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Betão: uma história de lutas, dor e conquistas

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Roberto Vaz – do Conselho Editorial de ac24horas
Marcos Venicios – Editor-Chefe


Não foi nada combinado. Daniel estava na frente do painel de câmeras de segurança quando viu uma caminhonete parar na frente do portão da redação de ac24horas. Como de costume, pediu identificação e para surpresa uma voz calma respondeu: “É o Betão”. De pronto, o portão foi aberto e a passos lentos ele entrou no bar da redação, ao lado de seu fiel escudeiro João Vitor – Gerente de compras e distribuição de produtos do grupo Piracema.


Ao receber votos de boas vindas, sentou-se no balcão bem de frente para o jornalista Roberto Vaz, que costuma ficar num cantinho do bar. Foi convidado para se acomodar numa sala ao lado, mas adequada para uma conversa descontraída. Mas disse não. “Me sinto bem aqui. Gostei do ambiente”, disse ao parabenizar a equipe do jornal eletrônico pela coragem de fazer um jornalismo diferente.


A conversa foi fluindo e o editor Marcos Venicios, que estava também na redação, virou-se para o pecuarista e disse: “estamos estreando no domingo um novo espaço em ac24horas. O senhor se enquadra no perfil que buscamos. Vamos gravar?”.


Desconfiado, olhou para um lado e para o outro e não disse sim nem não e continuou a conversa. O editor entendeu como uma resposta positiva. Ligou o gravador e por 1 horas e 40 minutos o cidadão Edilberto Afonso de Moraes, popularmente conhecido como Betão, revelou fatos inimagináveis.


Convidamos você a acompanhar a conversa que virou um reportagem num texto de Marcos Venícios.


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A saga de um peão que virou um dos maiores pecuaristas do Acre

Quando se costuma falar a palavra fazendeiro, logo o imaginário do acreano é levado a gado, dinheiro e poder. Outros vão mais além, associam o ramo como se fosse um ser do mal, daquele que manda matar quem cruza o seu caminho. Para desmistificar isso, o ac24horas estreia uma série de entrevistas intitulada Gente, Economia e Negócios, com foco em pessoas que ajudam o Acre a se desenvolver em todos os setores. E para começar, nosso primeiro personagem não é nada mais, nada menos que o fazendeiro Edilberto Afonso de Moraes (62), o Betão, uma das maiores referências em pecuária no Estado.


Alheio aos holofotes, Betão que é considerado uma pessoa discreta, abriu o coração ao ac24horas e falou de sua trajetória de vida, família, negócios e claro, um pouquinho de política.


Demonstrando um nível de sinceridade, simplicidade e lucidez que saltam aos olhos, Betão fala inclusive de temas espinhosos e revela que já chegou a perder quase tudo, mas conseguiu dar a volta por cima “com muito trabalho, dedicação e raça”.


“A sociedade aceita muitas coisas, mas não aceita o seu sucesso”, conta o fazendeiro ao lembrar do primeiro Frigorífico do Acre, o Frisacre, que iniciou os trabalhos em 1988 no Estado e gerou na época mais de 500 empregos diretamente.


Atualmente estabilizado e com vários empreendimentos funcionando , gerando emprego e renda, Betão confessa que o Frigorifico foi o pior negócio que já fez na vida, mas fez questão de destacar detalhadamente a saga para se tornar um dos homens mais poderosos do Acre.


O início de tudo

ac24horas: Betão, o que você fez antes de criar esse mundo de coisas que você e sua família administram?


Betão: Eu fiz de tudo um pouco. Eu bati até tijolo naquelas olarias. Aqui na rua Quintino Bocaíuva, em frente ao Supermercado Milena, no bairro Bosque, eu e minha família morávamos. Até hoje eu tenho um terreno do meu pai lá. Ali eu tinha um boi de carroça onde eu comprava a madeira dos colonos. Naquela época eu pegava a madeira, transportava e vendia. Comprei muita galinha e ovos nas colônias em cima de um cavalo. Marretei muitos anos em cima de um cavalo , comprando e vendendo boi. Já fui taxista, fui dono de boteco e até boutique .


ac24horas: como você já marretou, já vendeu ovos e galinha, isso quer dizer que você não veio de berço de ouro, certo?


Betão: Isso mesmo. Eu sou acreano, nascido em Rio Branco, mas meus pais são cearenses. Vieram para cá pelo baixo Amazonas cortando seringa no auge do Ciclo da Borracha. Meu avô também. Meu pai casou, e eu nasci em 1952 e tenho 62 anos. Nós somos nove irmão e todos estão vivos. Meu pai e minha mãe também estão vivos. É uma benção. Eu comecei a trabalhar desde novinho. Toda a vida eu tive vontade de conquistar as coisas. Da minha família, eu sempre fui o mais saído. Nós somos 4 homens e 5 mulheres O meu primeiro trabalho foi num comércio que existia perto da minha casa. Eu trabalhava no balcão.


ac24horas: Na juventude, você era gastador ou economizava? Você trabalhava para ajudar em casa?


Betão: Nem tanto. Meu pai era quem sustentava a casa. Eu sempre trabalhei para me manter. Eu morei um tempo com o meu avô lá no bairro Cerâmica. A rua ali era de barro e capim. Eu capinava a rua na enxada para ganhar um troco. O pessoal que trabalhava na rua, andava a pé, ficava incomodado e eu aproveitava para “carpir” e ganhava uns trocados. Meu avô tinha uma situação boa, era funcionário público federal, era barriga cheia, mas eu nunca me fiz de mole, ia ganhar dinheiro com a enxada [risos].


ac24horas: E estudar, você não pensava isso na época?


Betão: Eu estudei pouco. Nisso ai teve um pouco de falha do meu pai e um pouco de falha minha e de meus irmãos. A gente tinha aquela vontade de trabalhar e acabomos estudando pouco.


ac24horas: Nessa época você já tinha foco do que queria ser, aonde queria chegar?


Betão: Eu sempre mexi com cavalo e com gado. Os primeiros cavalos que eu tive para comprar galinha e ovos foram emprestados, não eram meus. Eu colocava umas 4 ou 5 galinhas de cada lado do cavalo e um cesta de ovos no meio, onde eu segurava montado. Ai com essas coisas eu chegava na cidade e vendia, fazia negócio. Fui muitas vezes de Rio Branco à Boca do Acre em cima de um cavalo. A ideia era sempre comprar e vender gado. Eu fui peão e dos bons, viu? O camarada pode até saber mexer com gado e cavalo, mas mais do que eu, duvido. Eu sou bom no laço, derrubava na vaquejada [Neste momento, Betão, que tem 1,90 de altura e 139 quilos, se exalta e levanta para demonstrar o que fazia quando era peão]


5 frase 4aO primeiro grande negócio

Ficando mais extrovertido com o decorrer da entrevista, Betão conta que a primeira “grande passada” na pecuária foi quando na década de 80 comprou 150 vacas no fiado e resolveu abater o gado num matadouro. Segundo ele, tudo era muito complicado e trabalhoso na época. O fazendeiro relembra ainda as suas aventuras em Boca do Acre.


ac24horas: qual foi o primeiro grande negócio que você fez?


Betão: O meu negócio é gado. Lembro da vez que um camarada me vendeu 150 vacas no fiado. Naquela época a palavra valia muito, fiz esse negócio e foi assim que comecei de fato nesse ramo. Consegui pagar essas vacas até com certa facilidade, eu sou bom em vender. Teve uma época que tive um abatedouro e não sei se vocês conhecem, existia um senhor chamado Wilson Barbosa. Ele trazia o gado da Bolívia, mas tinha um órgão que controlava os preços da carne, e de vez em quando subia o preço da carne. Ele (Wilson) parava de abater. Ai eu aproveitava e já entrava abatendo. Na época, houve um acidente, uma ave entrou na turbina de um avião, já que o Aeroporto ficava perto do matadouro, e ai pediram para tirar o abatedouro que era da prefeitura dali.


ac24horas: E como ficou essa situação?


Betão: O Wilson Barbosa resolveu montar um abatedouro na terra dele com o apoio da prefeitura. Levou toda a estrutura para lá. Até que um dia ele resolveu parar de abater e eu fiquei usando aquela estrutura. Ai certa vez, com o jeitão dele, o seu Wilson veio me dizer que eu não poderia abater ali, na terra dele. O homem era difícil. Ainda conversei, mas ai me espoletei e coloquei os bois num caminhão e fui para um abatedouro que tinha lá no Quinari. Ai passei um tempo, eu fui abater num abatedouro lá no Bujari, de um tio meu.


ac24horas: Imagino a dificuldade para trabalhar, mas e depois?


Betão: Ai tinha o Seu Alder, que disse para mim na época: “é melhor a gente fazer um abatedouro para nós”. Ai eu disse “bora”. Começamos lá na estrada da penal . Nós eramos mais ou menos fudidos [risos]. Eu tinha uma Kombi e uns “gadim”. O abatedouro era na terra dele. Começamos a trabalhar e resolvemos depois que cada um mataria o seu gado. Ele me disse pra gente ser sócio de tudo, mas na época eu matava muito mais gado do que ele. Ai eu resolvi vender a minha parte do matadouro pra ele e resolvi alugar um ali que ficava em frente a antiga Utilar. E foi dali que eu resolvi fazer um na minha fazenda, lá na Transacreana. E dai foi uma batalha…


ac24horas: E nessa época, a vida já tinha melhorado? Deu para descansar um pouco ou ainda teve que trabalhar muito?


Betão: Eu já estava mais ou menos bem quando eu fiz o matadouro na minha Colônia, eu passava a noite todinha abatendo gado e carregando numa Kombi, vindo para a cidade e entregando no açougue. O gado era abatido no chão. O bicho era cortado no machado . O cara pendurava no gancho, limpava e eu ia entregar. Eu fazia isso direto .


ac24horas: Imagino que quem ver você hoje não tem a mínima ideia pelo que você passou para se tornar esse fazendeiro de verdade…


Betão: Rapaz, quando eu ia a cavalo para Boca do Acre, eu ia vender gado. Olha só, hoje Boca do Acre é um dos locais que mais produzem carne, mas antes não tinha. Eu ia marretar por lá. E lá eu comprava porco para vender aqui. Trazia um batelão de porco. Eu vinha em cima desse batelão de porco com uma rede amarrada em cima. Ali fede e é quente, meu Deus. Pensa numa carga “fila da puta”. Eu levava o porco para Rio Branco e voltava com o Batelão carregado de gado para Boca do Acre.


ac24horas: com muito trabalho, o senhor deve ter tido muito dinheiro, você teve uma vida com muita farra no teu período de juventude ou você foi mais comportado?


Betão: Eu sempre fiz o que gostei. O bom da vida é você fazer o que gosta, seja lá o que for. O camarada me diz “mas rapaz, o fulano só gosta de futebol”. Ué, mas ele gosta daquilo, ele tem mais é que fazer mesmo… [Nesse momento Roberto Vaz pede para que Betão e seu fiel escudeiro João Vitor sejam fotografados] Esse menino (João Vitor) é um filho para mim…


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ac24horas: E o apelido “Betão”, veio da onde? Isso deve causar medo em algumas pessoas ou não? Essa fama de “Betão” foi mais proveitosa ou mais prejudiciais nos teus negócios?


Betão: Em alguns momentos ela foi boa, em outros foi ruim. Eu não consigo avaliar isso não, mas eu acho que não foi ruim. A gente não agrada todo mundo. Uma coisa eu sou consciente. Eu sempre procurei fazer só o bem as pessoas. Não sou rancoroso, não tenho ódio de ninguém e olha que tem pessoas que fizeram mal para mim pra caralho, mas eu não desejo mal para elas em nada. Deus cuide da vida deles, mas eu não tenho mágoa de ninguém, ódio de ninguém, e olha que eu deveria ter ódio de um bocado de gente, mas não tenho.


O primeiro pedaço de terra

Após falar de gado, abatedouros e as viagens para Boca do Acre, Betão revela ao ac24horas como adquiriu o seu primeiro pedaço de terra. Orgulhoso ao falar sobre o assunto, ele batizou o lugar de Fazenda Piracema e lá, além do trabalho, costuma reunir amigos e familiares no final de semana para relaxar e jogar conversa fora. Considerada a menina dos olhos de Betão, Piracema, segundo ele, foi derrubada por ele usando um machado. Ele conta que suou muito para transformar aquele lugar num paraíso.


ac24horas: hoje você é um homem de muitas posses, fazendas. Como foi para você adquirir o seu primeiro pedaço de terra?


Betão: Eu comprei a terra, vamos dizer assim, por R$ 10 mil, mas eu não tinha nem 1 mil. Foi tudo no fiado. Eu tive que trabalhar para poder pagar.


ac24horas: Essa pessoa de quem você comprou a terra era rica, pobre, qual era a situação?


Betão: Não sei dimensionar isso. O fato é que ele tinha a terra e eu não tinha. Ai eu comprei a minha primeira colônia. Meu pai na época desaprovou dizendo “meu filho, colônia não dá futuro. Como você vai pagar isso?”. Eu disse que ia trabalhar e pagar. Sempre trabalhei muito, de dia, de noite, não tinha tempo ruim. Eu sempre peguei no pesado. Essa colônia eu derrubei usando machado. Nessa época eu não sei se tinha motosserra, mas se tinha, eu não tinha condições de comprar. Ai na época eu consegui um Jeep e todo final de semana eu ia pra lá, roçar, limpar, abrir caminho e hoje se tornou o meu refúgio, a Fazenda Piracema.


ac24horas: E hoje você tem muitas terras?


Betão: Tenho pouca coisa. Do jeito que tenho o nome Betão, os caras dizem que eu tenho muita coisa também. Eu queria ter três coisas na vida: o dinheiro que as pessoas dizem que eu tenho, as mulheres que minha mulher acha que eu tenho e a autoridade que o guarda de trânsito acha que tem [Nesse momento, bem humorado, Betão soltar uma gargalhada e contagia a redação]


O PIOR NEGÓCIO:
A verdade sobre a perda de tudo e a volta por cima

A prosa que até então seguia descontraída, ganhou contornos pesados quando os jornalistas Roberto Vaz e Marcos Venícios resolveram perguntar se Betão já havia quebrado alguma vez. Incomodado, não pela pergunta, mas pelo fato de ele considerar o pior negócio que já fez na vida, resolveu revelar uma verdade que poucos sabiam. O homem, que de galinha em galinha, de ovo em ovo e de bezerro a bezerro, conseguiu sair do nível do mar e avistar a linha do horizonte, sabia que os negócios precisavam prosperar, mas também tinha que se consolidar. Foi então que teve a ideia de construir um frigorifico de grande porte. E para o Frisacre nascer precisava de dinheiro. Decidiu por investir o que tinha e tomar empréstimos em bancos e com amigos. E conseguiu, em 1988 concluir o projeto.


11111Beto quebrou frase1aMas quase 10 anos depois tanto trabalho, tanta dedicação foram em vão. A situação que passou a viver parece a historinha da formiguinha que ferrou o elefante e ele tombou. Foi exatamente devido a um descuido no recolhimento de impostos e de multa do fisco que surgiram e o “homem grande” passou a ter dificuldades de manter seus negócios em linha crescente. E entre os anos de 1999 e 2001 ele quebrou. Sem ter uma saída para continuar lutando, preferiu juntar tudo o que tinha, Fazendas, caminhões, gado, dinheiro, carro de uso pessoal e até a casa onde morava. Entre impostos, multas e empréstimo, a dívida chegou a R$ 69 milhões.


“Foi uma decisão dura – conta -, mas preferi pagar minhas contas a ter que viver devendo; fui morar de aluguel e andar de carro emprestado pelo amigo Zé Baiano”, diz com os olhos lagrimejando.


A única coisa que restou foi uma pequena propriedade chamada de Piracema. Foi nesse lugar que ele havia iniciado a dura vida de fazendeiro. E a partir do pagamento da dívida, não tinha nem uma cabeça de gado. Mas como bom peão montou no cavalo e começou tudo outra vez e agora, 16 anos depois, recuperou quase todo o patrimônio, ampliou os negócios e vive sorrindo com a vida. “Hoje estou bem tranquilo; Deus me ajudou e nesses anos as coisas melhoraram muito. Mas continuo trabalhando muito”, faz questão de ressaltar.


ac24horas: Vamos desmistificar isso, você alguma vez quebrou?


Betão: Veja bem. Quebrar, quebrar de ficar em sem nada, eu não fiquei. Eu quebrei no frigorifico (Frisacre). Parei de abater gado, dei os caminhões que eu tinha, a caminhonete que eu dirigia, a casa onde eu morava, os gados que eu tinha, a tropa que tinha. Praticamente perdi tudo, só sobrou a minha terrinha, a Piracema, e algumas propriedades que eu tenho nessa cidade. Isso tudo para pagar a conta que começou com a construção do frigorifico, coisa ninguém nunca fez isso. Na história dos frigoríficos, quando quebra, ninguém pagava ninguém. Eu quebrei e peguei todo mundo e estou satisfeito demais por ter feito assim. Ninguém nunca veio falar besteira para mim e nem dizer que eu estou devendo.


ac24horas: Você acha que esses problemas são por causa do sucesso, de política, má gestão ou são por conta da gente acreditar que o Acre é capaz e aposta tudo aqui?


Betão: Eu acho que é um conjunto dessas coisas que você falou. Na época que eu fiz o frigorifico Frisacre, em 1988, nem tinha gado, nem tinha estrada, não tinha nada. Para puxar a minha carne da Frisacre até a corrente, eu tinha um trator que puxava o caminhão por seis quilômetros. Nesse local eu tinha a capacidade de matar 300 cabeças por dia, mas eu só tinha 70 para matar. E o custo de matar 300 é praticamente o mesmo gasto de matar 70 por ser um frigorifico de inspeção federal que contava com uma grande estrutura. Todo trabalho foi em vão. Quebrei!


ac24horas: E como você recomeçou já que você tinha entregado o patrimônio para pagar dividas?


Betão: Depois eu fui para um pequeno matadouro e o Zé Baiano me emprestou uma caminhonete. E isso eu já conhecia o que era dinheiro. Ai eu voltei, comecei do zero, trabalhando 24 horas. Eu dei a casa aonde eu morava. Ninguém faz isso. Eu fui morar alugado ali perto da Pronto Clínica , num sobrado que tinha ali. Agora se você procurar estatisticamente os frigoríficos do Brasil que quebraram, quantos já pagaram o que deviam? Sei lá se tem um ou dois. Se tiver dois, eu sou um. O resto ninguém pagava. Quebrou, quebrou e tchau. Eu só fiquei com a Piracema, o lugar que tem as minhas histórias.


ac24horas: E esse recomeço já foi com gado ou com peixe?


Betão: Sempre foi com gado. O que eu tentei aprender foi com gado e acredito que seja o que sei fazer. Eu sempre digo o que pode te dar uma vida melhor é comprar e vender. Se eu compro um copo por R$ 10 e eu vendo por R$ 12. É uma situação complicada. Tem que ter muita raça para certas coisa até para sobreviver. Tem que ter raça. É o que sempre tenho feito. A minha vida tem sido de trabalho, apertada e justa. Beto frase2


A dor de perder um filho

Se tem uma coisa que deixa Betão emocionado é falar da família. Casado com dona Cleiudes há mais de três décadas, pai de 4 filhos e avô de oito netos, o dono da Fazenda Piracema se diz um homem realizado, mas que carrega uma tristeza profunda: a morte do filho Gilberto Afonso Lima de Moraes, o Gil Betão, que em 2008 foi assassinado em Porto Velho (Rondônia) aos 28 anos de idade.


Quando perguntado sobre o episódio, os olhos de Betão se enchem de lágrimas e para não chorar, ele faz várias pausas. Em certo momento da entrevista, ele fica quase um minuto de silêncio, pensando no filho que morreu. “Isso é uma coisa que não sei nem dizer”, diz emocionado. Confira o trecho na integra:


ac24horas: Betão, eu imagino que seja um assunto delicado, mas recentemente você passou pela situação de perder um filho assassinado. Como foi esse episódio para você?


Betão: Isso é uma coisa que não sei nem dizer...[suspira e balança a cabeça]. É inexplicável…é sofrido. É uma dor que não passa[nesse momento os olhos de Betão se enchem de lágrimas]. Eu acho que os filhos são iguais, eu sempre falo isso. Nunca tratei um diferente do outro. Sobrou três com a perca desse. Dois homens e duas mulheres….[Neste momento Betão fica em silêncio por quase 1 minuto. Emocionado, ele olha para os repórteres e se emociona quando questionado se pensou em desistir de tudo]


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ac24horas: Você acredita em Deus?


Betão: Muito, demais. Eu acredito que tenha alguém tão abençoado como eu, mas mais do que eu, acho que não tem ninguém. Agradeço a Deus todo dia pelo que ele me proporcionou e proporciona até hoje pela família, pelo negócio, pelas amizades… Eu falo sempre com ele. Eu ainda choro muito pensando em meu filho. Choro muito, mas agradeço a Deus pela paz


ac24horas: Tirando a lacuna da perda do seu filho, você se considera feliz?


Betão: Sim. A maior infelicidade que tive foi a perda desse menino, mas o resto foi só alegria, graças a Deus. As dificuldades da vida a gente encara com a naturalidade de sempre. Eu me considero um cara abençoado e feliz.


ac24horas: Mesmo com toda essa correria no trabalho, você se considera uma pessoa caseira, de família?


Betão: Não só para a minha esposa e meus filhos como também para o meu pai, minha mãe, meus irmãos. Apesar da correria, eu sempre tento está junto deles, ajudando, auxiliando. Na hora que é preciso eu tô junto. Procuro solucionar os problemas dos meus familiares da melhor maneira possível.


Do gado ao peixe

Se dizendo sortudo, Betão afirma ao ac24horas que é um homem abençoada por Deus. Ele revela que foi um dos pioneiros na criação de peixes no Acre e conta que teve essa percepção de negócio quando viajava para Boca do Acre, na época que negociava gado. Ele conta também que o Complexo de Piscicultura instalado recentemente no Acre tem tudo para dar certo e que todos ganham com isso.


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ac24horas: eu sei que você é um dos pioneiros na criação de peixe no Acre…


ac24horas: Eu acredito também nisso. Como eu lhe disse que sou abençoado, tudo o que eu penso dá certo. Quando eu fui criar peixe, eu achei que o peixe de rio ia acabar. E acabou mesmo. Quando eu andava em Boca do Acre , lá devia ter uns 20 barcos de pesca. Barco para 5 mil quilos, 10 mil quilos. Hoje não tem mais nenhum.


ac24horas: Você chegou a entrar no Projeto de piscicultura do governo, a Peixes da Amazônia?


Betão: Eu até entrei, mas depois sai. Mas eu acredito que aquilo ali será a solução para piscicultura no Estado. Eu aposto que dará certo. Eu acho sensacional a fábrica de ração e o frigorifico. No meu caso, por exemplo, eu tenho uma coisa mais antiga, os açudes. Eu não crio em tanques. Eu passo muitos dias para tirar peixes dos meus açudes. Agora com aquele complexo funcionando, você tira peixe rapidinho. Aquilo ali funcionando do jeito que é para funcionar, é bom para o Estado, para a piscicultura, para todo mundo.


ac24horas: Tem alguma coisa melhor ou mais rentável do que gado?


Betão: Eu acho que gado é o negócio mais seguro, mais palpável. O peixe é muito bom também, mas está dentro d’água, você não vê. O gado sempre foi uma coisa mais segura para mim. Vou te explicar uma coisa, o motivo porque o gado compensa: você compra um bezerro, ele cresce no peso e no preço. Daqui dois anos e meio um bezerro não vai ser mais R$ 900, agora ele vai ser um boi, vai te dar lucro.


ac24horas: Qual foi a maior quantidade de cabeças de gado que você já teve? E quantos empregos você já gerou?


Betão: É aquilo que eu te falei, eu mais negociei. Eu compro muito e vendo muito. Eu continuo sendo comerciante, um marreteiro moderno, abatendo e vendo gado. Eu posso te dizer que na época do frigorifico eu tive cerca de 500 funcionários diretos. Hoje eu não tenho tudo isso, mas eu emprego muita gente.


Amigos políticos

O fazendeiro Betão sempre manteve seus negócios bem longe da política, mas enfatiza que tem amigos tanto no atual governo como na oposição. Sem papas na língua e sem medo de represálias, Betão diz que apoia o governador do Acre, Sebastião Viana, mas que não deixa de conversar com seu amigo Márcio Bittar. O pecuarista destaca que as forças políticas deveriam ser mais unidas devido o Estado ser pequeno.


ac24horas: O Betão é um cara que tem uma posição política ou amigos políticos?


Betão:Tenho amigos políticos. Eu não sou PT, eu não sou PMDB. Eu sou a favor dos políticos que fazem as coisas. Eu considero o atual governo do Acre um bom governo. Eu gosto do Tião. Não do partido dele, mas a maneira como ele faz as coisas, como ele age, como ele constrói, o quanto ele é humano. Eu acho ele humano não é de agora, mas conheço da época que ele era médico. Acho que a injustiça foi ele deixar de ser médico. Para mim, tinha que ter alguma coisa que proibisse os médicos de serem políticos. Num Estado pequeno como o nosso, seria bem melhor a união dessas forças. Acho que todos teriam que se unir para dar benefícios para as pessoas mais humildes.


ac24horas: Já que o Márcio é seu amigo e você gosta do trabalho do atual governo, como você ficou nessa última eleição?


Betão: Eu fui Tião nessa. O Marcio é meu amigo, gosto muito dele, mas eu fui Tião e ele sabia disso; Ele sabe que não votei nele, mas é meu amigo.


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ac24horas: Betão, qual é a saída para o Acre? Quando falo isso, falo em questão de investimento. Tanto que tudo o que você tem é investido aqui…


Betão: Tudo o que nós temos fica por aqui mesmo. Eu acho que a pecuária é a maior saída para o Acre; Tem algum Estado que tem a pecuária tão boa quanto a do Acre, mas melhor do que a do Acre não tem nenhum. Eu falo em questão de qualidade de carne e pasto. Não tem nenhum Estado que tem melhor condições do que o Acre para a Pecuária.


ac24horas: O fazendeiro é o grande vilão das derrubadas, das queimadas, das agressões ao meio ambiente?


Betão: Isso não é verdade. Ainda mais hoje, ninguém derruba mais , a legislação não permite. Antigamente nós tínhamos o direito de derrubar 50% da nossa área, ai caiu para derruba só 20% e nem isso tão derrubando mais.


ac24horas: Como você vê as pessoas que vendem a imagem do fazendeiro como um bandido, que escravizam pessoas, isso lhe incomoda?


Betão: Isso é puramente uma inverdade. Isso pode ter acontecido em outras épocas, mas não no meu tempo. As pessoas que acompanho trabalham corretamente. E já fui prejudicado por algumas questões, mas consegui provar que tudo não passava de mentira. Não existe trabalho escravo, não existe esse negócio de tomar terra de pobre. Eu mesmo não conheço nenhum caso desse aqui no Acre


ac24horas: Depois de toda essa história, qual é a importância do dinheiro para você?


Betão: Dinheiro é uma consequência da vida. É uma coisa necessária, mas não é tudo. Para você ser feliz, não precisa ter muito. Hoje eu sou mais centrado, não corro mais risco como antigamente. Quando você é novo, tem aquela vontade de ganhar, prosperar, vencer. Não que eu tenha perdido isso, mas eu tô numa fase mais tranquiloalbum2