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Lula e uma rapidinha na hora do almoço

Depois de 31 meses sem botar os pés no Acre, o presidente Lula resolveu dar uma rapidinha por aqui, como quem vai ao motel na hora do almoço. Ao evento compareceram autoridades, semiautoridades, ex-autoridades e subautoridades, além, é claro de uma claque transportada de alguns bairros periféricos. Como sempre acontece na versão Lula III, o lugar foi controlado com uma espécie de registro. Apenas os companheiros de carteirinha foram autorizados a ouvirem o “demiurgo” petista.


Lula veio inaugurar… nada. Mesmo com 31 meses no cargo em que foi empossado, ele não conseguiu fazer absolutamente nada que merecesse uma inauguraçãozinha. Nessa rapidinha ele veio prometer e, como sempre, falar e falar. Sua verborragia dos tempos de sindicalista não cessa jamais, Lula é uma espécie de mestre do picadeiro que se movimenta e fala ao gosto da freguesia ignara.


Segundo o noticiário, Lula prometeu algo superior a um bilhão em investimentos. O grosso dos recursos vão para a BR 364 (871 mi) e para energia elétrica (252 mi). De resto, ações rotineiras do INCRA e do MEC. Por experiência de muitos anos de janela vendo o teatro político, só acredito nesses 871 milhões para a BR quando o engenheiro Ricardo Araújo for substituído no DNIT por alguém mais “ligeiro” se é que me entendem. Enfim, promessas.


O resto da peroração foi gasto com o que ele mais gosta. Falar mal dos opositores e bem de si mesmo. Com as veias do pescoço a ponto de explodirem, garantiu que seus opositores são movidos pelo ódio que, obviamente, o PT não guarda por ninguém. Acusou deputados e senadores de traidores da pátria e defendeu na cara dura o sancionado violador de direitos humanos, Alexandre de Moraes. Na maior cara de pau pediu (entendi exigiu) que o senador Petecão não votasse pelo impeachment do ministro do Supremo. 


Num surto de autoelogio, Lula lembrou que nem D. Pedro II fez mais pelo Acre do que ele. Como se diz no meme que circula na internet, acertou, miserávi! É que o Acre só veio a existir bem depois que de D. Pedro II já havia se mandado do Brasil. Sem querer, Lula disse uma verdade, quando a intenção foi uma mentira.


A segunda estrela do evento, Jorge Viana, pré-candidato ao Senado, usou seu tempo para fazer coro ao presidente, esculhambando o Bolsonaro (nada agrada mais o Lula) e acenar com uma “união” momentânea dos políticos naquele momento. Segundo ele “Neste momento, de alguma maneira, o Acre se uniu para receber o senhor. Se uniu, e eu acho isso um gesto muito bonito, em um país dividido, onde um quer matar o outro”. Eu achei muito fofo, o Jorge abraçando o Gladson, mas, creio, os afagos não resistirão por muito tempo,


O governador Gladson Cameli discursou na mesma linha, chegando a dizer que Lula é “pai e avô para o Acre”. Em certo momento tascou: “O senhor é bom, presidente, porque assim, aqui o senhor está unindo esquerda e direita junto”. Talvez o governador se considere a “direita” acreana, o que seguramente não encontra correspondência nos fatos. Deu então, um passo além das pernas.


É aí que a coisa fica esquisita. Andei conversando com algumas pessoas que estavam no evento e com elas sou obrigado a concordar. Tem horas que a fleuma, e a civilidade esbarram, na verdade, e esta última tem que ser preservada. Essa historinha de união é conversa pra boi dormir e, como tal, será desmascarada. Ouvi, e concordo, que possivelmente, o Gladson com suas palavras melosas em elogio ao Lula tenha perdido alguns votos sem ganhar nenhum, já que a turma de lá vai votar unicamente no Jorge Viana. É que o afago ao Lula nesta quadra da vida brasileira, significa desapreço com o lado de cá. O antipetismo se mantém mais 222vivo do que nunca e detém, pelo menos, 70% do eleitorado acreano.


Jorge Viana sabe muito bem que nenhum dos adversários que ali estavam se dispõem a “união” nenhuma. Falou da boca pra fora para ensaboar o discurso. O processo eleitoral está vindo aí e as chuteiras estão sendo preparadas para o jogo bruto. Penso, com alguns que lá estavam, que o Gladson, com essa mania de gentileza com todo mundo, inclusive adversários públicos, com essa tendência à malemolência ideológica, com essa negação ao enfrentamento político, às vezes chuta pra trás. Talvez em alguns meses ele perceba, sofrendo na pele, a brutalidade do adversário. Bem fez o Bocalom que se ausentou. Seria vaiado e humilhado. O convite não passou de isca para que, desavisado, se submetesse ao escárnio. 


Causou estranheza que o MDB, que faz parte do governo federal não tivesse sido convidado. Há lideranças muito importantes no partido que talvez gostassem de estar presente nessa “união” de poucas horas. A bem da verdade, não sei se o MDB foi convidado, se não foi, ou se foi e resolveu não comparecer. De qualquer modo, penso que fez muito certo não dando as caras. 


Em resumo, o evento serviu mesmo para alimentar algumas expectativas em relação aos serviços de manutenção da BR que agora perceberam que foram mal-executados, dar um fôlego no INCRA que há tempos anda de lado, e turbinar o Luz para Todos que andava encalhado. Além disso, fazer um gesto de carinho ao Jorge Viana. Tudo em crédito sem data definida. Para uma rapidinha, é o que temos.


Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no  DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.


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