O Acre exportou em 2022 US$ 54,6 milhões de dólares, pouco mais de R$ 273 milhões de reais. O valor das exportações acreanas é o mais baixo dentre os 26 estados e o Distrito Federal. A Região Norte como um todo, exportou um valor correspondente a US$ 25,50 bilhões, portanto o Acre representa somente 0,2% das exportações regionais e somente 0,02% das exportações brasileiras.
Na última segunda-feira, dia 16/01 o novo Presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o acreano e ex-governador Jorge Viana, em visita ao estado, reuniu-se com várias autoridades, empresários, políticos e a comunidade acadêmica para declarar apoio total da Apex a todos os agentes estaduais, para mudar o cenário acreano no contexto do comércio internacional regional e nacional. A meta é que o estado possa atingir, num curto espaço de tempo, um total exportado de US$ 250 milhões de dólares ou seja R$ 1,25 bilhão. No artigo de hoje vamos comentar detalhes dessa audaciosa meta defendida pelo Presidente da ApexBrasil. Os principais dados e informações aqui comentadas provêm da Secretaria de Comércio Exterior, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior com cálculos efetuados pelo autor.
Em 24 anos as exportações cresceram 3.646% em termos reais.
No gráfico a seguir constam os valores das exportações no período de 1998 até 2022. Os dados estão expostos em dólar nominal e em dólar real, ou seja, trouxemos todos os valores correntes para o mês de dezembro de 2022, com o objetivo de abstrair os efeitos da inflação americana, medidos pelo índice de preços ao consumidor ou CPI (Consumer Price Index). Para tanto, acessamos no dia 17/01/2023 o endereço https://clubedospoupadores.com/simulador-inflacao-dolar para corrigir os valores.
Verifica-se no gráfico que a linha de tendência (em vermelho) dos valores reais é crescente. Embora com tendência crescente, no entanto, verifica-se, de um ano para o outro, algumas reduções reais nos valores exportados, a saber: de 2011/2012 (-46,1%), de 2013/2014 (-37,5%), de 2001/2002 (-35,1%), de 2008/2009 (-28,5%), de 2015/2016 (-22,0%), de 2010/2011 (-19,4%), 2018/2019 (-18,7%) e 2006/2007 (-2,3%).
Desde 1998 o quadriênio de maior crescimento foi o de 2003-2006 (205,5%) e o de menor o de 2011-2014 (-60,0%)
No gráfico a seguir destacamos o comportamento das exportações nos quadriênio sob a responsabilidade dos diferentes governadores, desde 1999 com Jorge Viana, até 2022 com Gladison Cameli. Observa-se que o único quadriênio que apresentou um queda no valor real das exportações foi o de 2011 a 2014 (-60%).
Cereais (Milho e Soja) dominaram as exportações acreanas em 2022 (33%)
Conforme o Observatório do Fórum Empresarial de inovação e Desenvolvimento do Acre, e demostrado no gráfico a seguir, em 2022, as exportações de Milho, soja e derivados representaram 33% das exportações do Acre. Madeira e derivados representaram 32,3% do total, seguido por Castanha do Brasil com 17,9%. Bovinos e derivados 9,3% e Suínos e derivados 3,1%. Em 2022, os principais destinos das exportações acreanas foram para o Peru (16,2%), Holanda (10%), Estados Unidos (8,5%) Bolívia (7,9%) e Hong Kong (7,6%).
Os produtos florestais (madeira e a castanha) foram os produtos locais mais expressivos nas nossas exportações durante vários anos. Mais recentemente, os produtos da pecuária bovina vieram a fazer parte das exportações acreanas, embora longe de representar o potencial que a atividade representa na economia primária do Acre. Problemas sanitários e burocráticos, ainda hoje impedem que a atividade represente o seu real potencial no mercado externo. Ultimamente temos a crescente participação dos cereais (soja e milho) e da suinocultura, esta última, graças a implantação do complexo agroindustrial na Regional do Alto Acre.
Desafios para que as exportações cheguem aos US$ 250,00 milhões
Sem esquecer que as importações são tão quão importantes para um processo de inserção regional num mercado externo, a seguir destaca-se algumas observação à respeito da meta estabelecida:
Derrubar os entraves sanitários e a burocracia para a exportações dos produtos da pecuária bovina;
Não pairam dúvidas que o setor da pecuária bovina é aquele que apresenta o maior potencial para rapidamente aumentar, em grande escala, as exportações acreanas. Sabemos que a carne acreana é exportada, não por nós, mas por outros estados da Federação (Rondônia, São Paulo, Mato Grosso etc.). Destacamos o seguinte: Rondônia, conforme dados do IBGE, em 2021, possuía um rebanho bovino de 15.110.301 cabeças. O Acre, por sua vez, possuía 4.047.283. Portanto o rebanho acreanos representa 26,8% do rebanho rondoniense. Seguindo com a comparação com o nosso vizinho, em 2022, Rondônia, de um total exportado de US$ 2,34 bilhões, cerca de 37,9% (US$ 889 milhões), foram de derivados da pecuária bovina. Exposto esses número, expresso uma comparação, que, embora sem grandes fundamentos, teimo em fazê-la. Se as autoridades resolvessem todos os problemas sanitários e burocráticos que nos impedem da plena exportação de derivados de bovinos no Acre e imaginando que possamos ocupar somente 20% do tamanho do mercado de Rondônia (não esquecer que o nosso rebanho corresponde a 26,8% do nosso vizinho), as exportações do Acre seriam aumentadas em US$ 178 milhões (20% de US$ 889). Não é pouca coisa. Portanto a meta estabelecida pela ApexBrasil seria praticamente toda cumprida, somente com essa ação.
Eficiência na implementação dos instrumentos de políticas públicas de apoio às atividades potenciais para exportação
Não podemos esquecer que a exportação é o último ato do processo de produção. É a venda do produto. Portanto tudo aquilo que dever vir antes: crédito barato e desburocratizado, capacitação e assistência técnica, apoio na mecanização, desburocratização, estradas e ramais trafegáveis, apoio à industrialização, incentivo e apoio ao cooperativismo, etc.; serão fundamentais para o cumprimento da meta estabelecida.
Finalmente, são urgentes a organização e o apoio público ao Sistema Estadual de Inovação. O nosso sistema ainda se encontra em estágio de formação. São notáveis as nossas, ainda pequenas, capacidades científica e tecnológica. Precisa-se urgentemente buscar soluções para questões tecnológicas locais favorecendo, assim, a capacidade de inovação, fundamentais para o desenvolvimento. O futuro que queremos precisa obrigatoriamente de inovação e tecnologia para promoção do desenvolvimento sustentável nos nossos diferentes sistemas produtivos. A questão ambiental é uma exigência da nova ordem internacional.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.