm razão”, que bem poderia ser outra, do filósofo e cientista político irlandês Edmund Burke, do século XVIII: “Para que o mal triunfe, basta que os bons fiquem de braços cruzados”. Ambas servem para sustentar que a posição de lavar as mãos não engrandece o homem público, especialmente quando está em jogo uma causa importante. Senador, não vivemos tempos comuns, o que será decidido na eleição presidencial é para todos os brasileiros muito mais do que a simples posse de um ou outro líder. Trata-se da possibilidade de mudança radical e duradoura para a sociedade brasileira.
Não farei menção ao passado de nenhum dos dois candidatos. São por demais conhecidas as estrepolias morais de um e a rudeza de outro. Quero falar a si, aos seus eleitores, aos indecisos e aos que de algum modo se abstiveram no primeiro turno, da agenda de cada um e, consequentemente, do futuro que desenham. Em outras palavras, não pretendo neste pequeno texto trazer Lula e Bolsonaro ao cadafalso com suas culpas, mas ao púlpito com suas propostas. É suficiente.
Em primeiro lugar, é forçoso reconhecer, até para o mais empedernido opositor, que no cenário global o Brasil se encontra em larga medida entre aqueles que melhores condições possuem de ultrapassagem da crise. As contas estão íntegras, a inflação em baixa e sob controle, o câmbio idem, o emprego em alta contínua, os mais pobres amparados pelo auxílio Brasil e investimentos beirando a casa de 1 trilhão já contratados para os próximos 10 anos, o que nos garante segurança de que está no rumo correto. Mudar traria consequências funestas como demonstram a Argentina e o Chile bem aqui do lado.
Em segundo, o Congresso eleito, majoritariamente conservador e liberal no que trata de economia, deverá sustentar uma reforma tributária ampla e necessária como se reclama há muito tempo. A base parlamentar do presidente Bolsonaro poderá fazer isto e muito mais com outras reformas, na área penal por exemplo, dando mais condições de justiça ao povo brasileiro. A opção Lula vai contra o Congresso e o levará, como já prometido, a uma constituinte aos moldes do que ocorreu na Venezuela, onde paralelamente construíram uma Carta socialista, praticamente dissolveram o parlamento e desgraçaram a nação.
Em terceiro, as perspectivas acreanas de superação da pobreza via produção e desenvolvimento de suas potencialidades, já fortemente sinalizadas pelo recente impulso ao agronegócio, terão um freio anunciado. Enquanto Bolsonaro luta para manter a soberania sobre a Amazônia, Lula já disse que subordinará a política ambiental brasileira aos ditames da ONU, por cima da soberania nacional. Aliás, conta agora com o apoio de uma deputada paulista nossa conhecida, Marina Silva. Decididamente, votar em quem chamou o agronegócio de fascista não é uma boa opção para o acreano.
Em quarto, nós já penamos muito com os danos causados pelo uso de drogas para que a liberação seja considerada razoável. Eleger Bolsonaro é a certeza de que essa agenda não será impulsionada, pelo contrário. Enquanto isso, Lula pretende facilitar a vida dos traficantes com a desculpa de diminuir o encarceramento. O resultado seria mais drogas nas ruas e menos traficantes presos.
Em quinto, a criminalidade brasileira não precisa que os pequenos roubos, de celulares, por exemplo, sejam dados como opção legitima acobertada pelo estado. Esses “pequenos delitos” na ótica do Lulismo é o criadouro de criminosos de toda ordem e devem, pelo contrário, ser duramente penalizados na origem. A hora é de trazer ao debate a redução etária da punibilidade.
Em sexto, pensemos em nossas crianças. Nas que não nasceram, nas que no ventre de suas mães não podem pagar com a vida pelo ato adulto. As possibilidades já abarcadas pela lei são mais que suficientes, não precisamos afrouxar aborto ao ponto de “quem não quiser ter seu filho não tenha tem e não precisa ter vergonha disso”, como sugeriu Lula da Silva. Mesmo desvinculado de qualquer aspecto religioso, o aborto é inaceitável porque é crime contra um direito natural – a VIDA.
Então, Sr. Senador Sérgio Petecão e demais destinatários, não querendo ser enfadonho nem panfletário, deixo de abordar questões como a liberdade já ferida pelo ativismo judicial e sempre ameaçada quanto mais se aproxima de regimes de matiz socialista, de antecipar as consequências da relativização da propriedade privada (Lula prometeu liberar invasões), de discutir sobre as questões religiosas (Nicarágua e Venezuela dão exemplos recentes), de esmiuçar a ideologia de gênero, enfim, sem exaurir a agenda da esquerda representada por Lula, quero pedir com todo fervor que não se omita.
Desculpe-me a ousadia, mas de um Senador tenho o direito de pedir uma posição clara, que faça uma escolha, dado que é homem público, que tem mandato popular e nos representa. Sua voz é muito importante para que não seja ouvida, ainda que isto lhe custe um tanto de humildade e um quê de sacrifício. Do eleitor, tenho o direito de pedir que reflita. Não precisa acreditar neste articulista, mas precisa se informar, busque, pergunte, ouça os dois lados e decida seu voto, compareça, não anule, vote. Cidadão e cidadã é o que sois.
Concluo esta missiva lembrando uma frase ainda mais conhecida, de Martin Luther King, pastor e ativista político americano no século passado e ícone da luta contra o racismo: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.
Atenciosamente.
Valterlucio Bessa Campelo