O empresário Edilberto Afonso de Moraes, o popular Betão, que faleceu na noite deste domingo (28) aos 73 anos, deixou registrado em entrevista ao ac24horas em 2015 que sua jornada rumo ao sucesso foi construída sobre um alicerce de confiança. Antes de ter capital próprio, Betão utilizou o “fiado” — o crédito baseado estritamente na palavra — como a principal ferramenta para girar seus negócios, desde a venda de aves até a formação de seus primeiros rebanhos.
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A cronologia dessa confiança começou ainda na juventude, quando percorria as ruas a cavalo. Sem recursos para estocar mercadoria, ele dependia da boa vontade dos fornecedores. “Eu comecei vendendo galinha e ovo. Eu comprava fiado para pagar depois que vendesse. O pessoal confiava em mim porque eu sempre honrava meus compromissos”, afirmou na ocasião.
Esse modelo de negócio se repetiu quando ele decidiu abrir um “boteco” e, posteriormente, uma boutique. Mesmo mudando de ramo, a estratégia era a mesma: adquirir a mercadoria no crédito e liquidar a fatura com o apurado das vendas. Mas foi na pecuária que o “fiado” atingiu cifras maiores e consolidou sua fama de bom pagador. Betão relembrou que, para começar a formar plantel, muitas vezes comprava bezerros e bois de outros pecuaristas apenas no compromisso verbal.
“No começo, para quem não tinha dinheiro, o jeito era comprar gado fiado. Eu chegava no produtor, combinava o preço e o prazo. Muitas vezes eu nem tinha o dinheiro todo, mas a minha palavra valia mais que um contrato assinado”, destacou o empresário na entrevista. Ele ressaltava que, no mundo do agronegócio de antigamente, a honra era o maior patrimônio de um homem, e quebrar essa confiança significaria o fim das portas abertas.
Entretanto, o uso do crédito também teve momentos amargos. Ao assumir o frigorífico Frisacre, Betão recorreu a empréstimos bancários pesados e créditos com fornecedores que quase o levaram à ruína definitiva. “Eu cheguei a dever muito. Fiz muitos empréstimos para tentar segurar o frigorífico, mas a conta não fechava. Foi quando eu disse que ‘quebrei’ a Frisacre”, admitiu com franqueza. Para ele, a diferença entre o “fiado” do início e as dívidas bancárias do frigorífico era a frieza dos números contra o calor do aperto de mão, que sempre foi sua forma preferida de negociar.
O pecuarista faleceu por volta das 19h deste domingo (28), no Hospital Santa Juliana, onde estava internado na UTI. Betão deixa a esposa, Maria Cleildes Lima de Morais, além de três filhos, nove netos e duas bisnetas.
O corpo do empresário chegou ao Ginásio do Sesc Bosque, em Rio Branco, por volta das 5h12 desta segunda-feira (29). Após um período inicial reservado apenas a familiares e amigos mais próximos, o velório será aberto ao público às 8h, permitindo que amigos, admiradores e figuras do setor produtivo prestem suas últimas homenagens a um dos nomes mais emblemáticos da pecuária acreana.