Se nossos professores conhecessem um pouquinho sobre o cérebro, certamente os diversos problemas de aprendizagem e desconhecimento sobre como agir em diversas situações do cotidiano da sala de aulas seriam enfrentados com sucesso. Conhecer a dinâmica do processo de aprendizagem dentro do cérebro e como o aprendizado, seu produto, é realizado nas diferentes etapas, contudo, colocaria a área da educação mais próxima da saúde do que das ditas ciências humanas. Isso provavelmente seria contestado de todos os lados. Por essa razão, o mais recomendável seria colocar a formação de professores e a prática docente ao lado das ditas ciências sociais aplicadas. É preciso que os profissionais da educação conheçam o cérebro para saber como ter acesso a ele, para que possam, como consequência, gerar a aprendizagem tanto desejada. A educação não é uma área apenas de reflexão e debates, como quase todo mundo acredita. É um campo (ou melhor, uma arena) onde as emoções, por mais primitivas que sejam, criam a razão e seus produtos, como a tecnologia. Neste sentido, este ensaio tem como objetivo descrever o sistema límbico e sua relação com a aprendizagem humana.
O sistema límbico está situado na superfície medial do cérebro, não apenas do ser humano, mas de todos os mamíferos. É o responsável por dois fenômenos que estruturam todo o processo de aprendizagem: as emoções e os comportamentos sociais. Essa área é composta por diversas regiões cerebrais, como a amígdala, hipocampo, hipotálamo, insula, córtex cingulado, núcleo accumbens e os corpos mamilares, todos extremamente importantes para a aprendizagem e memória. As emoções acontecem em todo o cérebro, mas estão envolvidas com as funções cognitivas e com as ações, com os atos executivos, o que significa que o sistema límbico participa nos esforços de colocar em prática os aprendizados que o indivíduo detém. Como a ciência tem mostrado, são as emoções que estruturam, ordenam e movem as funções cognitivas (e automáticas) humanas para a ação. Somos todos seres emocionais.
Como as ações são quase sempre manifestação de vontade, materialização de desejos, as emoções, a partir do sistema límbico, conspiram nesse intuito ao mobilizar as memórias de curto e prazo e de trabalho, para que sejam criadas e estruturadas memórias de longo prazo, a partir da experiência efetiva. Quando essa mobilização é bem sucedida, dá-se a satisfação, que é uma espécie de julgamento emocional positivo, reforçando as ligações neuronais, o que transforma a mente e o sentimento daquele que efetivamente aprendeu. Quando há o envolvimento emocional e motivacional com o desejo de ação do indivíduo, as funções cognitivas e executivas operam de forma integrada e internalizada, mas quando as adversidades (desafios, situações ou tarefas) geram ameaças emocionais (desconforto, insegurança, receio ou medo), o acesso às funções cognitivas superiores ficam bloqueadas e comprometem o aprendizado.
Isso quer dizer que é necessário que se criem as condições necessárias para que o aprendizado ocorra. Segurança, cuidado e conforto, por exemplo, são os aspectos essenciais a serem considerados neste intuito. É a segurança, por exemplo, que permite que o indivíduo experimente, fracasse e volte a repetir o experimento; é o cuidado, por outro lado, que permitirá que o aprendiz tome consciência da causa de seus fracassos e volte à ação com sucesso; o conforto permite que o indivíduo tenha o sustentáculo afetivo necessário para, com segurança e cuidado, superar o desafio pretendido e ser bem sucedido. A segurança afetiva é a base mais sólida que se pode construir para edificar o aprendizado. É isso o que explica, por exemplo, por que professores mais disciplinadores e afetivamente envolvidos conseguem padrões superiores de desempenho de seus alunos que os docentes permissivos, amigos e extremamente cordiais.
Daniel Silva é PhD, professor e pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e escreve todas às sextas-feiras no ac24horas.