Dos 16 grupos de alimentos e bebidas pesquisados pelo IBGE, 13 deles apresentaram queda de consumo no Acre, um deles é de carnes, onde o consumo per capita da população com mais de 10 anos em 2008-2009 que era de 42,2 kg/ano, depois de 9 anos, caiu para 28,4 kg/ano na pesquisa de 2017-2018. É o que diz o resultado preliminar do estudo do Perfil de consumo alimentar pessoal elaborado pelo IBGE e divulgado no final de 2020.
A proposta do artigo de hoje é situar o Acre neste amplo trabalho que teve por objetivo inferir sobre o perfil de consumo da população brasileira com 10 anos ou mais de idade, trata-se da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018. Este foi o segundo estudo apresentado sobre este tema, sendo o primeiro realizado a partir dos dados da POF 2008-2009. A ideia é apresentar os dados do Acre para as duas pesquisas o que nos possibilitará verificar quais foram as principais mudanças no consumo da população acreana neste intervalo de 9 anos. Porém, observo que os dados mais completos ainda não foram disponibilizados porá os estados da federação, somente para a grandes regiões. Portanto, o leitor deverá levar em consideração as limitações de dados disponibilizados para que possamos fazer uma análise mais apurada da nossa realidade.
As informações básicas utilizadas pelo IBGE para a elaboração do trabalho foram os registros de forma detalhada dos recordatórios dos alimentos consumidos pelos informantes ao longo de dois dias não consecutivos, independentemente do local de consumo do alimento, isto é, no domicílio ou fora dele. Os diferentes tipos de alimentos e as respectivas unidades de medidas utilizadas foram obtidos de forma direta, ou seja, através de entrevista junto aos moradores com 10 anos ou mais de idade, residentes nos domicílios selecionados. Nossa análise vai se centrar basicamente nas estatísticas das quantidades anuais per capita, em quilogramas, adquiridas para consumo no domicílio, para uma ampla relação de alimentos e bebida, aqui reunidas em grupos.
As POFs fornecem periodicamente dados nacionais de disponibilidade domiciliar de alimentos para análises de tendências e comparações internacionais, possibilitando as estimativas de consumo, bem como a identificação de padrões e mudanças temporais na alimentação no Brasil.
No quadro abaixo destacamos que, de 2008-2009 a 2017-2018, caiu o consumo no grupo de Açúcares, doces e produtos de confeitaria (28%) e aumentou, de forma significativa, no grupo de Aves e ovos (40%). Verificou-se também um aumento de 18% no consumo dos Alimentos preparados e misturas industriais. Já o grupo de Bebidas e infusões manteve uma certa estabilidade na frequência de consumo.
Chama a atenção nos grupos do quadro abaixo a queda nos consumos que estão ligados diretamente a ingestão de proteínas e carboidratos, tais como o de carnes que apresentou queda de 33%, o de Cereais e leguminosas com queda de 22,5% e o de farinhas, féculas e massas que caiu 52%.
Caíram também as frequências de consumo de laticínios (33,5%), óleos e gorduras (30%) e hortaliças (25,5%). Observou-se um pequeno aumento (4%) na quantidade média per capita consumida de frutas. No quadro abaixo dispomos as quantidades médias em kg/ano per capita da população de mais de 10 anos do Acre.
Nos grupos constantes no quadro abaixo, com exceção dos panificados que praticamente manteve o seu consumo estabilizado, verifica-se uma queda acentuada nos consumos de vísceras (78%) e no grupo de sais e condimentos (73%). Nos pescados a queda de consumo foi mais leve (11%).
FONTE: IBGE: Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008 – 2009 e 2017-2018
Na pesquisa de 2017-2018, a despesa monetária e não monetária média mensal familiar no Acre foi de R$ 3.651,59 e o rendimento total médio mensal familiar foi de R$ 3.931,55. Os valores para o período 2008-2009 foram, respectivamente R$ 1.973,21 e R$ 1.925,98. Corrigindo-se os valores de 2008-2009 pela variação do IPCA (69,65%), chega-se aos valores de R$ 3.347,64 para as despesas e de R$ 3.267,51 para o rendimento total médio. Resultando, portanto, numa queda nas despesas de 8,32% e de 16,9% no rendimento total. A queda no rendimento pode explicar a quedas em grupos importantes detectados pelas pesquisas, tais como: carnes (33%); cereais e leguminosas (22,5%); farinha, féculas e massas (52%); laticínios (33,5%); hortaliças (25,5%) e pescados (11%).
Para além de um retrato da realidade dos acreanos, e de seu uso para a construção das cestas de consumo dos índices de preços ao consumidor (IPCA e INPC), a POF pode ser um importante instrumento para se pensar políticas públicas, pois tem a capacidade de sinalizar onde é importante o Estado atuar para combater a desigualdade, sendo importante também para que os empresários e empreendedores dos setores pesquisados possam dimensionar seus negócios com dados atualizados do consumo per capita dos diversos alimento e bebidas.
*Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.