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Os desafios de Jorge Viana nesta eleição

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A entrada do ex-governador Jorge Viana na disputa pelo governo, abrindo mão de uma eleição quase certa para o Senado, além de ampliar o leque de opções para o eleitor, trouxe de volta o debate do desenvolvimento para o centro da discussão política, o que é muito bom para o Acre. O fato, porém, de resolver entrar na disputa na última hora lhe impõe uma série de desafios.


Que Jorge Viana é um bom gestor até as pedras do Mercado dos Colonos o sabe. Que tem boa capacidade de articulação política, também – e essas são as duas competências básicas que um bom governante precisa ter. Se isso é suficiente para superar as dificuldades pelo caminho e vencer a eleição, é o que a campanha dirá.

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Falemos dos desafios.


O primeiro é de discurso. Após quatro anos em que uma certa “narrativa” se impôs, que acusa o período de governos do PT de ter “atrasado” o Acre, Jorge terá que sustentar uma “contra-narrativa” que mostre o inverso: foi o tempo de maior virtuosismo e abundância na história acreana. Dados e indicadores não lhe faltam. Basta esgrimar os avanços na educação, em que o estado pulou dos últimos lugares no Brasil para os primeiros da Região Norte no ensino fundamental, por exemplo; pode falar dos investimentos na infraestrutura de estradas, pontes, parques, avenidas, bibliotecas, escolas e hospitais construídos. Poderia falar, principalmente, de economia, em que o crescimento do PIB acreano ficou muito acima da média nacional do período.


O segundo é de tempo e oportunidade. Com pouco mais de um minuto e meio no horário eleitoral e algumas poucas inserções ao longo do dia, será difícil contar com o programa de televisão para fixar um discurso. E talvez não disponha de estrutura de campanha capaz de dar sustentação a essa contra-narrativa que precisa fazer chegar ao povo. As campanhas dos adversários terão muito mais recursos que a sua. Além do que, ao que tudo indica, o atual governador parece estar à vontade para fazer uso do exército de cargos comissionados, funções gratificadas e empregados terceirizados em sua campanha.


O terceiro desafio é de posicionamento. Como sustentei nesse espaço há algumas semanas, a sociedade acreana, e por conseguinte o eleitor acreano, não é conservadora. Ela é mudancista. Quando foi eleito em 1998 Jorge Viana representava a mudança diante de um quadro de colapso do Acre. Naquele momento, nada funcionava por aqui. A economia estava em frangalhos, os serviços públicos depauperados e tomados por uma certa corrupção de baixo-clero, e na segurança prevalecia a lei da selva do grupo de extermínio liderado por Hildebrando Pascoal. O exemplo mais eloquente da falência geral sem dúvida foi a herança de até cinco meses de salários atrasados dos servidores públicos que recebeu.


O que atesta sua condição de bom gestor é que Jorge superou todas aquelas dificuldades com paciência, bom planejamento e uma equipe eficiente. Mesmo muito jovem, teve a sabedoria de não ficar jogando pedras nas gestões anteriores e lamentando a “herança maldita”.


Nessa eleição, porém, Jorge tem diante de si a dura tarefa de sustentar perante o eleitor que ele é a mudança. De convencê-lo que, neste momento, mudar significa apostar em boa gestão de governo, capacidade técnica e credibilidade perante a Brasil e o mundo. Explico a seguir.


O modelo político que vinha ganhando corpo desde 2010 e prevaleceu em 2018 é algo que poderíamos chamar de “populismo de mesa de bar”. As principais características são o uso exaustivo da “técnica do espelho”, em que o político busca criar conexão com os eleitores por meio da imitação de seus gestos, hábitos e valores – uma farsa do ramo dos negócios aplicada à política eleitoral. A outra é a substituição da política pública pelo favor pessoal.


Em geral, a consequência do “populismo de mesa de bar” é a falência da gestão de governo. Exemplos disso não nos faltam. E, no Acre, quando o governo é ruim, praticamente toda a sociedade padece.


Sustentar um virtuoso debate sobre desenvolvimento, o que implica levantar discussão sobre meios para combater a fome e a pobreza extrema, conter o desmatamento, gerar empregos, promover crescimento econômico e elevar a capacidade do governo de atuar como promotor de tudo isso, requer muito esforço e, principalmente, resistência política.


Parece que Jorge Viana e seus companheiros, nessa eleição, terão que fazer igual nossos peixes agora na piracema: nadar rio acima por milhares e milhares de quilômetros, ganhando força e produzindo os hormônios necessários à reprodução da espécie.

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