A foto acima, divulgada pelo próprio Movimento Brasil Livre – MBL, organizador do evento, dá ideia do ajuntamento que ocorreu no último domingo, dia 12, na avenida Avenida Paulista e se replicou em pequeníssimas proporções em algumas capitais brasileiras, na tentativa de encorpar a formação de uma “terceira via” no cenário político polarizado que temos hoje. Chamaram a si mesmos de NEM Lula, NEM Bolsonaro. Como o Brasil testemunhou, foi um fiasco tão retumbante que até agora tem isentão de cueca vermelha aturdido, soltando impropérios e exibindo a nata de seu raciocínio primário. Viva a liberdade de expressão!
No palanque, dos adolescentes do MBL ao experimentado coroné Ciro Gomes do PDT, do sofisticado Amoedo ao tucano saltitante João Doria, do Mandetta “vá pra casa e espere a falta de fôlego” à perturbada Joice Hasselman, dos comunistas à musa do MDB, da Força Sindical ao movimento LGBTQI…Z, enfim, uma embiricica de audenominados líderes e presidenciáveis da “terceira via” discursaram na Avenida Paulista ocupada em meio quarteirão, para declararem que em 2022 o brasileiro terá uma alternativa ao “centro”. Quase ninguém compareceu.
Dessa manifestação de mais caciques do que índios, a extrema esquerda não quis participar. O próprio Lula deu a ordem de retirada. Há quem diga que foi por causa da presença no palanque de um monte de gente que o chamam de ladrão, outros acreditam que o motivo é ideológico e há os que, como eu, acham que Lula não tem nenhum escrúpulo mas lhe sobra esperteza. Previu o fiasco e não quis arriscar seu cacife sustentado nas pesquisas do Datafolha em uma manifestação que, de qualquer forma, seria comparada à do dia 7 de setembro. Ou faria uma equivalente, ou ficaria em casa observando o fracasso. No final das contas, estava certo.
É cedo ainda pra dizer que desse mato não sai coelho, afinal, com a Justiça que temos, não se pode ter certeza nem que o céu é azul. Contudo, ceteris paribus, a terceira via parece estar no caminho do brejo com vaca e tudo. Pelo menos do ponto de vista desse observador, está claro que falta a essa mixórdia partidária, o principal – o eleitor e uma proposta. Essa turma que desceu da varanda gourmet para o palanque do dia 12 na Paulista, que olha com desdém e faz chacota do Bolsonaro (o tosco do baixo clero da Câmara Federal), e tentou desde o início de seu governo impedi-lo de governar, na base de carimbos retóricos e empecilhos em relação à sua agenda reformista, carece de representação popular legítima. São lideranças fantasmagóricas.
Em termos de engajamento popular, os “de centro” estão parcialmente no colo do lulopetismo, se comportam como a esquerda que esconde as vergonhas, mas se revela progressista, socialista, globalista ou qualquer que se dê como antagônico a quem seja conservador, capitalista, patriota, enfim, de direita, se preferirem. Resultado: estes últimos ficam, como demonstraram em 7 de setembro, onde estão e, sem uma parte importante deles, a terceira via é uma quimera.
Por outro lado, aquele zoológico político pode ter tudo menos um projeto de país que o harmonize. Que agenda econômica vai uni-los? Em torno de que causas se consertariam agentes tão díspares? Se o único objetivo for derrubar Bolsonaro, aviso que para isto saíram na frente o lulopetismo e seus amigos no outro lado da praça. Serão rebocados. Mesmo assim, parece que a cada dia a tarefa inglória fica mais difícil, vide manifestações de rua. Ouso dizer que se o governo Bolsonaro tiver um fôlego de seis meses para governar, esqueçam!
Sim, é bem verdade que eles (o centro) tem a grande mídia, o capital financeiro etc, mas é só isso e, em tempos de internet, não parece que os velhos sistemas de comunicação elejam quem quiserem. Por dever de justiça, diga-se que da turma toda quem aparece brandindo que tem um projeto nacional é o “coroné” cearense. Confesso que não li seu livro-ideário, hoje vendido a 26 reais, portanto, não tenho como opinar criteriosamente sobre ele, mas, posso dizer que pela repercussão nos meios políticos (nenhuma), não fez muito sucesso, aliás, nem mesmo foi criticado seriamente por grandes economistas, sociólogos ou cientistas políticos, o que é pior.
Já se fala que no dia 02 de outubro a turma que ficou de fora do dia 12, o lulopetismo raiz, fará a sua grande manifestação. O mote será “fora Bolsonaro”, o que não surpreende. Há negociações em curso para que os NEM NEM do dia 12 tenham algum tipo de amnésia e se curvem ao ex-presidiário. Sérgio Moro entrará de mãos dadas com Lula no palco? A doce Tábata Amaral beijará a mão suja do “demiurgo” de Garanhuns? Amoêdo dará um selinho na Gleise Hoffmann? Ainda não se sabe quem, mas é possível que parte da turma do dia 12/10 também esteja lá. O certo é que o povo está vendo. Ao engrossar as fileiras do lulopetismo no dia 02/10, os NEM NEM arriscam sumir de vez como embusteiros, serão engolidos e perderão o fio de razão para existirem.
A não ser que o STF ou o parlamento arrume um jeito de retirar do páreo Lula ou Bolsonaro, o duelo já está marcado entre os dois. Aliás, já se nota movimentação neste sentido. Muita gente no andar de cima está querendo decidir o jogo no tapetão, e há juristas arrumando pretextos para a inelegibilidade do PR. A ideia é que, sem Bolsonaro no ringue, qualquer um do sistema ganha do Lula, o inverso é arriscado. Portanto, a hora é de todos contra Bolsonaro para evitar sua candidatura. Falta ainda combinar com sua excelência o eleitor, que a julgar pelo dia 7 de Setembro, talvez não aceite inerte um golpe jurídico ou parlamentar no Presidente.
Enfim, se nenhuma esquisitice acontecer até lá, a estratégia de divisão da nação entre nós e eles, historicamente utilizada pela esquerda para clivar a população e, cinicamente, apresentar-se como o lado bom da história, terá funcionado. Ao que tudo indica, teremos o Fla-Flu do campeonato político. Os SEM votos e SEM causa ficarão na arquibancada com sua claque isentona.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site acreano ac24horas e, eventualmente, em seu BLOG e no site Conservadores e Liberais – Puggina.org