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O Mandetta caiu, mas não se assuste, vai melhorar

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Mero opinante neste espaço, quero dedicar algumas linhas à questão que preme os nossos dias. Trato, obviamente, de aspectos relacionados à pandemia do “vírus chinês”, responsável pela COVID-19. Faço-o de um ponto de vista incomum, reconhecendo, desde logo, que ir contra a corrente não é nada fácil nestes dias de hegemonia do pensamento politicamente correto, sintetizado no mantra “fique em casa”, uma facilidade linguística encontrada para amedrontar o cidadão, dele retirando a liberdade e submetendo-o ao arbítrio do Estado poucas vezes tão opressor.


A principal característica da campanha de enfrentamento ao vírus chinês é, sem sombra de dúvidas, a geração, ampliação e manutenção do medo. A frase completa na mente de cada brasileiro é “fique em casa, senão o vírus vai te pegar”. A soleira da porta da frente de nossa casa foi transformada em véspera da morte, como se lá fora houvesse uma nuvem de radiação à espreita. 


Esta, a inoculação do medo na sociedade, é uma velha arma de dominação (certo, Maquiavel?). Há mesmo, conforme vários estudos nas áreas de filosofia e psicologia, uma ideologia do medo que abre espaço para toda sorte de vilipêndios. Desde a simples abordagem por um assaltante à ameaça de guerra nuclear, é o medo que paralisa o alvo e permite a ação do agente coator. No caso do vírus chinês, o medo está dando oportunidade a que governantes percam os freios e adotem medidas de cunho autoritário, conforme sua própria natureza e instinto.


É sobre o medo que tiranetes se revelam no Brasil como se brotassem no campo. Amparados em mais uma decisão militante de nosso STF, governadores e prefeitos deram vezo a atitudes inaceitáveis. Principalmente em São Paulo, Rio de janeiro, Goiás e Pará, danaram-se a coibir o direito constitucional de ir e vir firmado na Constituição Federal desde 1824. Segundo o próprio STF, esses arroubos autoritários em níveis subnacionais podem se ancorar em uma ciência de pé torto e controversa, cujos termos balizadores emanam da suspeitíssima Organização Mundial de Saúde – OMS.


Não há, como sabem todos, ciência firmada sobre a pandemia da COVID-19. Estados nacionais dão marchas à frente e à ré no isolamento dos cidadãos sem que a eficiência de seus resultados seja minimamente provada. Autoridades epidemiológicas e infectologistas se dividem quanto aos resultados do isolamento social. O que se tem é que, presumivelmente, a COVID-19 se comportará, como as outras viroses, em uma curva normal cujo pico o Ministro Mandetta desconhecia em data e níveis, para ele poderia ser em abril, maio, junho… Aquele que se amparou na “ciência” para lhe trancar em casa, não fazia a mínima ideia de quando iria lhe abrir a porta. É surreal.


Também parece incontroverso que os danos psíquicos causados às pessoas serão inestimáveis. Não se tem ideia da extensão e profundidade dos transtornos que meses de clausura podem acarretar, especialmente para as crianças e jovens, afastados de seu dia a dia, de sua convivência social, de seu modo de vida, do lazer etc. A porta deste inferno traumático se abrirá depois, sem que haja um mínimo de preparo da própria sociedade para lidar com tal circunstância.


Certeza mesmo, temos apenas de que a depressão econômica provocará muito mais mortes por diversos fatores do que a própria COVID-19, independentemente da análise vir de uma modelagem complexa ou de simulações em uma tabela estudantil. No Brasil já são mais de 9 milhões os novos desempregados, nos EUA ultrapassam os 22 milhões e por aí vai. 


É cômodo, tanto quanto hipócrita, para quem trava uma batalha política dentro da guerra sanitária global, seja a esquerda mofada ou o centrão oportunista, macaquear os artistas do PROJAC e as COVIDNEWS diárias e repetir à exaustão a ordem “fique em casa”, sem enxergar as cenas diárias de aglomeração, portanto infectantes, seja na fila da Caixa Econômica ou nas doações estatais de cestas básicas. Em sua faina contra Bolsonaro, essa gente dada a humanismo de goela não se ofende ao ver as inúmeras imagens de truculência policial contra pessoas comuns, inclusive mulheres sozinhas, abordadas violentamente em uma praça apenas por estar… na praça!


Enquanto isso, a economia é destruída, as empresas, sejam grandes ou pequenas fecham as portas, as escolas e universidades rompem suas próprias estruturas, métodos e prazos, as famílias empobrecem, os miseráveis se multiplicam, sonhos e projetos se dissolvem, o caos se aproxima… Para alguns, conscientemente, e, para outros, nem tanto, Keynes está logo ali, basta o Governo Federal rodar a maquininha e outro New Deal nos salvará, importa é que o terceiro turno da campanha seja ganho, se não for por justa razão, que seja pela usurpação de poder como faz a Câmara dos Deputados pelas mãos de Rodrigo Maia, o “botafogo” das planilhas de propina da ODEBRECHT.


Todo esse processo se deu sob a liderança do ministro Mandetta, do DEM, correligionário de Rodrigo Maia, Alcolumbre, Caiado e outras sumidades da política brasileira. Durante meses, sua opção rígida pelo confinamento horizontal dos brasileiros entrou em choque com a perspectiva de Bolsonaro e da equipe econômica, de preservação das condições mínimas de retomada da economia lá adiante. Ele endossou, no mínimo por omissão, cada surto autoritário dos governadores e prefeitos, funcionando como avalista “científico” dos ataques às liberdades individuais.


Em outro campo, abraçado pela mídia militante, Mandetta, político que é, percebeu que havia tomado lugar à mesa da política nacional. Sua popularidade, incensada pelas COVIDNEWS, fizeram então com que ousasse dar um bypass no presidente da república, algo inaceitável. Em síntese, o protagonismo subiu à cabeça do primo dos Trads do Mato Grosso do Sul.


Engana-se quem pensa que o político Mandetta queria permanecer ministro, resolver a crise, salvar o Brasil. Há algumas semanas, chegando no ápice da popularidade, medida na casa dos 70% pelos institutos amigos, ele soube que daí em diante só tinha a perder e buscou a própria demissão, cavando a cada pronunciamento o fosso entre si e o presidente da república, que nunca arredou da responsabilidade com o pós-pandemia, nem com a liberdade. Aliás, no discurso desta quinta-feira em que apresentou o novo ministro Nelson Teich, Bolsonaro foi enfático: “Jamais atentarei contra o direito de ir e vir das pessoas”. Uma tapa na cara dos que estão sempre dispostos a propagar uma suposta tendência autoritária do Presidente.


O novo ministro foi cauteloso até aqui, sabe que encontrará campo minado. Embora seja reconhecido e festejado como médico oncologista e executivo, seguramente não terá a boa vontade do Congresso, especialmente da Câmara dos Deputados onde o centrão dá as cartas e Rodrigo Maia, sempre que pode, empareda o executivo. 


Por enquanto, Nelson Teich, Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade de York no Reino Unido e empresário do ramo mantém, sem a linguagem fluida do antecessor, o argumento que defendeu em artigos publicados recentemente, ou seja, não há como, no nível da gestão global, separar ou antagonizar pandemia e economia e, além disso, é preciso ter mais informação e maior sofisticação no tratamento dos dados da realidade. Vale dizer, a questão precisa ser despolitizada e desapaixonada entre divergências que a rigor são apenas opinativas. Ainda na linha da prudência, Nelson Teich, promete não alterar abruptamente a estratégia vigente. 


Em resumo, sai um médico-político e entra um médico-executivo que, segundo suas próprias palavras, está alinhado com o presidente. Pode-se esperar, em vista disso, que a saída do isolamento a que estamos submetidos e a consequente retomada da vida econômica do país seja planejada e abreviada, ainda que sob controles e protocolos sanitários como deve ser. 


É claro que as COVIDNEWS, cujo comprometimento principal é com o jogo político já referido e não com a população, continuarão a estimular e medir panelaços enquanto espremem seus orçamentos emagrecidos pela falta do jabá federal. O cidadão continuará a ser bombardeado pela mensagem alarmista “fique em casa, senão o vírus te pega”. Espero que de agora em diante, aos poucos, essa frase seja substituída por outra, de esperança, tipo “fique em casa só mais um pouco”.




 


 


Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no ac24horas