Enquanto Jair Bolsonaro arrasta multidões pelo país (veja AQUI como foi no Rio de Janeiro), levando uma mensagem de resistência aos ataques à liberdade que sofremos, inclusive ilegalmente como demonstra o escândalo do Twitter Files Brasil (ver AQUI e AQUI), e chamando a população para nas próximas eleições se posicionarem também no sentido da defesa de valores fundamentais como vida, liberdade, família e propriedade, as mentes “brilhantes” do paroquialismo jogam as eleições municipais nos bolsos ou no carisma do candidato, fazendo da política um balcão de secos e molhados. Não surpreende que, em grande parte, sejam eles também os que defendem a censura perpetrada nos gabinetes da protoditadura lulo-alexandrina.
Para os promotores da política despolitizada, centrada no favorecimento pessoal, no compadrio, na compra de votos e na enganação pragmática do “é dando que se recebe”, ideologia é coisa de intelectual. Quanta ignorância! Embora seja de difícil aceitação para esses “superdotados”, há algo vivo no meio social que resiste à tentativa de aniquilação da sua capacidade de pensar e se indignar contra as ameaças à sua visão de mundo. Pretender a desideologização do eleitor é, a meu ver, um atentado à sociedade.
Especialmente nas capitais e grandes cidades, onde o eleitorado tende a ser mais esclarecido, aqueles que tomam as eleições municipais como se fossem de um mero síndico de edifício, agem em interesse próprio ou estão desconectados do mundo atual, vivem presos ao passado televisivo, de informações empacotadas que enquadram a visão da sociedade em limites funcionais aos seus objetivos nem sempre honestos.
Para alguns candidatos e seus patronos, é melhor manter o eleitor emburrecido e capturado pelo paroquialismo, pois assim fica facilitada a obtenção de votos compulsórios em função da troca imediata de favores ou da promessa de benefícios quase sempre ilusórios. É como o candidato se dirigir ao eleitor com a frase “não me pergunte sobre a liberdade de expressão que eu asfalto a sua rua”. Não há nada mais miserável na política.
Felizmente, em prejuízo dessa visão subterrânea, encontra-se uma realidade que foge ao controle dos políticos paroquiais. Graças à evolução das comunicações, da internet, redes sociais, sites de notícias etc., mesmo o eleitor de baixa instrução formal acompanha temas e debates nacionais e, em alguns casos, internacionais. A notícia sobre a liberação de bandidos em “saidinhas”, por exemplo, que a esquerda defende e a direita rejeita, chega, ao mesmo tempo, ao governador e ao servente de pedreiro. Não terão o mesmo nível de elaboração sobre o tema, mas ambos têm condições de formar a própria opinião, contra ou a favor, sem precisar do JN putrefato.
Alguns espertalhões concordarão que sim, que o eleitor conhece os fatos, mas que na hora de votar para prefeito ele esquece completamente essas coisas e escolhe somente pelo favor imediato ou pela promessa. Querem, pois, os “desideologizadores”, tratar o eleitor como esquizofrênico, imaginam que o sujeito seja bolsonarista para combater a bandidagem, mas é lulopetista para pavimentar a sua rua. Isso mais parece com esquerdistas fugindo do confronto ideológico, vergonhosamente maquiando ou negando a própria identidade política. Por que será?
Interessante notar que o paroquialismo defendido por tantos, só tem em vista um lado da disputa. Quantos por cento dos lulopetistas votariam num bolsonarista, mesmo que tivessem como certo que sua cidade viraria uma Tóquio? Não precisa responder. Por que, então, estaria o bolsonarista consciente (nutelas, sempre há) dispostos a votar no lulopetista defensor da invasão de propriedade alheia, em troca da pavimentação da rua? Também não precisa responder, apenas reflita.
Se, como penso, a decisão do eleitor depende principalmente da quantidade e qualidade da informação acessada, a eleição tende a ser decidida durante a campanha. Quanto mais o eleitor for informado da importância do caráter ideológico das candidaturas, mais chance ele tem de se vincular à perspectiva nacional, porque aí ele se identifica como ser político, verdadeiro agente de mudanças na sociedade. Quanto mais ele for retido na disputa rasa da simpatia, das promessas e dos favores imediatos, mais ele reduz as expectativas, restringindo-as ao seu cotidiano melancólico de necessidades infinitas. Cabe aos candidatos, seus partidos etc., ajudarem no processo de conscientização política da sociedade e não o contrário.
Este é, podemos dizer, o drama principal da disputa que teremos este ano no Brasil. Embora os agentes do paroquialismo rejeitem ou dissimulem, o fato é que as eleições municipais têm forte vínculo com o cenário nacional. Veja-se que as pesquisas dão como certo que cerca de 50% do eleitorado é influenciável pelo Bolsonaro, enquanto metade disso prestam atenção ao Lula.
Engraçado que a esquerda deveria ser a mais interessada em zerar o paroquialismo e submeter a campanha a um processo de conscientização do eleitor, de semeadura ideológica, de formação política, de organização social e de criação de alternativas políticas, não é, Antonio Gramsci? O que houve? Por que tantos vermelhinhos correndo pro paroquialismo? Falta coragem para declarar sua ideologia?
Apesar de todo o esforço realizado neste sentido, o eleitor não é esquizofrênico, ele não tem, ao mesmo tempo, um pé no bolsonarismo e outro no lulopetismo, ele é, isto, sim, dependendo da força de seu vínculo ideológico, naturalmente susceptível à informação que o alcança. A menos que seja ludibriado, aquele cidadão autodefinido como bolsonarista, dificilmente será levado ao candidato lulopetista por causa da pavimentação da rua e vice-versa. Mais provável é que os esqueletos sejam revirados nos armários e todos tenham que assumir suas cores perante o eleitorado.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor Percival Puggina e outros sites. Quem desejar adquirir seu livro mais recente “Pronto, Contei!” pode fazê-lo através do e-mail [email protected]