Por que as pessoas consideradas aptas a trabalhar não estão procurando emprego?
Em artigos anteriores, destacamos os dados da PNAD Contínua Trimestral, que mostrou que a taxa de desemprego do Acre ficou em 10,0%, auferida no 4º trimestre de 2022. Foi a menor para o mesmo período nos últimos sete anos, mesmo com os 35 mil desempregados. Ficou abaixo da taxa de 2016 (11,8%) e acima da taxa de 2015 (7,8%). Porém, vamos destacar no artigo de hoje, um indicador muito importante; trata-se da taxa de participação, que é o indicador que mede o percentual de pessoas que querem trabalhar. É a chamada força de trabalho, ou as pessoas que estão disponíveis para o trabalho. Ela se divide nas pessoas ocupadas e nas pessoas desocupadas (desempregadas).
A taxa de participação do Acre ficou em 51,7%, a segunda pior do Brasil, ficou acima somente da taxa do Maranhão (51,1%). A taxa do Acre, foi também, a segunda menor da série histórica do IBGE que data do primeiro trimestre de 2012. O menor indicador foi verificado, justificadamente, no auge da pandemia, no terceiro trimestre de 2020, que apontou uma taxa de 50,2%.
No Brasil, como um todo, a taxa ficou em 62,1% no 4º trimestre de 2022. Em relação ao igual trimestre do ano anterior (62,5%), o cenário foi de contração de – 0,4 p.p.
No Acre, do primeiro trimestre de 2020 (início da pandemia) ao quarto trimestre de 2022, observou-se uma queda de – 0,7 pontos percentuais (p.p.), conforme demostrado no gráfico abaixo:
Na verdade, no Acre, nem na pandemia a taxa de participação no mercado de trabalho foi tão baixa como agora. Pergunta-se, então, o que justifica as pessoas que, mesmos saudáveis e com idade para trabalhar, não se disporem a ingressar no mercado de trabalho? Porque, como demonstrado no gráfico a seguir, a taxa de participação no mercado de trabalho não retornou para o mesmo patamar do período pré-pandemia?
Em recente artigo da Jornalista Míriam Leitão, no Jornal O Globo, ela descreve algumas pistas para o motivo dessa anomalia no Mercado de trabalho, o artigo pode se acessado através do seguinte endereço: https://oglobo.globo.com/blogs/miriam-leitao/post/2023/03/mercado-de-trabalho-taxa-de-participacao-segue-abaixo-do-pre-pandemia.ghtml – 17/03/2023
Alguns fatores apontados para esta queda são:
– O ainda alto desalento com o mercado de trabalho,
– Renda muito baixa e
– Aumento dos valores dos benefícios sociais nos últimos meses de 2022.
No Acre, o contingente de pessoas desalentadas teve redução de 37% em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior (4º trimestre de 2021), ou seja, uma redução de 14 mil pessoas, saindo de 38 para 24 mil pessoas. Os desalentados é um grupo composto por pessoas que não procuraram trabalho efetivamente por considerar que não conseguiriam trabalho adequado; não tinham experiência profissional ou qualificação; não conseguiam trabalho por serem considerados muito jovens ou muito idosos ou não havia trabalho na localidade. Mas que gostariam de ter um trabalho e estavam disponíveis para trabalhar na semana da pesquisa.
Na tabela abaixo, simulamos o número de pessoas que potencialmente deveriam estar no mercado de trabalho, mas não estão. A simulação foi efetuada com as taxas de alguns trimestres selecionados a saber: aquele que ocorreu a maior taxa, aquele antes da pandemia e o último de 2021.
A leitura da tabela é a seguinte:
1 – Hoje temos uma população apta e em idade para trabalhar de 685 mil pessoas. Mas, no mercado de trabalho, temos somente 354 mil; taxa de 51,6%;
2 – A maior taxa de participação, dentro da série histórica do IBGE, ocorreu no 4º trimestre de 2012 (61,30%). Se aplicado essa taxa com os 685 mil potenciais trabalhadores, nossa força de trabalho seria de 420 mil, portanto, 66 mil a mais do que a existente hoje;
3 – A taxa de participação, antes da pandemia, no 4º trimestre de 2019, foi de 54,10%. Se aplicado essa taxa com os 685 mil potenciais trabalhadores, nossa força de trabalho seria de 371 mil, portanto, 17 mil a mais do que a existente hoje;
4 – Finalmente, a taxa de participação de um ano atrás, no 4º trimestre de 2021 foi de 56,60%. Se aplicado essa taxa com os 685 mil potenciais trabalhadores, nossa força de trabalho seria de 388 mil, portanto, 34 mil a mais do que a existente hoje;
O maior estímulo para a volta desse grande contingente de pessoas ao mercado de trabalho seria o crescimento econômico e a retomada da capacidade de investimentos públicos e privados, que são complementares e precisam estar articulados e ser incentivados.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas