Rá-rá-rá-rá! Desculpaí, tá?! Tô rindo aqui, me lembrando de quando eu conheci o Edy Bastos. O Negoed.
Era um tempo de alegria. A gente era maisomeno jovem. Pela casa dos vinte e tantos anos de idade.
Nas efiemes tocava pagode e axé musique. A cidade e o país viviam os seus segundos momentos de liberdade.
Nosso dinheiro era igual ao dos norte-americanos. O real era equivalente ao dólar, mas, obviamente, como até hoje, para adquiri-lo era difícil para caráleo que só uma pô… há!
O cara, com seus metro e quase noventa, negro brilhoso, olhos esbugalhados e (segundo ele mesmo) “sedutores”, tinha seus parangolés (carioca que é) para angariar fundos e participar da paga de nosso aluguel.
Era repórter do SBT (Complexo de Comunicação Jornal e TV O Rio Branco), na versão acreana do noticioso sensacionalista “Aqui, Agora”, sob o comando de Roberto Vaz.
Eu tinha meus jeitos também, para comparecer com minha parte e ainda participar da feira. Tinha que guardar algum para o ingresso no pagode domingueiro da Casa do Samba e beber umeno uma cervejinha gelada.
Morávamos num apezinho que tinha dois quartos, um banheiro e uma sala que funcionava de cozinha. Geladeira não havia, tinha um fogão de duas bocas e uma pequena botija de gás mais um suporte para o galão d’água.
O diminuto ambiente social era areado por uma pequena janela, que dava para o corredor do condomínio, e mais outras umas em cada quarto nos aplacavam o calor e tiravam nossas catingas para fora.
Edy deu a ideia de irmos ao supermercado próximo (Uma mercearia) para adquirirmos o jantar daquele fim de dia. Beleza. Fomos nessa!
Negão entrou e pegou o único carrinho do estabelecimento e foi pegando, entre as prateleiras, produtos fundamentais para nossa subsistência.
Cheetos, pipoca, xarope de guaraná, fósforos, velas, garrafa de cachaça, limão, açúcar, fardinho de cerveja e um saco de gelo. Ah, sim! Tínhamos um isopor providencial.
– Pega copos descartáveis, daqueles mais durinhos, sabe?
Caminhando pela rua do “super”, na parte dos biscoitos Miragina, pensando em um delicioso “breakfast”, me aparece a belíssima funcionária. Pense na garota dos meus sonhos!
Parei na dela. A beleza da mulher acreana é espetacular.
Fiquei ali olhando para a moça linda que sorria. Todo meu sonho de felicidade estava ali, diante de mim. Pensei que deveria convidá-la para jantar, chamá-la para curtir o pagode da banda Sambrasil e sacodir o esqueleto depois da festa.
No milésimo minuto do segundo em que ela – creio eu – ia dizer sim, uma voz aveludada, cavernosa e mau cheirosa, surgiu no meu pedovido. Era o furaolho do Edy.
– Amor, que é que tu acha da gente levar ovo e linguiça?