Afastado do cargo de prefeito de Assis Brasil, Humberto Filho, o Betinho (PR), concorre à consolidação de uma triste tendência à brasileira – a de que, não bastassem as mazelas vividas pela população dos municípios, graças à atual situação de penúria da maioria deles, o serviço público no país ainda carece de gestores compromissados com a honestidade, o principal quesito em extinção no meio político.
Fosse Betinho o único acusado de desviar verbas públicas, ainda estaríamos estarrecidos ante a suposta conduta errática de um administrador incapaz de se condoer, sequer, com a situação de indigência dos conterrâneos. Sendo ele um entre tantos que neste mesmo ano foram flagrados pela Polícia Federal em delinquências diversas, a gravidade dos fatos choca até mesmo os eleitores mais indiferentes.
Antes de Betinho e alguns de seus secretários municipais serem pilhados em anunciadas falcatruas que sangravam os cofres de Assis Brasil, outros prefeitos e respectivos subordinados trilharam pelo mesmo caminho da desonestidade: Everaldo Gomes, do PMDB de Brasileia; Tonheiro, do PT do Bujari; Roney Firmino, do PSB de Plácido de Castro; Rivelino Mota, do PP de Santa Rosa do Purus; e Jonas Dales, do PT de Acrelândia – este último sacado do cargo por determinação da Justiça em três situações diferentes.
A boa vida dos governantes municipais e de seus apaniguados quase sempre contrasta com a situação de pobreza das populações que representam. Tampouco a qualidade dos serviços públicos melhora na proporção em que aumenta o padrão daqueles que fazem dos cargos eletivos ou em comissão uma alavanca à ascensão social.
Não obstante as facilidades criadas para os que chegam ao poder, ainda somos obrigados a assistir à petulância daqueles que legislam em causa própria, como aconteceu recentemente em Tarauacá e Plácido de Castro. Nestes dois municípios, os vereadores em fim de mandato resolveram, sem justificativa plausível, aumentar os próprios proventos – o que servirá de usufruto aos futuros edis e prefeitos eleitos.
Quando não, acontece de as leis serem feitas sob encomenda para servir à cobiça de nossos representantes políticos, como no caso do senador Jorge Viana (PT), beneficiário de um dos maiores salários do legislativo brasileiro por acumular uma pensão vitalícia de ex-governador.
Em países desenvolvidos, como acontece atualmente na Coreia do Sul, bastam as suspeitas de corrupção para que os governantes renunciem ao cargo. No Brasil de Lula, Dilma e Michel Temer, a ladainha em favor dos larápios vai além dos extremos do suportável em defesa da desfaçatez.
O Brasil que está sendo passado a limpo, e que ousou colocar na cadeia empresários miliardários e políticos até outro dia intocáveis, não pode se curvar ante a delinquência de prefeitos larápios e a caradura de um senador que afirma receber “dentro da lei” quase R$ 70 mil.
Dar um basta ao atrevimento dessa gente é uma atribuição constitucional dos órgãos de fiscalização e controle – e um compromisso de todo cidadão que possua o mínimo de vergonha na cara.