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Precisamos de uma pauta moral nas eleições?

A questão moral em uma sociedade aberta faz parte do dia a dia das pessoas, elas se incomodam que aos poucos, ou, às vezes, repentinamente, o comportamento social seja alterado significativamente por razões que não lhe foram devidamente apresentadas. Há muito estudo sobre isso e sobre como temas dessa ordem vão parar na disputa política e, consequentemente, nas campanhas eleitorais.


Temas como aborto, pena de morte, controle de armas, legalização das drogas, ideologia de gênero etc., são recorrentes. Uns defendem que devam ficar fora dos debates político-eleitorais e outros acham que devam ser centrais. Me alinho entre os últimos. Qualquer alteração que exija previsão legal deve ser trazida à lume, ao debate público, e o melhor momento é a campanha eleitoral, ocasião em que os nossos representantes expõem suas posições e, portanto, seus futuros votos no parlamento.


Quem não quer discutir tais temas, normalmente uma elite pretensamente movedora da cultura e da sociedade, como qualificou a si próprio aquele “iluministro” dado à barrosidades filosóficas, quer que eles sejam decididos à sorrelfa, longe dos holofotes, onde possam negociar ou impor suas posições sem que observem as maiorias estabelecidas.


Ocorre que fora da bolha intelectual dessa gente, há o mundo real onde as mudanças possuem efeitos práticos, onde as pessoas não aceitam sem contestação ondas progressistas manipuladas pela imprensa em consórcio com partidos e celebridades. Não mais. Desde a derrocada do lulopetismo pela descoberta de suas maracutaias praticadas à larga durante mais de uma década, uma camada da sociedade tida por eles como inculta e manipulável, resolveu libertar-se do cabresto partidário-sindical e da “telinha global” para dizer o que pensa em fóruns que vão das igrejas às redes sociais. Sabe o otário que seguia cegamente a voz empostada no telejornal? Não tem mais, acabou.


A chamada pauta moral não trata, como pode parecer à primeira vista, de posições individuais, particulares. Ser contra o aborto, por exemplo, não é mera manifestação de gosto ou preferência do indivíduo, não é como escolher o sabor de um sorvete, é uma posição que tem consequência pública. Embora muito mau caráter remeta a questão para um viés religioso, na tentativa de extraí-la do debate, o aborto é uma questão de direito e de respeito à vida, logo, pertence à sociedade. O mesmo vale para os outros temas referidos anteriormente.


Assim é que a temática da moralidade de certo modo “dividiu as águas”. A esquerda progressista, que pretende liberar o aborto, soltar ladrões, liberar a nóia, promover a ideologia de gênero e retirar o direito à defesa da vida e da propriedade pelo uso de armas, entre outras “iluminações”, tem seu lado nas eleições, ela vota no Lula e em seus seguidores. Os eleitores que desejam a vida dos fetos em paz, os ladrões presos, as drogas longe das crianças e adolescentes, a escolha sexual das pessoas longe das escolas e o direito à posse de armas vota em Bolsonaro e aliados.


O voto deixou de ser mera percepção econômica a ser explorada pelos políticos conforme aquela conjuntura. “Se a economia vai bem, o governo ganha”, dizia-se até um dia desses sem medo de errar. Hoje, não é bem assim. Embora o bolso do cidadão grite na boca da urna, no decorrer da campanha eleitoral o candidato passou a ser cobrado também por suas posições morais e isto praticamente enlouquece a esquerda progressista que se vê obrigada mostrar a verdadeira face ou disfarçá-la muito bem.


Não garanto que consigam, mas tentam. Neste conflito entre o que é e o que precisa parecer para arrebanhar incautos, para enganar o eleitor tem gente na maior cara de pau com um pé esquerdo em uma canoa e o pé direito em outra. Daí, repentinamente, vemos o esquerdista nota 10, de carteirinha marcada SIM em toda a pauta macabra, frequentando igrejas, decorando versículos e discursando pelo combate ao crime e defesa da família.


O próprio Lula em seus discursos movidos a golinhos em garrafinha que ninguém toca, passa a mão na cabeça dos “pequenos assaltantes”, quer o franqueamento do aborto, insinua que policial não é gente, defende a liberação das drogas, dá suporte à ideologia de gênero e, em seguida, vai à missa ou ao culto cinicamente se dizer cristão. Parece que ainda não escolheu um salmo pra chamar de guia (talvez por incapacidade de lembrar enquanto bebe aquela aguinha). Enquanto isso, seus amiguinhos esquerdistas invadem e depredam templos religiosos e, na Nicarágua, já perseguem e prendem padres arrancando-o de suas igrejas.


Por essas e outras é que a chamada pauta moral da sociedade precisa frequentar o debate público, especialmente agora durante as eleições e discutidos, principalmente, pelos candidatos ao Senado e à Câmara Federal. Em primeiro porque pertence, ela mesma, ao centro das preocupações da sociedade em transformação. Em segundo, para revelar os sacripantas que vicejam por aí, como lobos em pele de ovelha, se aproveitando da boa-fé dos eleitores.



Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Puggina, na revista Navegos e outros sites.